Em tempo de Covid-19, infecções fúngicas preocupam especialista e Anvisa

Com o surgimento do risco de infecções fúngicas em pacientes internados com a Covid-19, em especial em países como a Índia, onde foram documentados cercas de 15 mil casos de Mucormicose, com a gravidade do problema, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou recentemente uma nota técnica alertando e orientando profissionais de saúde para possíveis novos casos no Brasil.

Até o momento, não há nenhum registro em Resende, na região ou no estado do Rio de Janeiro, mas o país já confirmou casos de Mucormicose nos estados do Amazonas, além de casos de Aspergilose Pulmonar em Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

– Apesar de raras, as infecções fúngicas precisam ser vigiadas, diagnosticadas e tratadas imediatamente para prevenção do agravamento do quadro de pacientes internados e por essa razão estamos impressionados positivamente com a atuação da Anvisa que rapidamente se manifestou recomendando e estabelecendo os protocolos de tratamento, incluindo diversas substâncias, para os casos detectados no Brasil – declara a gerente da empresa farmacêutica United Medical no país, Fernanda Bertasi.

As infecções causadas por fungos, no começo, se parecem e têm sintomas semelhantes aos das causadas por vírus ou bactérias, sendo tratadas inicialmente como tal. No entanto, elas se mostram mais persistentes e não costumam cessar mesmo após ciclos de tratamento com dois ou três tipos diferentes de antibióticos. Ambas as doenças citadas pioram o estado de saúde de pacientes acometidos pela Covid-19 e podem ser fatais em até 96% dos casos, se não tratadas adequadamente e no tempo correto.

Embora esta seja uma situação corriqueira na rotina dos profissionais de saúde, a persistência do quadro infeccioso deve ser vista como um sinal de alerta. Mesmo sendo consideradas doenças raras (qualquer patologia que afete até 65 pessoas em cada 100 mil indivíduos, de acordo com Organização Mundial da Saúde – OMS), em grupos específicos de pacientes, as infecções fúngicas possuem uma incidência relevante e são uma condição séria e debilitante.

“As infecções fúngicas são menos comuns do que as bacterianas. Na maioria das vezes estão associadas a pacientes imunocomprometidos, portadores de doenças como câncer, HIV, pacientes transplantados ou com o sistema imunológico debilitado por outra condição clínica. Como as doenças fúngicas são de alta mortalidade, o diagnóstico precoce e tratamento adequado são fundamentais e, por isso, o alerta para existência das infecções fúngicas se faz necessário” alerta o médico Paulo Rogério Winkler Vernaglia.

As infecções fúngicas possuem uma incidência relevante, sobretudo em pacientes cujo sistema imunológico está comprometido em virtude de outras condições clínicas, como é o caso de pacientes graves de Covid-19, fora pacientes soropositivos, transplantados, pessoas que passaram por cirurgias complexas, pacientes oncológicos submetidos a longos períodos de tratamento com quimioterapia e aqueles submetidos a várias linhas de antibioticoterapia e corticóides em ambiente de UTI.

ASPERGILOSE E MUCORMICOSE
A Aspergilose, é uma das infecções mais comuns causadas por fungos em ambiente hospitalar e é causada pelo fungo aspergillus, presente no ar. Os dados epidemiológicos dessa infecção no Brasil são escassos, ainda assim, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) estima algo em torno de 20 casos a cada 100.000 pacientes para a aspergilose invasiva, apresentação mais agressiva da infecção – quando o fungo se espalha rapidamente pelos pulmões e, por vezes, atinge até o cérebro, o coração, o fígado ou os rins pela corrente sanguínea.

– Quase 50% dos pacientes imunocomprometidos não respondem aos tratamentos atuais e 30% deles morrem dentro de 12 semanas do início do tratamento – completa Vernaglia.

A mucormicose, causada pelos fungos da ordem Mucorales, popularmente chamada por “Fungo Negro”, se espalhou pela Índia e já está preocupando outros países, como o Uruguai e até mesmo o Brasil. A doença costuma entrar pelo nariz e logo invade os vasos sanguíneos do rosto, criando manchas escuras por onde passa. Esse fungo pode causar infecções agressivas nos pulmões, em face (pelos seios nasais), cérebro, nos olhos e aparelho gastrointestinal. Em casos avançados, a doença pode ainda atingir múltiplos órgãos. Por conta disso, a mortalidade pela mucormicose pode evoluir de 35% a 96%, dependendo da severidade da infecção e do nível de imunocomprometimento do paciente.

SOBRE A NOTA da ANVISA
A Anvisa publicou a Nota Técnica no dia 14 de junho, que traz orientações para vigilância, identificação, prevenção e controle de infecções fúngicas invasivas em pacientes com Covid-19 internados em serviços de saúde.

Elaborado por especialistas no assunto, inclusive do Ministério da Saúde, o documento ressalta a importância da vigilância e do diagnóstico de coinfecção (contaminação simultânea) fúngica, permitindo o tratamento precoce e, consequentemente, prevenindo o agravamento do quadro clínico ou a morte do paciente.

Para isso, a publicação esclarece sobre o tema e orienta os laboratórios de microbiologia para a identificação de fungos. Também reforça a necessidade da adoção de medidas preventivas e recomenda o monitoramento dessas infecções por meio de ações de vigilância nos serviços.

Foto: Reprodução/Banco de Imagens

Você pode gostar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O limite de tempo está esgotado. Recarregue CAPTCHA.