Os números Covid em Resende e a “explosão” de mortes

Uma matéria realizada e publicada pelo jornal Folha de São Paulo neste domingo, dia 14, apontou um fato alarmante para Resende e outras cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. Nessas localidades, o número de mortes pela Covid-19 registrado cresceu em até 80% na segunda do que na primeira fase da pandemia, segundo um levantamento que leva em conta a média móvel de vidas perdidas. O estudo também mostra que 40% das grandes cidades bateram recordes de mortes por Covid desde novembro. A metodologia usada pelo jornal compara a média de mortes de março a outubro de 2020 (fase 1) e de novembro a março deste ano (2ª fase).

A preocupação com a situação no município de Resende tem mobilizado entidades e moradores do município. Ano passado, o Conselho Municipal de Saúde de Resende se posicionou em diversos momentos. Em um dos documentos enviados ao prefeito, ainda em outubro do ano passado, o Conselho alertou às autoridades locais sobre a necessidade de acompanhamento da abertura de estabelecimentos comerciais, como bares, restaurantes, shoppings e mesmo lojas, seguindo os indicadores de saúde como a taxa de transmissão e seus indicadores de aumento dos casos e das mortes, mostrando preocupação com uma nova onda com as notícias de contágio vindas da Europa e com as aglomerações ocasionadas pelo feriado prolongado do dia 12 daquele mês, fora o período eleitoral.

Quem acompanha de perto as queixas dos membros do Conselho é o ex-conselheiro e um dos associados do Comitê pela Transparência e Controle Social de Resende (ComSocial), Paulo César Silva, o Cesinha (foto). Responsável por ajudar na redação das cartas do Conselho de Saúde no ano passado, ele lamenta o que vem acontecendo.

— Nós do ComSocial, e acredito que a cidade inteira, lamentamos esses números. Por trás de cada dígito, tem muitas lágrimas, muitas famílias sofrendo a perda de um ente querido. Durante todo período que estive no Conselho Municipal de Saúde, procurei alertar para a necessidade de medidas mais restritivas. Sempre pontuei que como se tratava de uma doença nova os protocolos ainda estavam sendo construídos, por isso a necessidade de muita atenção nessas observações, deveríamos buscar aprender com as práticas exitosas dos lugares, países e cidades para combate ao vírus – relembra.

Cesinha acredita que o município poderia ter obtido um melhor controle da pandemia. “Sempre disse que se os números mostravam relativo controle da pandemia, bastava o correto gerenciamento das informações para que no tempo certo fossem adotadas medidas de maior rigor ou medidas mais flexíveis. No entanto, creio ter prevalecido no município a mesma lógica empreendida pelo presidente, negação da necessidade uma política que pudesse efetivamente controlar a circulação de pessoas, evitando aglomerações”.

Para ele, houve uma dificuldade por parte do poder público municipal em dialogar com os grupos sociais interessados no combate, não havendo qualquer acordo. “Observo que o prefeito tem absoluta dificuldade em dialogar com grupos sociais organizados que não se enquadrem na categoria de acríticos apoiadores. Num dos documentos que formulamos para chamar a atenção do que se avizinhava, estabelecemos um conjunto de protocolos para convivência com a Covid-19. Esse documento, se não foi para lata de lixo, descansa em alguma gaveta na Secretaria de Saúde”, acrescenta.

Ainda que as estratégias junto ao governo municipal tenham ficado esquecidas, Cesinha diz que o ComSocial tem procurado fazer sua parte durante esse momento díficil de pandemia.

— Penso que estamos todos amedrontados e sem entender como a política negacionista nos trouxe até aqui. Ainda assim o trabalho do ComSocial é combater o sentimento de impotência que se espalhou pela sociedade. Neste momento tão grave da crise, continuamos alertar as pessoas e entidades da importância de seguirmos os protocolos definidos pelas autoridades de saúde, usar máscaras, lavar bem as mãos, evitar aglomerações. E de outro lado reforçar a luta por aquisição de vacinas e a imunização de todos os cidadãos e cidadãs. Nós entendemos que assim como o sábado, a economia foi feita para o homem e não o homem para economia, não adianta produzir se ao fim e ao cabo não restar pessoas vivas para comprar – completa.

Segundo dados divulgados pela Prefeitura de Resende, em parceria com a Faculdade de Tecnologia (FAT) da UERJ, na terça-feira, dia 16, o número de infectados pela covid-19 em Resende passou para 8.770, sendo que até o momento morreram 276 pessoas no município. Esses números mostram que há um aumento acentuado nesses índices em relação a outubro passado, época em que a carta citada nesta matéria foi escrita por Cesinha.

Na ocasião o número de infectados era quase três vezes menor (3.171 casos) e o número de mortos era duas vezes e meia menor que atualmente (113). Março está apenas na metade e já soma 123 casos de infectados e 11 mortos (até o último dia 16), enquanto que em todo o mês de outubro de 2020 foram registrados 372 casos e 25 mortes.

Em nota publicada em sua página nas redes sociais, a Prefeitura de Resende diz que “lamenta profundamente cada morte ocorrida no município de Resende”, mas afirmou “que não há nenhuma ‘explosão’ de mortes, como afirma o jornal Folha de São Paulo”.  Informou ainda que já solicitou os dados utilizados pelo jornal, uma vez que estes “não demonstram a realidade do município”. A prefeitura encerra a nota que “se colocou à disposição para qualquer esclarecimento e fornecimento de dados complementares”.

ALERTA TAMBÉM PARA O ESTADO DO RJ
Um panorama divulgado nesta quarta-feira, dia 16, pela Subsecretaria de Gestão da Atenção Integral à Saúde e pela Superintendência de Regulação da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), nota-se um aumento significativo e alarmante no número de internações em decorrência da Covid-19. Segundo os dados coletados até às 9h, a ‘taxa de ocupação de leitos Covid’ na esfera estadual estava em 82,25% em enfermaria e 98,02% em UTI.

O levantamento desta quarta-feira aponta que aumentou o número de pacientes que esperam por um leito de UTI. Em todo o estado, são 179 pessoas que estão na fila de espera precisando de tratamento intensivo contra os 109 registrados na semana passada. Ou então quase 18 vezes mais do que o registrado em 16 de fevereiro (10 pacientes). Em Resende, a ocupação desses leitos está em 39,04% para as UTIs e em 20,82% para as enfermarias segundo os dados da prefeitura local do dia 12 deste mês.

Foto: Reprodução/Folha de São Paulo

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