Avançar de qualquer maneira e sem planejamento podem significar, em alguns casos, insucesso, mas quando a questão é pública, o insucesso de uma ação é potencializado porque acaba atingindo muitas pessoas: os cidadãos, os contribuintes que não podem ser usados como ratos de laboratórios para os experimentos e tentativas dos gestores e, infelizmente, temos visto em Resende um contínuo exercício de tentativa e erro sem o menor compromisso com a coisa pública e respeito ao cidadão. São muitos os exemplos que o governo Rechuan vem apresentado nos últimos cinco anos, mas o trânsito é sem dúvida hors concours.
O prefeito reeleito, com ampla maioria, nomeou as mudanças do trânsito de “urbano humano”, nome que remete, a princípio, respeito aos direitos do pedestre, ciclista, motorista, da população de um modo geral, mas na prática o que tem se visto são ações agressivas ao meio ambiente com uma série de cortes de árvores, remoção de material poluente das vias em horários de maior fluxo, depósito deste material em locais inadequados, assim como a demora de recuperação do local provocando muita poeira, como é o caso da via que dá acesso ao Parque de Exposições da cidade, onde uma nuvem de poeira é agora uma constante, já que uma obra de mudança naquele trecho ultrapassa os seis meses de iniciada.
No dia 13 de setembro do ano passado, o jornal A Voz da Cidade publicou uma matéria cujo título foi “Rechuan: obras no Manejo estarão prontas em março 2014”, a referência não era apenas ao alargamento da avenida Coronel Mendes, próxima ao Ciep 159, iniciadas em agosto como citei acima, mas todas as mudanças previstas para o Manejo, entre elas, da avenida General Affonseca. Sendo mais precisa, reproduzo aqui parte da matéria: “O prefeito pede paciência aos moradores e comerciantes e ressalta que a cidade esta sendo preparada para o progresso. ‘No primeiro mandato (2009-2012) tínhamos uma cidade que precisava de transformação e de 2012 em diante iniciamos uma nova fase, que é adaptar para um modelo grande. A mudança de cidade pequena para grande é profunda na sua infraestrutura e muitas vezes a prefeitura não conta só com o recurso próprio, mas com apoio do governo federal e estadual’, comentou.
As mudanças na Avenida General Affonseca serão as mais drásticas, modificando plenamente o aspecto da via, que atualmente tem canteiro central dividindo as pistas em mão dupla. No futuro projeto, será mão única sentido Jardim Brasília e com paisagismo, nova área de estacionamento e ciclovias. ‘Todas a as mudanças que fizemos até o momento sofreram críticas do cidadão e dos comerciantes. Não há obra que não gere incomodo. As melhorias contribuem para o comércio e os moradores. A cidade precisa de área arborizada, calçadão, ciclovias. Com nosso projeto vamos unir o comércio e os bairros com as ciclovias/ciclofaixas e vamos ganhar muito em mobilização urbana e valorização imobiliária também. As obras devem terminar em março ou abril de 2014, de forma completa: com ciclovia, iluminação, asfalto, drenagem, por exemplo’, frisa”. (grifo meu)
A fala do prefeito é curiosa em diversos aspectos: primeiro demonstra a falta de planejamento e compromisso do governo que diz que em março de 2014 as obras estarão concluídas e não precisa ser implicante (é só passar pelos locais citados) para saber que a conclusão (se realmente for concluída) está longe de março, pelo menos do ano de 2014; o prefeito pede paciência, afinal não somos ratos de laboratório (não?) e precisamos entender que, como disse o próprio prefeito, “a mudança de cidade pequena para grande é profunda na sua infraestrutura (…)”. Isto é revelador para algumas pessoas, pois Rechuan, segundo sua fala, tem convicção que ao assumir em 2009, encontrou uma cidade “pequena” e que em quatro anos ele a transformou em “grande” e insiste na palavra progresso para definir o caos que se instalou no município, com mudanças que seu governo promove, em média, a cada três meses. Se estas intervenções durante todo o tempo são consideradas fruto de um planejamento, realmente o resendense acertou na reeleição
. Rechuan e seus discursos sobre modernidade lembra muito o deputado federal Paulo Maluf, que tinha como estratégia obras todo o tempo, e que estas estivessem presentes à rotina do paulistano, divide, além do discurso, o mesmo partido, o PP. Por falar em Maluf, o deputado voltou à cena dos noticiários na última semana, quando o banco alemão fechou acordo com a prefeitura de São Paulo para devolver R$ 20 milhões, que representam apenas 10% do que teria sido movimentado por Maluf enquanto prefeito de São Paulo, sob a acusação de desviar dinheiro público. Bem, mas isto é outro assunto. Ou quase. E voltando à fala do prefeito Rechuan, em setembro do ano passado, ele cita as ciclovias unindo os bairros, mas além de abusos flagrados de desrespeito às ciclovias sem qualquer fiscalização por parte do governo, como da avenida Juscelino Kubtischek próximo a um bar e também na Resende-Riachuelo, mais próximo da Cidade Alegria quando carros ficam estacionados na ciclovia, principalmente nos fins de semana, a realidade de
uma cidade que privilegia o transporte cicloviário por enquanto, ao que parece, ficará apenas nos discursos.
Como se não bastasse o caos no trânsito diário, o estacionamento rotativo, que, em tese deveria colaborar para uma maior disciplina no trânsito, tem sido alvo de reclamações pertinentes por parte dos motoristas que estão se sentindo lesados pelos parquímetros e pela empresa que presta o serviço que insiste que o resendense é que tem que aprender a usar o equipamento, já que são autoexplicativos, mas a realidade é outra nas ruas da cidade: equipamentos funcionando de forma precária, ausência de funcionários para venda dos botons e máquinas que não reconhecem moedas. A falta de planejamento e acompanhamento do governo municipal está principalmente nas ruas próximas às demais que têm as vagas estabelecidas, pois para não pagar, os motoristas estacionam em ruas transversais, estreitas, atrapalhando o tráfego de veículos maiores e a saída dos carros das garagens de moradores destas ruas.
Alheio ao problema ou fazendo ouvido de mercador o prefeito José Rechuan faz questão de anunciar aquisições de milhões em visitas que faz à Brasília, como a mais recente em que cita que “conseguiu” R$ 7 milhões para a saúde do município. O assunto foi considerado nas redes sociais como um deboche e foi inclusive retratado numa charge de uma página do Facebook (veja na capa desta edição) associando o investimento aos parquímetros que até agora não funcionam como deveriam. A irreverência tem razão de ser, afinal as verbas citadas pelo prefeito são de emenda parlamentar e quem nem sempre são liberadas de fato, por conta de contingenciamentos.
O que ainda causa espanto é o total desapreço do governo Rechuan aos entraves gerados pelas decisões governamentais e que causam prejuízos, nem sempre materiais, mas de desgastes emocionais e de violação dos direitos, tanto na questão do trânsito, na mobilidade urbana, ou melhor, na falta de mobilidade urbana como em outras situações, que só o humor inteligente nos faz, por alguns momentos, esquecer como somos tratados e considerados para rir da própria armadilha que nos abraçou.
Ana Lúcia
Editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

