Essa semana, o grupo do Facebook, Bom Dia Resende trouxe um assunto que é recorrente no cotidiano das mulheres, mas que ainda suscita muito debate e posições equivocadas sobre o que é liberdade de pensamento, de expressão, de ir e vir e invasão de privacidade e uso de informações restritas a determinado setor público. Tem gente que confunde transparência pública que envolve os dados e informações públicas com dados pertencentes a terceiros que passam pelos setores públicos. Em Resende, já vimos até a Ouvidoria do município que deveria manter o devido cuidado com as informações enviadas pelos cidadãos disponibilizando cópias de e-mails para pessoas que nada tem a ver com as solicitações e pior, expondo os dados nas redes sociais.
Tem gente do próprio governo confundindo quem é agente público e quem não é agente público. É a velha cultura de que poder público é terra de ninguém, mas nem sempre essa cultura encontra amparo. Foi o caso ocorrido essa semana no Hospital de Emergência, que imediatamente, o secretário municipal de Saúde, Daniel Brito, tomou providências afastando o servidor e abrindo processo administrativo para verificar a denúncia feita no grupo Bom Dia Resende.
Sob o título “ASSÉDIO SEXUAL POR PARTE DE FUNCIONÁRIO DO HOSPITAL DE EMERGÊNCIA”, o post teve mais de 300 comentários, a maioria absoluta de apoio à vítima, mas alguns comentários lamentáveis, preconceituosos e numa clara tentativa de desqualificar a jovem que passou pelo problema. O assunto chamou atenção da TV Band que esteve no Hospital e entrevistou um dos diretors do hospital confirmando o afastamento do servidor.
O caso: o servidor que trabalhava como maqueiro com autorização do setor administrativo “foi ajudar” na recepção porque faltou funcionário dia 29/6 e ao atender a jovem que procurou atendimento por problemas alérgicos demonstra interesse diferenciado e uma semana depois entra em contato pelo whatsap usando o telefone que foi deixado na ficha da paciente. Ou seja, se apropriou de um dado privado, num espaço de prestação de serviço que deve preservar seus pacientes. A moça registrou toda a conversa e colocou no Facebook.
Antes da postagem recebi o material e soube que o assunto seria exposto e como conselheira de saúde e na posição de presidente do Conselho Municipal de Saúde não podia agir diferente: entrei em contato com a diretora do Hospital, dra Nicole Sterblitch e informei sobre o ocorrido. A diretora rapidamente checou as informações constatando primeiro que o servidor estava em função errada e depois conferindo os dados apresentados pela vítima. Assim que tomou conhecimento, no mesmo dia, o secretário de Saúde determinou o afastamento. As providências não poderiam ter sido mais precisas e rápidas como aconteceram, o que nos causa uma sensação de atenção e cuidado, mas também sem dúvida, sem entrar no mérito da pessoa que cometeu o erro, nos deixa em dúvida sobre o treinamento que os servidores precisam passar permanentemente.
Educação Permanente em Saúde (EPS) não pode ser apenas um programa de encontros de reflexão a cada bimestre. Precisa ser, como o próprio nome diz, permanente, integral e estimulante, mas também sabemos que existem resistências por parte do próprio corpo de servidores. Resistências essas que precisam ser vencidas com valorização e respeito profissionais.
O fato desta semana levantou quatro questões importantes: o assédio, que muita gente, acredita ser uma banalidade, a desqualificação da vítima por ser mulher, a falta que faz uma prática, um plano de trabalho de EPS para todos os segmentos que atuam na Saúde do município de Resende e a atitude certa da gestão em casos flagrantes de abuso e invasão de privacidade ou de desvio do interesse público. Esperamos que o fato leve treinamentos, oficinas, reflexões e tudo que puder contribuir ao servidor que ainda acredita que seu trabalho público pode ser tratado como se fosse privado. Não pode. E quero parabenizar a jovem que foi vítima pela coragem de se expor. Quanto aos preconceituosos, bem… eles passarão!
Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br
