Zoocrônica da vez

Meio do dia na floresta. Os bichos em polvorosa. Uma gritaria, um descontentamento e muitas, mas muitas suposições. Afinal, quem teria arrancado o cacho de bananas ouro maduras? É que os Macacos Prego dariam uma festa para eles mesmos. E agora o fuzuê estava armado.

Chamaram o Leão e exigiram averiguação. Ele veio no seu terno alinhado, a juba penteada. Mandou que meia dúzia de Cabritos trouxesse duas cadeiras e uma mesa. Tucanos vieram dizer que a gazeta das Maritacas noticiava que o Elefante era o culpado. Aí pronto, o Leão enviou uma matilha inteira de Cães para forçar o corpanzil do mamífero a se mover. Não posso ir mais rápido que isso, disse o bichão e completou, por favor, não sejam deselegantes.

Demorou dois dias. Tempo suficiente para o Leão comer duas Zebras, quatro Gazelas, três Raposas, seis Cobras e três Micos Leões dourados. A bicharada estava em pânico de tanto arrependimento, mas, graças a Deus, começou o depoimento.

– Sr. Elefante, quero saber se o Sr. comeu o cacho de bananas ouro maduras dos Macacos Prego? – Perguntou o Leão, ao que o Elefante respondeu: Eu não comi, o Sr. sabe disso. Quem sabe das bananas são os Macacos. Eles é que comem bananas.

– Mas o Sr. Também come bananas. – Inquiriu ainda o Leão.

– Sim. – Respondeu o Elefante já entediado e com a buzanfa quadrada.

– É que encontramos essa casca de banana ouro madura debaixo de uma árvore, onde possivelmente, o Sr. dormiu… Um dia…

O Elefante se inclinou para olhar a tal casca e antes que dissesse não haver qualquer marca de sua pata na suposta prova cochichou ao Leão: Peça para ir ao banheiro e passe um fio dental nas presas, há pelos de Zebra, Gazela, Raposa, escamas de Cobra e até um fiapo dourado… Mico Leão não dá doutor, tá em extinção.

Aproveitaram para encerrar a sessão. Logo os Cabritos recolheram as cadeiras e a mesa. As Maritacas falavam mal do Leão, mas ainda entre os dentes.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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