QUEM PENSA? Por que jovens se aproximam do fascismo?

Pode parecer exagero da minha parte a pergunta, até porque a maioria que se aproxima da denominação provavelmente não conhece sua origem, o que na minha opinião, torna este jovem ainda mais vulnerável aos conceitos fascistas, antidemocráticos que nos rondam. Nem a característica de neófito que carrega o isenta de uma participação mais de reprodução e menos de criação, o que deveria ser uma base na formação do jovem que hoje em dia já não é mais questionador, porque o questionador faz mais do que reproduzir. O questionador pesquisa, compara, associa, estabelece relações, leva em consideração parâmetros, afinal a experiência não faz parte dos elementos deste processo de opinião ainda em formação.

Tenho vistos rapazes, muito jovens mesmo, absorvidos de preconceitos e machismos, como por exemplo, a definição que costumam dar às “amigas” que saem com mais de dois rapazes do grupo. São muitas as referências: “rodada”, “vadia”, “corrimão”, “vagaba” entre outras. Quando num grupo, esta definição aparece, logo todos confirmam com risadas ou ratificações, às vezes mais vulgares.

O preconceito que os jovens se permitem é o primeiro ingresso ao mundo do fascismo, da intolerância, do desrespeito e agressões às opiniões contrárias. Junte-se a isso, uma formação política deficiente ou melhor, muitos sem qualquer formação política e outros que não conseguem ler nem mesmo um livro por ano. A falta de referências para estes jovens, boa parte da classe média, os levam a buscar necessidades rasas e soluções imediatas sem qualquer reflexão e muito menos visões mais humanistas e socialistas. É cada vez mais comum ouvirmos gente muito jovem defender figuras como o infeliz deputado federal Bolsonaro e suas ideias boçais e desrespeitosas à democracia duramente conquistada, ainda que não a ideal, mas duramente conquistada neste país.

O pior é que vemos a história se repetir. Não apenas os jovens, mas muitos brasileiros das mais variadas idades usam o discurso da decepção política. A descrença nos políticos ou no sistema não pode ser justificativa para o radicalismo, mas é isso exatamente que assistimos.

O que me chama atenção não são os partidos de direita organizando movimentos antidemocráticos de impeachment da presidenta, por exemplo, mas os jovens considerando discursos empoeirados e cheios de ódio bandeiras de um país ético. A ética proclamada por alguns grupos recheados de jovens é a mesma do fascismo histórico que se apresentou como anticomunista. E tal como no século passado, esse ideal encontra voz na sociedade, principalmente nos grupos dominantes, economicamente falando. Muita gente querendo mudança de maneira urgente e a qualquer preço. Coisa de adolescente. E perigosa.

Garotas com menos ou pouco mais de 20 anos de idade se posicionam contra o aborto, contra sexualidade e liberdade sem argumentos, apenas com doses exageradas de discursos prontos cheios de elementos religiosos e preconceituosos, com pré-julgamentos, como os dos meninos citados acima. Estudantes universitários defendendo pena de morte, redução da maioridade penal, golpe de Estado e colocando tudo no mesmo nível, de preferência aquele bem raso.

Assustada com o desinteresse pela informação e suas variáveis, pela pesquisa, pela formação, pela argumentação e, principalmente, pelo distanciamento humanístico de parte da juventude que talvez, em alguns aspectos, seja vítima dessa engrenagem, mas também responsável pela falta da verve juvenil, característica daqueles grupos que se encontram na praça, na escadaria da igreja ou no cemitério, pintam cabelos, fazem tatuagem, curtem o mesmo som e riem das mesmas coisas, ou quase. A beleza da juventude que pode ser lapidada com teatro, leitura, música, ciência, esporte, cinema, relações sociais ampliadas e participação na construção das políticas, que boa parte – infelizmente – prefere ficar distante.

Desde a falácia dos caras pintadas que notamos gerações sem referências e sem interesses ideológicos repetindo discursos da mídia dominante e muito longe daquele “curtindo a vida adoidado” mas sempre com uma ideia revolucionária (do bem) na cabeça. Tá ligado? Talvez minha visão seja equivocada ao perceber tantos jovens conservadores e nada contra ao rompimento do modelo rebeldia, geração rock and roll, liberação sexual etc, mas daí ouvir “a menina que faz sexo sem compromisso é depravada, o homossexual que demonstra afeto em público é sem vergonha, o usuário (pobre) de droga é marginal” fica difícil.

Sem generalizações, muito longe disso, e até acredito que a pluralidade colabora para a consolidação da democracia, mas não posso deixar de externar minha decepção em ver hoje em dia tantos jovens que deixaram de sonhar, de criar, de imaginar e lutar por um mundo mais paz e amor, mais fraterno. Saudade do jovem revolucionário. E que medo dessa aproximação com cheiro de fascismo.

Fico com Leonardo Boff: “O jovem é jovem porque sonha, porque quer um outro mundo diferente”. Logo, se não dá pra ser progressista, pra ser diferente, que tal ser menos ainda, um conservador?

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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