Apesar do título deste artigo, as linhas que se seguem, na verdade, serão mais para homenagear os que de alguma forma colaboraram para que caíssem as máscaras dos que se achavam donos da cidade de Resende; dos que arrotavam pelas esquinas – porque para ficar nas esquinas contando bravatas eles são bons – seus feitos e relações de poder. Alguns ainda, mas agora desesperados, andam com documentos embaixo do braço ou com argumentos que desqualificam terceiros para justificar seus erros, e ainda, alguns que tentam transparecer que tudo está normal como antes. Não. Não está! Mas são como animais selvagens feridos. Estão acuados e a reação é o ataque e mostrar os dentes numa tentativa de evitar investidas externas. Compreensível.
Agora, os anônimos responsáveis pelo desenrolar desse novelo sujo, que foi a operação que revelou, segundo o Ministério Pública, uma verdadeira organização criminosa, e de abuso do dinheiro público merecem não apenas nosso respeito, mas nossa admiração por terem, apesar das ameaças que sofreram e terem sido excluídos, muitas vezes, das relações de trabalho dentro da Câmara Municipal de Resende mantiveram-se com retidão, com postura de quem realmente entende o que é respeito à coisa pública. Conhecendo aos poucos o processo que ainda circula em segredo de Justiça, mas que aqui e acolá quando chegam aos advogados dos réus ganha publicidade, notamos que não houve exagero na referência do promotor em nominar o grupo acusado de “organização criminosa”. Por isso, esses anônimos que se sentiram encorajados em detalhar o que era perceptível sem dúvida merecem aplausos.
Todas as ações do grupo acusado de fraudar licitações na Câmara de Resende apontadas pelo MP foram apontadas em 2013 pelas redes sociais e/ou notinhas do jornal BEIRA-RIO. E muitos desses alertas chamavam atenção do presidente da Casa Legislativa, mas que bom que pelo menos chamou atenção de outras pessoas e de funcionários que não se intimidaram ao formalizar a denúncia ou confirmar as informações e que, por fim, revelam ações nefastas à consolidação das políticas republicanas entre elas, o reparte, quando não de dinheiro, de vantagens, para amigos e cabos eleitorais que acabam empregados, quando não na Prefeitura, onde está maioria de apadrinhados, na própria Câmara. E aí, é mais do que natural que aqueles que estudaram, prestaram concurso, foram admitidos por sua competência e entendimento de contribuição à vida pública de um município e que sofrem o escárnio dos que fazem questão de se mostrar poderosos para “sangrar” (palavra tamém usada no relatório do MP) o erário público se manifestem.
A vocês que cumpriram o papel de agente público, republicano o nosso muito obrigado. Vocês foram responsáveis pela quebra de uma hegemonia hipócrita de reverência à algumas famílias chamadas “tradicionais” e “reconhecidas”, entre elas, famílias com vínculos militares que sempre tentaram dominar Resende sob o discurso da moralidade. Agora, como no reino das águas claras, toda a população enxerga quem são os sanguessugas que tentavam se vestir de príncipes escamados. Agradecemos a vocês, denunciantes e testemunhas que conseguiram romper com este ciclo sujo, vil, mentiroso e usurpador de pessoas que há alguns anos se perpetuam no poder. E claro, e vocês sabem, que tudo isso está apenas começando. Sim. Porque a ação na Justiça se arrastará por algum tempo, outras denúncias aparecerão, afinal, há o efeito dominó nessas situações, e vocês testemunhas precisarão se manter firme e sabemos que isso não é fácil. Porque apesar das medidas como prisão, sabemos que este instrumento para quem tem dinheiro e pode pagar bons advogados, e ele têm, alguns foram presos, mas outros continuarão soltos. Alguns presos serão soltos e os que nem figuram do processo, mas compartilham dessa corja que acredita que pode sapatear sobre as necessidades da população para comprar seus apartamentos nos Estados Unidos, ter quatro a cinco carros na garagem, viagens internacionais pelo menos quatro vezes ao ano enquanto a população não tem remédios nem exames, o caos no trânsito cada dia mais fazendo vítimas, a violência grassa e o Executivo debocha no mesmo nível porque sabe que não tem um Legislativo que fará seu papel porque a preocupação, na verdade, nunca foi o interesse público, nunca tiveram e dificilmente conseguirão entender o sentido republicano no exercício parlamentar. Enfim, apesar do espaço que esse nefasto grupo ainda ocupa, vocês testemunhas, denunciantes são sem dúvida o que de melhor apareceu nessa Resende em todos os tempos.
O Comitê pela Transparência e Controle Social de Resende do qual faço parte e que também tem contribuído muitos, nestes últimos três anos, desde que foi criado, te tenho certeza que posso falar em nome de todos os associados, também vem publicamente agradecer a coragem, a determinação e o espírito público dessas pessoas que literalmente estão colocando a cara para bater. Contem conosco!
Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br
