História de novela

Fugiu porque necessitava. Agora estava no meio do mato. O dia amanhecendo e ele sem saber se o que sentia era frio ou calor. Estava ali, entretanto já podia estar mais longe. Não fora por causa da preocupação com os pais e a noiva que ficaram no vilarejo. A faca usada contra o filho do fazendeiro viera com ele. Todos o procuravam. Capangas ilegais com armas ilegais, policiais legais com armas legais, pessoas de bem e oportunistas que precisavam de um favor dos ricos. “Dou recompensa graúda a quem trouxer informação do paradeiro do sujeito.” Disse o fazendeiro no meio da praça.

Ficar ali não tinha valia. Era fugir para longe ou voltar ao vilarejo. A mãe não suportaria vê-lo sendo castigado brutal e injustamente. No entanto o medo de que lhe maltratassem a mãe era muito pesado para ser carregado por tanto tempo.

O filho do homem, pelo nome que tinha, se sentiu no direito de espreitar minha noiva. Dei uma só embaixo do umbigo. História de novela lhe diriam quando contasse o caso em cidade distante. Em pouco tempo ouviria os latidos dos cães farejadores a frente dos capangas. A polícia viria atrás, sem vontade alguma.

Sequer tinha um revólver. Deviam ter uns trinta homens no seu encalço.

Resolveu seguir por um caminho perpendicular, contornar a mata e chegar ao vilarejo. Foi desesperado, assustado, tropeçando em troncos, escorregando em folhas. Mundo injusto! Disse em voz alta. Não chorou porque não tinha tempo. Ouviu ruídos na mata. Aproximaram-se dele. Houve um tiro. Ele caiu.

Caiu da rede onde dormia depois do almoço. O tiro fora o cabeção de nego que os meninos estouraram em frente ao portão da sua casa.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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