Site de organização ambiental denuncia armazenamento de material inflamável na antiga Servatis

A tragédia provocada por uma explosão que devastou a zona portuária em Beirute, capital do Líbano, noticiada em todo o mundo na última terça-feira, dia 4, chamou a atenção de publicações como a do site da Associação O Eco (uma organização ambiental brasileira), que destacou em sua página nesta quinta-feira, dia 6, que algo semelhante – e muito preocupante – pode acontecer em Resende. Segundo o portal, a empresa Servatis S.A., que tinha sua fábrica no município, segue armazenando 4 milhões de litros de produtos químicos, a maior parte deles inflamáveis, tudo isso a 1,3 km das margens do rio Paraíba do Sul.

A publicação destaca que a empresa – que decretou falência no ano de 2018 – ainda mantém os galpões onde ficam estocados esses materiais (na foto acima). Atualmente estão sob os cuidados de dois vigias e há relatos de invasões para furto de materiais com valor de mercado, como fios de cobre. Ainda que em março deste ano a empresa tenha retirado parte desse produto, que se tratam de 56 toneladas de sódio metálico armazenados em bombonas, produto que estava vencido há 9 anos, para outra empresa sediada na cidade de Arapongas/PR, outros materiais passivos considerados perigosos, como os milhões de litros de produtos inflamáveis, permanecem no local onde funcionava a Servatis, além de um reator desativado com 400 quilos de sódio metálico (foto abaixo), que permanece na Servatis.

Segundo um servidor do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), ao ser entrevistado pelo portal, “Se alguém acende uma fagulha nesse ambiente, há um risco enorme de explosão. É bastante preocupante”.

O órgão ambiental estadual vem monitorando o local e publicou um relatório em 29 de junho de 2018. O Relatório da Gerência de Operações em Emergências Ambientais (Geopem), assinala a necessidade de se adotar medidas para prevenir incêndios (uma vez que a fábrica fica localizada na Região das Barras, em Resende), de se estabelecer uma brigada de incêndio 24 horas para proteção dos depósitos. Sugere ainda a ampliação do quantitativo de segurança da unidade, em especial, na restrição de acesso aos depósitos, visando evitar que invasores possam romper as embalagens expondo os resíduos perigosos, ou até mesmo furtar, podendo fazer uso indevido, como fabricação de bombas caseiras.

A falência da empresa também não deixa de ser um fator preocupante para os órgãos ambientais, uma vez que o temor delas é que isso implique cada vez mais em afrouxamento da segurança. A publicação encerra informando que o caso da massa falida da Servatis está sob resposabilidade do juiz Hindenburg Kohler Brasil Cabral Pinto da Silva, da 2ª Vara Cível de Resende. Até o momento não houve leilão e as empresas apenas se interessam no uso do terreno, e não do empreendimento.

CASO ENDOLSULFAN FOI ESTOPIM PARA FALÊNCIA
Em novembro de 2008, a Servatis apareceu nos jornais em todo o Brasil, incluisive aqui no BEIRA-RIO, após se envolver em um episódio de acidente ambiental no Rio Paraíba do Sul. A indústria química que trabalhava na produção de herbicidas, inseticidas, fungicidas, fertilizantes e princípios ativos teve problemas com o vazamento de endosulfan e foi responsabilizada pela maior tragédia ambiental contra o rio. A substância matou toneladas de peixes e percorreu 400 quilômetros até a foz do rio, em São João da Barra, no Norte do estado.

Em entrevista ao Eco, o presidente da Agência do Meio Ambiente de Resende (Amar), Wilson Moura, se pronunciou sobre as sequelas deixadas pela tragédia. “Desde então esse local é um risco para o município todo. Depois do episódio do endosulfan, a fábrica entrou em uma crise que culminou com seu fechamento. Falta atualmente manutenção para garantir a estrutura física e a segurança dos depósitos, inclusive há presença de animais vagando pelo terreno”, disse.

O jornal BEIRA-RIO deu grande destaque para o fato através de uma matéria realizada em sua versão impressa, em novembro de 2008, sendo que um ano mais tarde, em dezembro de 2009, o endosulfan foi proibido em todo o estado do Rio de Janeiro. Cinco anos depois, o jornal também citou que os Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal conseguiram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que a empresa teria que fazer adequações ambientais. Caso não cumprisse das obrigações assumidas nas cláusulas do TAC, a Servatis seria multada em R$ 1 milhão por mês.

Em nota, o Inea informou, que conforme determinação judicial da 2ª Vara Cível da Comarca de Resende, foi realizada a retirada dos tambores contendo sódio metálico, totalizando 56 toneladas, da área da empresa Servatis, que faziam parte do passivo ambiental. Sendo assim sua destinação acompanhada por técnicos deste Instituto e pela empresa consultora responsável pelo transporte do material até o estado do Paraná.

No entanto, a Servatis foi notificada pelo órgão ambiental estadual para apresentação da situação atual de acondicionamento em função dos resíduos ainda existentes na área, estocados em tanques contidos em bacias de contenção, IBC’s, tambores e bombonas, estes estocados em galpões, além do residual de 400 quilos de sódio metálico que ainda restam no local, solidificado dentro de um reator localizado em galpão fechado.

A nota ainda cita que por meio de intimação judicial, os resíduos vêm sendo gradativamente retirados da área da Servatis pelas empresas identificadas em juízo como responsáveis pelos resíduos ainda estocados na empresa.

EXPLOSÃO DE GRANDE IMPACTO
Nesta terça-feira, dia 4, uma enorme explosão devastou a zona portuária de Beirute, deixando centenas de mortos e milhares de feridos, além de assustar pelo seu grande impacto. Segundo informações das autoridades locais, o problema foi ocasionado após o incêndio em um depósito que armazenava uma grande quantidade de nitrato de amônio no porto da capital libanesa.

Fotos: Divulgação

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