Itatiaia 32 anos: Para morador, Penedo cresceu mais que município emancipado

Diego vive há 30 anos em localidade de Itatiaia que cresceu mais após emancipação (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Em 1º de junho de 1989, o município de Itatiaia oficializou sua emancipação de Resende. Inicialmente chamado de Campo Belo, recebeu seu atual nome no ano de 1943, em homenagem a serra que também dá nome ao Parque Nacional localizado em seu território. Depois de 32 anos, o município, que sempre teve vocação para o turismo e também conviveu com a chegada de indústrias ao mesmo tempo que a cidade-mãe, ainda sofre com falta de investimentos em alguns setores como a saúde, uma vez que conta apenas com um hospital público (e com atendimento precário) e outro mantido pelo Exército, voltado a tratamento de doenças psiquiátricas (Resende tem quatro hospitais, sendo um público, um filantrópico e dois privados).

Atualmente, esteve nas páginas dos jornais devido a eleição de prefeito anulada e aos escândalos dentro do atual secretariado, também noticiados pelo jornal BEIRA-RIO. No começo do ano, com a necessidade da realização de eleições suplementares, o que ainda não ocorreu devido a pandemia da Covid-19. Em abril, com a prisão de dois ex-secretários devido a suspeitas de fraude em contrato de licitação na área da saúde, e no mês seguinte com o caso da prisão da ex-secretária que teria utilizado recursos do município para mobiliar a própria casa.

O entrevistado da matéria especial de aniversário de Itatiaia promovida pelo jornal mora no município desde os 11 anos, quando se mudou de Volta Redonda para Penedo, uma das quatro regiões administrativas, e a que mais prosperou no setor turístico, hoje considerado a maior fonte de renda do município. Antes e há pouco tempo desempregado, o agora recepcionista Diego Alcir de Oliveira está prestes a começar a trabalhar em seu novo emprego, em um hotel, e fala sobre as dificuldades que já passou na vida, os problemas enfrentados na cidade e como ele vê a região onde mora, mesmo com essas dificuldades.

Segundo ele, além da natureza e a paz que a cidade ofertava, a simplicidade e segurança foi o que mais chamou a atenção, tanto dele como de seus pais. “Nasci em Resende, e passei uma pequena parte da minha infância em Volta Redonda. Logo depois viemos pra cá, desde os 11 anos de idade acredito eu, que meus pais decidiram vir pra Penedo, quando chegamos aqui tivemos a oportunidade de ver o crescimento e o desenvolvimento da colônia finlandesa”, relembra.

Os pais de Diego, na verdade, queriam um lugar pra criar e educar os filhos, que não tivesse a correria da cidade grande. Depois disso, apenas deixou Penedo após um breve período do primeiro casamento, e retornou. Hoje o recepcionista vive com os três filhos e a mulher do atual relacionamento, além de ajudar a mãe, que mora em uma residência próxima a casa dele, no bairro África I.

Mas os primeiros anos da família do recepcionista em Penedo não foram nada fáceis. “Quando viemos pra cá, no local que eu resido atualmente era muito difícil, não havia água encanada e a energia elétrica veio depois. Sou de origem bem humilde, porém a influência da cultura finlandesa era mais presente nos estabelecimentos e comércio, Penedo desenvolveu bastante na área econômica, nos tornamos referência em termos empregatícios, ter dois empregos era um ato comum dentre os munícipes”, recorda Diego.

Porém, o jovem conta que a falta de investimento do poder público e sabedoria para explorar os benefícios turísticos e culturais tornaram a vida dos moradores um tanto difícil. “Penedo cresceu, porém a administração pública não acompanhou seu crescimento, principalmente na área da saúde na qual hoje enfrentamos uma realidade, que há tempos já tinha lá atrás servido de alerta, hoje somos dependentes do sistema de saúde de Resende, mesmo sendo uma cidade tão rica”.

Assim como outras regiões turísticas de Itatiaia, Penedo também sofre com restrições da pandemia (Foto: Arquivo)

MAIS ERROS QUE ACERTOS
Atualmente, em relação ao desenvolvimento e ao cenário político de Itatiaia, o recepcionista vê muitos problemas, especialmente em relação aos escândalos políticos.

