Privilégio de anunciar o primeiro medalhista brasileiro no Rio

marcelo2Há 10 anos, o jornalista e professor resendense Marcelo Almeida era chamado pela Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE) para trabalhar durante um das edições da Copa do Mundo de Tiro Esportivo, na sede da Aman, e sucessivamente nos Jogos Panamericanos de 2007, no Rio, e em mais duas edições da Copa do Mundo (2008 e 2016).

– Na verdade, fui indicado, uma vez que já havia trabalhado para a CBTE, em 2006, em Resende, na Copa do Mundo – maior evento esportivo já realizado na região Sul Fluminense – com a participação de 353 atletas de cerca de 50 países ao longo de 11 dias. Fui, portanto, contratado pelo Comitê Rio-2016 para atuar nas Olimpíadas e Paralimpíadas – conta Marcelo.

Entre ensaios e um workshop para apresentadores e produtores de diversas modalidades, a participação de Marcelo nos Jogos Olímpicos começou no dia 1º de agosto e se estendeu até dia 14 do mesmo mês. E foi exatamente nesse período, que o resendense teve o privilégio de anunciar o brasileiro Felipe Wu (na foto, com a medalha, ao lado de Marcelo) como o primeiro medalhista do país na última edição dos Jogos. Ele conta como foi a experiência.

– Tudo é muito frenético. Erros são inadmissíveis. Uma pressão bárbara. Você chega ao palco do evento, e se depara ao redor com uma infinidade de repórteres, fotógrafos e a luz intensa das câmeras. E percebe que as atenções de todo o mundo por um instante estão inteiramente concentradas ali. A manhã daquele 6 de agosto de 2016 jamais se apagará da minha mente.

O resendense descreveu mais detalhes da primeira prova de Wu na competição. “Afinal, era a primeiríssima medalha das Olimpíadas. Não é todo dia que está diante de ti a pouquíssimos metros o Ban Ki-moon, secretário geral da ONU. E horas depois, ainda veio aquele turbilhão da torcida brasileira berrando ‘Wu, Wu, Wu’, batendo os pés nas arquibancadas numa catarse como torcedores de qualquer outra modalidade menos de tiro esportivo. Nunca em momento algum na história houve tamanha ovação em uma final de tiro por parte de uma torcida. Os gringos piraram”.

Marcelo confessa que se emocionou no evento, uma vez que relembrou a participação do atleta brasileiro na primeira competição da qual trabalhou como tradutor. “O tiro teve a sua tarde de Maracanã. A forma pela qual a final se definiu contra o vietnamita foi arrebatadora. Não contive o choro depois. Minha mente revisitou o Felipe Wu, ainda um adolescente, na Aman, há 10 anos, quando anunciei diversas medalhas que ele ganhou na época no Sulamericano. E a trajetória dele é linda”, responde.

ANUNCIANDO O ATLETA BRASILEIRO
O protocolo olímpico (e paralímpico) de apresentação da cerimônia de premiação, durante todos os Jogos, é apresentado em termos de idiomas primeiro em francês (idioma materno do criador do Jogos da Era Moderna), e posteriormente em inglês (idioma universal) e português (idioma oficial do país-sede). O anúncio dos vencedores em geral é feito em inglês. Mas houve uma exceção por Wu ter conquistado a medalha de prata para o Brasil.

– Como havia um brasileiro ali medalhista de prata, a produtora do tiro, Flávia Rossi, me perguntou se eu gostaria de anunciar o nome do Wu. No que eu prontamente topei.

O resendense aproveita para falar mais sobre o medalhista, com quem teve a oportunidade de ter um breve encontro. “O Felipe tem uma personalidade um pouco introspectiva; o que jamais deve ser confundido com falta de gentileza. As pessoas têm a mania de querer impôr um padrão de comportamento ao atleta. Aceitem o cara do jeito que ele é e ponto final. Logo depois da conquista, pude tirar uma foto com ele. Apenas lhe dei os parabéns”.

Para Marcelo, o jovem atleta ainda pode brilhar em futuras competições. “Aos 24 anos, ele tem pelo menos umas seis Olimpíadas pela frente já que no tiro esportivo o peso da idade não é tão essencial quanto nos demais esportes. O fato de ser o atual líder no ranking mundial da pistola de ar 10 metros(competição disputada por ele nesse dia) também o credencia para futuros triunfos. A façanha dele de ganhar uma medalha no tiro esportivo depois de 96 anos das proezas de Guilherme Paraense e Afrânio da Costa torna esta conquista ainda mais inestimável e única”, avalia.

MAIS TIRO ESPORTIVO NAS PARALIMPÍADAS
Com a participação encerrada nas Olimpíadas, Marcelo resolveu aproveitar o intervalo entre esses jogos e as Paralimpíadas para descansar e rever os familiares no Brasil. “Precisava me retirar do frenesi do Rio para recarregar as energias. Não atuei apenas como apresentador, mas também como tradutor-intérprete, entrevistador e animador do público. É preciso preparação e estudo”.

Ele aproveitou para viajar a Curitiba, com o intuito de visitar parentes e curtir – mesmo que à distância – o nascimento do terceiro filho, que nasceu na Flórida. Em seguida, volta as atenções para os Jogos Paralímpicos, que começam em 7 de setembro. E o esforço será um pouco menor, já que Marcelo trabalhará em apenas 12 finais, contra 15 nas Olimpíadas, incluindo provas de pistola e carabina de acordo com os respectivos graus de deficiências dos atletas.

– O Brasil jamais conquistou uma medalha no tiro esportivo em Jogos Paralímpicos, mas a nossa esperança está em um atleta basicamente: o atual líder do ranking da pistola standard mista, Gustavo Rosenthal. Débora Campos e Alexandre Galgani correm por fora, mas podem surpreender. Quem sabe se inspirado no tiro das Olimpíadas, o Rosenthal nos agracie com um medalha inédita e eu terei a honra de mais uma vez anunciar esse feito? – aposta Marcelo.

Marcelo mora nos Estados Unidos desde o mês de maio, onde atua como professor de inglês em aulas virtuais e presenciais, e é correspondente de duas revistas brasileiras na Flórida. “Já tive que voltar para as Olimpíadas e Paralimpíadas pois já havia assinado contrato com o Comitê Rio-2016. Mas antes de vir pro Brasil, comecei a me enveredar também pelo empreendedorismo identificando frentes de investimento para empresários brasileiros”, conclui.

Confira também: Resendense avalia Jogos Olímpicos da Rio-2016

Fotos: Divulgação

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