As mortes dos meus computadores

Hoje eu escrevo usando caneta e papel. Não por romantismo ou charme. É que meus dois computadores faleceram ao longo desta fúnebre semana. O netbook foi, aos poucos, se degenerando, vitimado pela nefasta síndrome do botão que não liga. Ah, como era doloroso para a máquina! Minutos, por vezes horas, eu apertando o botão na esperança de ver acesa a luz do on; a luz da consciência, do ser, da alma do computador.

Demorava, mas ele sempre respondia, ainda que depois de longas sessões pressionando o botão ora com força, ora com afeto; ora mais para o lado direito, ora mais para o esquerdo. Tantas vezes me peguei falando com o notbook como quem fala com um amigo em coma na esperança de que ele ouça, acorde e responda. Infelizmente, essa semana, a luz não mais se acendeu. Acho que ele se foi para sempre. Foi assim que entendi quando o técnico me disse: Esse não vale mais a pena.

Não demorou e também o desktop saiu dessa para outra, não sei se melhor. Foi no começo de uma tarde. Fiquei atordoado. O que iria fazer agora? Pensei. Era uma tarde corriqueira e de repente ele se foi. Falência múltipla dos componentes: hardwares e softwares todos pararam de funcionar. Era difícil até olhar para a máquina. O mouse morto, o teclado sem uma palavra, o processador já cheirando mal. O técnico não pode ajudar. Apenas constatou que o computador já era muito velho, além de acentuar que no mercado havia excelentes modelos com boa relação entre custo e benefício.

Confesso que o achei insensível como um agente funerário. Entretanto, como há males que vem para bem, ele aceitou levar consigo as duas carcaças sem qualquer constrangimento.

Perdi os computadores. Por isso, hoje escrevo segurando caneta e papel, sem romantismo ou charme.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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