Não gritei sozinha. Comigo cerca de 5 mil pessoas seguiram pela Esplanada dos Ministérios até o Congresso e lá, os carros de som e toda aquela gente em uníssono sabia bem o que ali estava fazendo. Além do “Fora Cunha” a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), motivo pelo qual tenho trabalhado nos últimos três anos como conselheira de saúde em Resende, mobilizou representantes de todos os estados brasileiros e que, durante quatro dias, estiveram reunidos na 15ª Conferência Municipal de Saúde ratificando diretrizes e propostas que foram debatidas em praticamente todos os municípios brasileiros neste ano de 2015.
Da gestão do SUS ao controle social, sem esquecer do financiamento da saúde e da valorização do profissional discutimos de tudo um pouco, inclusive a democratização das comunicações tão necessária para esta – e tantas outras – políticas públicas. Num primeiro momento alguém pode ser perguntar o que tem a comunicação do Brasil a ver com o SUS. E esta pergunta é válida e legitimidade do questionamento é a própria resposta. Se alguém tem dúvida sobre esta relação é porque a maneira que recebemos informações sobre o SUS está muito errada. Como assim? Eu explico.
O que você vê na Globo nem sempre tem a ver. Citei a Globo, mas na verdade todos os grandes veículos de comunicação no Brasil, partes de um conglomerado monopolista, são o que temos de mais negativo quando se trata de divulgar, informar as políticas públicas deste país. E sabe porquê? Essa é fácil. Exatamente porque são públicas. Essa palavra “públicas” é quase um palavrão para os poderosos da mídia e a razão não é simplista. Não é possível tratar apenas como uma ameaça de possível perda de receita de anunciantes. Estes veículos de comunicação, muitas vezes, mantêm em suas frentes de atuação um leque de negócios que pode surpreender os menos informados.
Esses negócios incluem os planos de saúde, assunto protagonista deste artigo, pois muitas empresas de planos de saúde são, ops, eram (?) patrocinadoras das campanhas eleitorais de boa parte dos deputados. Alguns destes deputados, donos e/ou sócios de emissoras de TV têm muito mais a perder do que os anúncios de seus veículos de comunicação, lembrando que os principais veículos são frutos de concessão pública e portanto, não deveriam ser submetidos a esta linha capitalista cujo atendimento, acreditem, não é para a maioria da população. O povo que se dane e gaste dinheiro fazendo planos de saúde quando este direito é garantia constitucional.
O SUS não presta? Onde você se informa sobre o SUS para chegar a esta conclusão? Pense nisso! Uma pessoa muito rica com mais de um plano de saúde privado, mas que por infelicidade se acidenta numa Dutra, na altura de Resende, por exemplo, para onde é levada esta vítima? Sim. Hospital de Emergência é a resposta certa. SUS é a resposta certa. Atendimento público é a resposta certa. Luciano Huck cai de avião com a família e é socorrido pelo Samu, ou seja, olha o SUS aí novamente. O que a gente ouve e assiste é sempre desesperador. É a desconstrução de um dos melhores projetos de atendimento à saúde do mundo.
Infelizmente além da mídia tem os deputados que viraram lobistas dos interesses privados de mercantilização da saúde, entre eles, a praga que ainda preside o Congresso – falta pouco – deputado Eduardo Cunha que em seu ato derradeiro resolveu assinar o aceite do pedido de impeachment da presidenta Dilma. Mostrou para os que ainda tinham dúvidas quem realmente é. Não teve êxito em sua barganha agiu com o poder que ainda lhe é conferido. Sobre a situação de Dilma, acho interessante que esse pedido desdobre logo numa resolução, afinal tentaram impedir a eleição de Dilma, depois que ela tomasse posse e desde então dificultaram seu governo. Tá na hora de sepultar esse fantasma de ter ou não ter impeachment e seguir em frente. Pois em 2018 temos mais uma luta.
Seguimos na luta, em especial, pelos direitos da população na saúde deste país. Estou escrevendo este artigo e a 15ª Conferência Nacional de Saúde ainda não terminou, mas meus aprendizado e sensibilidade cresceram significativamente. Estou à disposição para multiplicar o que aprendi. E vamos que vamos porque a luta é grande e só para não perder o costume: Fora Cunha!
Ana Lúcia
Editora do jornal BEIRA-RIO
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