Dois anos depois, o tratamento aos deficientes segue a mesma coisa em Resende

Talita reclama da falta de cuidadores para todos os deficientes em Resende (Foto: Arquivo de Família)

No ano de 2018, o jornal BEIRA-RIO entrevistou duas mães, uma de criança com a Síndrome de Down e outra de uma criança autista, denunciando o descaso no atendimento do poder público municipal às pessoas com deficiência em Resende. Quase dois meses depois, pouco ou nada mudou nesse tratamento. Dessa vez, outras duas mães, uma de criança com Down e outra de um jovem com Asperger, procuraram a sede do jornal para fazer novas reclamações. E sobrou até para um perfil fake.

Em sua conta nas redes sociais, a artesã Talita Rios desabafou há duas semanas nas redes sociais com um questionamento contra o prefeito Diogo Balieiro. “Bom dia! Onde pode chegar o desespero de alguém com medo de apenas uma jovem Mãe? Meu Deus! Sou Talita Rios,mãe de 3 meninos e um deles tem síndrome de down. Queria saber onde o prefeito me deu um fora? Onde meu filho teve privilégios nessa cidade, se tudo que ele tem que é quase nada eu tive que brigar?”, disse.

Segundo Talita, quando Balieiro assumiu a prefeitura ela chegou a pedir uma cuidadora para o filho Thalyson, de 11 anos, poder frequentar a escola. Ele está matriculado no Colégio Municipal Getúlio Vargas e está no quinto ano do Ensino Fundamental, mas durante dois anos o menino ficou fora da escola por falta de cuidadoras

– Passou um tempo, tiraram a cuidadora do meu filho e eu corri para o Cemae (Centro Municipal de Atendimento Educacional Especializado) para saber o porquê de terem tirado. Sabendo o histórico dele, pois não tinha frequentado a escola, eles disseram que existe prioridade da prioridade, e que outra criança precisava mais que ele. Então resolvi que não levaria meu filho mais para escola enquanto não tivesse uma cuidadora concursada! Cheguei a falar para o Maurício Fonseca (funcionário da Ouvidoria) que eu havia arrumado 50 mães para entrar com uma ação no Ministério Público, na mesma hora ele quis resolver a situação, me encaminhou para alguém do cemae e por mágica, dois dias depois chegou a cuidadora!

Na semana passada, o filho de Talita teve problemas de saúde, e nem na hora que mais precisava de um atendimento o menino teve sua prioridade respeitada. “Na semana passada, eu e meu filho ficamos um tempão esperando pelo atendiento, pois haviam umas sete crianças para serem atendidas na frente. Sendo que todas elas estavam brincando e se distraindo (e não pareciam ter deficiência) enquanto meu filho estava deitado nos bancos e sentindo dores na barriga. E pra piorar, tivemos que esperar por mais um tempo depois que os exames foram solicitados pro meu filho”, lamentou.

Bruna revela que filho não teve tratamento adequado dentro da escola (Foto: Arquivo de Família)

Como não bastassem as dificuldades enfrentadas para conseguir um atendimento digno para Thalyson, a mãe recebeu mensagens de um perfil que a criticava, alegando que ela tinha privilégios por causa do filho. “Agora fake vir me acusar de meu filho ter privilégio que nem eu vejo é fácil! Estou no aguardo para saber quais privilégios meu filho tem aqui em Resende! Quero que mostrem a todos os privilégios que meu filho tem nessa cidade que até hoje eu não vi!”, alfineta Talita.

Ainda que tenha demorado a ser atendida pelo poder público, a artesã revela ter inicialmente ficado grata, mas pouco tempo depois se decepcionou quando tomou conhecimento que outras mães passam pelo mesmo problema. “Quando o prefeito mandou a cuidadora para o meu filho eu me senti grata a ele, sem saber que era um direito do meu filho. Depois me senti uma miserável por conhecer outras mães que lutam até hoje por um cuidador para o filho. Resolvi me juntar a elas, resolvi defender para que os direitos de todos sejam exercidos de forma igual!”

Entrega de ônibus do Gente Eficiente pela prefeitura foi um dos questionamentos por parte das mães (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

JOVEM ASPERGER FREQUENTA APENAS O GENTE EFICIENTE
Uma das mães que se uniram para lutar pelos direitos de seus filhos deficientes ao lado de Talita é a dona de casa Bruna Diniz. Mãe do jovem Lucas, de 19 anos, ela relata que o filho – que é Asperger – apenas consegue ler e escrever, e não gosta de estudar. Ele estudou até o sétimo ano do Ensino Fundamental no Ciep 489 (da Cidade Alegria), mas hoje quer distância da escola. “Ele nunca teve o tratamento adequado em sala de aula, apenas dois professores, um de Inglês e um de História, adaptavam o conteúdo dado em sala de aula para as necessidades do Lucas. Ele também foi alvo de bullying dos próprios colegas, e por isso não quer mais voltar pra escola, só frequenta o Gente Eficiente (programa mantido pela prefeitura voltado ao desenvolvimento das pessoas com deficiências do município). Mesmo conseguindo passar e chegar ao sétimo ano, o nível de aprendizado dele é equivalente ao de uma criança do primeiro ano”.

Além de ter o aprendizado prejudicado por não ter seu tipo de deficiência respeitado, por pouco o jovem não teve sua mobilidade comprometida pela demora no atendimento para fazer uma cirurgia de correção de uma escoliose e uma cifose. “Há três anos consegui a cirurgia para a coluna do meu filho, mas isso só foi possível porque consegui fazer um plano de saúde para ele. Se dependesse do SUS, não teria feito até hoje e talvez não conseguisse andar mais”, conta Bruna.

Dentro do Gente Eficiente, Lucas é um dos participantes da fanfarra mantida pelo programa. A mãe tem acompanhado de perto o trabalho, e também critica a postura da Prefeitura de Resende com o programa. “A prefeitura só manda R$ 3 mil por ano para as despesas. É muito pouco! Tudo que foi conquistado para o Gente Eficiente foi fruto dos esforços de pessoas que trabalham pela regularidade no funcionamento do programa. A prefeitura apenas entregou e assinou o documento para que o programa se beneficiasse de um ônibus doado por uma fábrica da região, conquistado graças a um projeto da Zuleica (Fiorentino, coordenadora do Gente Eficiente). Tanto que o promotor de justiça daqui disse que o programa é referência no estado”, finaliza.

As mães questionam a forma que o ônibus foi entregue, no ano passado. Em seu post nas redes sociais, na época em que o veículo ainda se encontrava sem o emplacamento no pátio do Centro Administrativo da prefeitura, outra mãe que tem um filho autista atendido pelo município postou o seguinte: “Onde está o ônibus doado ao projeto Gente Eficiente???? Por que ele não foi entregue de fato??? Será que para servir de obra eleitoreira pois a Campanha Eleitoral já começou??”, completou, na ocasião.

O jornal entrou em contato com a Prefeitura de Resende, que até o momento não respondeu aos questionamentos.

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