Meu ipê amarelo

Meu ipê amarelo! Tanto tempo o procurei! E foi justamente num canteiro do horto municipal onde nos olhamos pela primeira vez. Era ainda pequeno; folhas tímidas e tronco fino que mais parecia galho. Resolvi leva-lo comigo. Fiz cova na frente da casa que ainda estava sendo erguida e acomodei a planta vislumbrando árvore robusta toda amarela e gente querendo fotografar e me fazendo dormir e acordar com a janela aberta durante alguns dias do ano para não perder um instante sequer de sua amarelescência.

Mas vejam vocês como a natureza tem segredos e o homem moderno é previsível e insensível. Passaram-se três anos e o ipê cresceu poucos centímetros. E não foi por falta de água no inverno seco, tampouco por falta de adubo ou atenção desse jardineiro. Veio mais uma época de floração dos ipês e ele até perdeu as folhas – como todos os da sua espécie – entretanto, flor nada.

E foi assim que num momento de inveja, insensibilidade e desespero pensei em ir a um horto privado. Comprar uma muda grande de ipê amarelo e fazer a substituição. Poria o ipê pequeno na praça do bairro. Deixando-o assim entregue a própria sorte. Sujeito a boladas e securas invernais.

Creio que a planta ouviu meus pensamentos impiedosos e em dois dias fez pipocar folhas novas, de um verde tão claro e esplêndido que por um triz não digo que seja amarelo. A planta se envolveu ganhando um aspecto majestoso. No seu alto as folhinhas novas formam linda copa convexa e na base do tronco algo de pujante agora lhe garante respeito.

Acho que entendi: É que as plantas falam. E certas vezes ainda nos calam.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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