Mídia hegemônica, cada vez mais na lixeira

Retomando meu binóculo sobre os cenários políticos aqui neste espaço, eis que tropeço numa coincidência que até ganha ares simbólicos. Escrevo no 7 de abril. Dia do jornalista. Eu nem lembrava. O assunto que resolvi abordar tem tudo a ver com o jornalismo. Com jornalismo e mais alguma coisa. Vamos lá.

Na semana passada uma saraivada de notícias perturbadoras sacudiu nosso cotidiano. Aqui me atenho a uma que vem se tornando corriqueira. Foi desbaratado mais um núcleo de trabalho escravo no país. Uma realidade que parecia escondida sob o tapete. Mas meu foco não é exatamente sobre o fato e, sim, para um desdobramento que ocorreu segunda-feira, dia 3. A rede de TV CNN incorporou ao seu quadro de jornalistas, analistas e seu lá o quê, a pavorosa advogada, professora de direito e ex-deputada, Janaína Pascoal.

Quem conhece a peça não foi surpreendido por sua postura de tentar minimizar e, na gíria comum, “passar o pano” no ocorrido. E até insinuando que as ações do Ministério Público e da Polícia Federal teriam a ver com o governo Lula, e que estariam, sim, buscando justificativas para invasões de terra e outras baboseiras. A CNN Brasil não é lá essas coisas, embora tenha em seus quadros alguns (poucos) jornalistas sérios. Uns até se opuseram ao discurso descabido da Pascoal.

Dizer que a chamada mídia hegemônica tem seu lado é chover no molhado. E isso não é o pior dos mundos. E quando a CNN – que não é muito diferente das demais – abre espaço para uma porta-voz do que existe de pior, mais degradante e vil na política ideológica, em troca de alguns pontos de audiência, isso fica mais que evidente. A informação e a reflexão cedem lugar aos interesses pessoais e políticos dos empresários da comunicação.

Hoje não sou mais jornalista. Mas trabalhei em meios de comunicação por quase quarenta anos. Tive patrões pequenos, médios e grandes. Todos com algo em comum: mais sangue empresarial do que jornalismo correndo nas veias.

Os pequenos (que conheci de perto), almejavam viver do seu negócio e escolhiam seu lado na política paroquial, geralmente junto a quem estivesse no poder. Os médios (que via, uma vez ou outra) com seus surtos megalômanos queriam mostrar ao Poder que poderiam, sim, ser aliados imprescindíveis. Por fim, os grandes (que igual ao caviar do Zeca, nunca vi, só escutei falar) que se consideram aliados, ombro a ombro, com os donos do país. Jornalismo mesmo, passa longe dos patrões.

Iniciei minha carreira na então chamada imprensa nanica, nos tempos da ditadura militar. Os donos se confundiam com redatores e repórteres guerreiros ou, eram eles próprios. Essa formação me fez um cara meio cético ao ofício regular. No jornal Beira-Rio senti essa brisa saudável da busca pela autonomia, de ser uma força viva no meio social. Claro que todos temos um lado, não existe neutralidade na profissão. A diferença é o lado escolhido. Janaína Pascoal e a grande mídia estão no mesmo lado. E não é o nosso.

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