Lá vem o Brasil descendo a ladeira

Certo dia, o grande Moraes Moreira (foto) conversava com outro imenso artista baiano, João Gilberto e ouviu deste um comentário que viria abrir o caminho para um sucesso importante na iniciante carreira solo de Moraes. O mesmo João que anos antes fora fundamental para que uns jovens músicos, compositores e cantores consolidassem a identidade de um dos mais importantes grupos musicais que o país já teve, os ‘Novos Baianos’. Da janela do apartamento onde estavam, João Gilberto viu uma mulher descendo a ladeira do morro vizinho e comentou com uma imagem poética: ‘lá vem o Brasil descendo a ladeira’. O resto da história vocês já conhecem.

Quem me contou essa deliciosa passagem foi o meu amigo Luis Cláudio Hermógenes que é jornalista, professor universitário e um ardoroso fã de Moraes Moreira. Hermógenes me contou que viu o baiano pela primeira vez, num evento político-musical realizado na Praça Oliveira Botelho. Era um movimento em protesto pela instalação da INB em Resende. A ação não conseguiu mudar a intenção dos governantes. Vivíamos a ditadura militar. Mas sacramentou a admiração do meu amigo pelo músico e cantor baiano.

Entre as inúmeras notícias ruins que nos chegam diariamente nesses dias de isolamento, uma me tocou forte no início da semana que foi a morte de Moraes Moreira. Ele estava com 72 anos, e poucos dias antes divulgara uma bela criação de música em cordel. E tinha mais coisas prontas para lançar. Uma pena. Uma grande perda. Num momento pavoroso do país e do mundo. Mas o mundo, pelo menos, tem a sorte de não ser governado por um boçal. E lá vai o Brasil. Vai vendo.

O prefeito de Três Rios divulgou um comunicado feito pelo Ministério da Defesa aos municípios, nesta quinta, dia 16, solicitando aos chefes dos postos de recrutamento, com apoio das juntas de serviço militar, um levantamento de dados estatísticos referentes a quantidade de cemitérios, disponibilidades de sepultura e capacidade de sepultamentos diários em suas respectivas áreas. Subentendesse que a coisa vai piorar. Aí a gente vê na televisão o inominável mudar o ministro da saúde. Que também, não era lá essas coisas. Mandetta foi político e jogou para a arquibancada. Sempre agiu contra o SUS, foi contra os médicos cubanos e era favorável a saúde privada. Mas bastou pensar diferente do inominável para torcermos por ele. Mas que vantagem se até Witzel e Dória ficaram palatáveis! Valha-me Deus.

Agora entra um ministro mais técnico que político, que parece pensar como pensa o inominável (pensa?). O que é assustador. Fez um discurso maneiroso ao lado do ‘coiso’ que por sinal, parecia doente (Covid-19?). Mas um vídeo que rola nas redes sociais mostra que o sujeito, Nelson Teich (o ministério só tem gente estranha com nomes idem, na foto ao lado) parece ter ideais muito mais para um empresário neoliberal da saúde do que para um médico de verdade. Humanista já seria pedir demais, né?! Estamos mal. Só nos resta aguardar os próximos movimentos no tabuleiro político do país, enquanto percebemos outro movimento, este sim, já bastante inquietante. Parece que estamos despencando ladeira abaixo. Moraes Moreira, meu irmão, de você teremos saudades.

 

Estante

Livro: A Tragédia de Abril

É o romance que o professor e escritor Valmir Maia está lançando pela Editora Gramma. O livro está em fase de pré-venda e você pode adquiri-lo na livraria virtual da editora.

A trama ficcional é baseada em fatos ocorridos em Resende no fim do século XIX, mais precisamente em 1884, quando um fazendeiro e três de seus escravos morreram tragicamente, um acontecimento que mexeu com toda a região. Mesmo se tratando de uma ficção, podemos encontrar, no Arquivo Histórico de Resende, muitas fontes que comprovam esse evento. Com uma linguagem simples e direta, o livro alcança  leitores de todas as áreas, além do público acadêmico.

Foto: Reprodução/Wikipedia (Moraes) e Reprodução/TV Brasil (Teich)

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