QUEM PENSA? Os invisíveis!

Essa semana o governo federal lançou campanha que chama atenção para as pessoas em situação de rua e que, na maioria das vezes, são invisíveis aos olhos da sociedade e principalmente no acesso aos seus direitos, entre eles, o acesso à saúde. O principal objetivo da campanha é assegurar o acesso das pessoas que vivem na rua aos serviços de saúde, combatendo o preconceito na sociedade e entre os profissionais. É sabido que boa parte dos profissionais da saúde discriminam essas pessoas quando chegam nas unidades hospitalares, por exemplo, por estarem cheirando álcool ou com problemas decorrente por uso de outras drogas, além da falta de asseio pessoal, que geralmente prejudica ainda mais esse acolhimento/atendimento.

Mas não são só os profissionais de saúde, na verdade, estes refletem a sociedade que não enxerga essa população como cidadãos, mas apenas como “mendigos”, “drogados” ou “desocupados”. A campanha também pretende conscientizar os próprios moradores das ruas sobre seus direitos e como alcança-los. Essa população é vulnerável a todo tipo de violência produzida por acúmulo de falta de informação, preconceito e cultura antagônica aos direitos coletivos. Não ter o acesso à saúde é mais uma violência fruto deste processo de séculos de marginalização.

Tenho visto as redes sociais inundadas de pessoas que dão a vida por cachorros, vivem para salvar os pobres animais das ruas, lutam por esta causa compreensível, mas não acima da causa do ser humano. E, infelizmente tenho lido barbaridades como “prefiro mesmo ajudar um cão abandonado e desconhecido do que ajudar um vagamundo que dorme nas ruas”. Tenho pena dos cães. Estes que se dizem amantes da causa dos animais podem ser os mesmo que aplaudem redução da maioridade penal, pobre e preto que furta amarrado em poste ou espancado até a morte e por aí vai. Fácil entender porque muita gente prefere cachorro: os pobres animais são submissos, não sabem dizer não e não contrariam e nem é o espelho que reflete uma das piores imagens de uma sociedade individualista e egoísta.

Há um mês, participei de um fórum psicossocial intitulado Protagonismo dos Usuários de Saúde Mental que inclui os moradores em situação de rua, promovido pela Secretaria Municipal de Saúde na Aman e tive o prazer de assistir a apresentação artística de várias pessoas de toda a região, entre elas, uma, em particular, me chamou atenção: da usuária Laodiceia da Silva Rodrigues e conhecida no bairro que convivia, o Paraíso, como “tia Laudi”. Uma pessoa fascinante no palco, poetisa, atriz e cativante. Chorei ao vê-la, assim como boa parte das apresentações ou desabafos daquele dia. Entendi ali, a ausência de espaços para que estas pessoas sejam ouvidas e por isso menos, quando falamos de solidariedade, é no meio destas pessoas que encontramos esse sentimento mais vivo.

Tia Laudi, morreu aos 34 anos. Foi encontrada morta numa praça do bairro Paraíso e chamou atenção daqueles moradores do bairro. Tia Laudi morreu por asfixia e parada respiratória. Para a grande maioria da população de Resende quem foi tia Laudi? Quem são as tias laudis desta cidade? Elas estão em todos os bairros, sob as marquises, as pontes, calçadas e praças. São invisíveis. As medidas de atendimento em Resende são muito tímida, em parte por falta de investimentos e claro, principalmente por falta de interesse político e visão de política pública.

Tia Laudi foi homenageada pelo grafiteiro Daniel Traóz Campos que usou um muro (veja foto na primeira página) na rua do N.S.do Rosário do mesmo bairro Paraíso. Parabéns ao Daniel que, de certa forma, tornou tia Laudi uma lembrança da situação destes moradores em situação de rua que enfrentam, além de suas limitações e dependências, o preconceito de parte da população.

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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