– Na minha opinião, os interesses particulares se sobrepuseram à realidade antiga e atual que atravessamos, tivemos mais erros que acertos. Quando nos isolamos por conta da pandemia, por termos uma rotina social e enconomica diferente da cidade de Resende; a Secretaria de Turismo tem menos potencial do que deveria, afinal é ela a grande geradora de empregos em uma cidade turística, como Itatiaia; nos tornamos notícia em rede de comunicação nacional por conta das pérolas e processos do poder público junto ao ministério, fora a secretária de Assistência Social, que foi pega com utensílios da prefeitura em casa… Decretos em meio a hotelaria (sem qualquer estudo) sobre como isso iria afetar a vida dos moradores, famílias carentes reféns de cestas básicas que estão só na promessa, falta de remédios na unidade básica (comprovada pelo próprio Ministério Público), enfim…

Atualmente, enquanto ainda aguardava o novo emprego, Diego fazia trabalhos extras. E mantém um canal nas redes sociais chamado Penedo City, onde vinha faturando mais com o turismo local do que agora, com o avanço da pandemia da Covid-19. “Penedo ficou refém de uma crise enorme, quando a pandemia veio, eu mesmo com o canal Penedo city oficial perdi várias parcerias, hoje estamos tentando recuperar aos poucos, os hotéis só podem reservar 50% de sua locação, tornando ainda mais difícil acesso as vagas de emprego. Hoje posso dizer que há um grande acervo ainda de desempregados em Itatiaia, que por um lado, é influenciado pela Covid-19, e por outro por uma empresa de ônibus sucateada, que impede muitos dos empresários de pegarem pessoas de Itatiaia ou Resende pra trabalhar”.

O canal Penedo City (que tem um grupo nas redes sociais) foi criado inicialmente para ser uma página de memes, mas o direcionamento de público mudou através de uma matéria sobre as questões da localidade. “Não tinha ideia de que alcançar tantas pessoas, hoje trabalhamos com indicações de pousadas, hóteis, marketing digital, e tivemos a ideia do programa Penedo ao Vivo, justamente pra falar sobre os temas mais comentados na cidade, dando mais voz aos bairros carentes, nos quais faço parte, fazemos também entrevistas com os artistas, que tem talento, mas não possuem visibilidade, procuramos promover a comunidade no qual vivemos e dividimos os problemas atuais”, cita.

Para Diego, a localidade fundada por finlandeses cresceu mais do que a própria região do Centro de Itatiaia nos 32 anos de emancipação. “Costumo dizer que é Penedo ‘city’ porque Penedo, na minha opinião, parece ser a cidade ao invés de Itatiaia, por conta dos shoppings, do comércio mais abrangente, e procura. Acho que Itatiaia ficou abandonada neste quesito”.

PARAÍSO NA JANELA DE CASA
Mesmo com todos os problemas que costuma presenciar em Itatiaia, e de morar em um bairro carente dentro da região de Penedo, ele considera que uma coisa não mudou no município. “E me fiz essa mesma pergunta (quando questionado pelo jornal sobre o que vê de positivo no município), quando vi minha mãe doente, eu desempregado, e literalmente tudo indo por água abaixo… Quando morávamos em um barraquinho de telhas, aqui neste mesmo bairro, por conta de situações difíceis passadas, minha mãe me disse que precisamos pontuar as ‘negativas’ da vida, mas lembre se sempre de abrir sua janela pela manhã… A nossa janela tem a Serra da Índia como fundo, uma paisagem linda, inspiradora, fantástica. Hoje eu entendo o que ela queria dizer, Itatiaia é um paraíso, mesmo passando por essas tempestades, isso porque eu ainda não tive tempo de explorar melhor o Parque Nacional”.

Diego também aproveita para enviar uma mensagem ao município que o acolheu no dia do aniversário. “Não há felicidade que perdure, nem solidão que se estenda… persevere o hoje, mesmo sem motivos suficientes pra comemorar o presente, porque o futuro só depende de nós…”, completa.

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