“Imprensa reforça velhos estereótipos da guerra”

Há quase seis meses, um jornalista nascido em São Paulo e que passou toda a infância em Resende é o autor de uma obra que aborda de forma mais abrangente as guerras que assolaram e que ainda assolam o mundo. “Eu tive a ideia (de pesquisar) enquanto ainda trabalhava como editor da revista Superinteressante. Sempre escrevi reportagens de história, mas queria escrever algo maior, com mais fôlego, que tratasse de assuntos menos conhecidos ou óbvios. À medida que pesquisava, descobri muitas guerras, atrocidades e matanças em geral, assuntos que nunca tinha ouvido falar na escola, na faculdade ou no trabalho. Então foquei nessas histórias, para mostrar a sucessão de violência que permeia a existência dos humanos desde sempre”, cita o jornalista Felipe van Deursen.

Segundo o jornalista, a obra “3000 Anos de Guerra” vem para mostrar não apenas o que aparece na imprensa. “A imprensa cumpre, em geral, o papel de denunciar guerras e afins. Mas ela tende, muitas vezes, a reforçar velhos estereótipos e a valorizar além da conta, na minha opinião, tragédias acontecidas em países mais próximos tanto politicamente do Brasil quanto do nosso imaginário. Sim, concordo que um atentado em Paris, cidade onde atentados não são comuns como Bagdá e que está na nossa cabeça desde criança, que tem brasileiros morando lá, etc., é algo impactante. O problema não é cobrir Paris. É ignorar – ou dar proporcionalmente muito menos espaço – à Somália, por exemplo, que teve um dos piores atentados do século 21 no ano passado. Ou então à Segunda Guerra do Congo, um conflito enorme, que matou milhões de pessoas e que aconteceu há menos de 20 anos. O quanto se falou disso?”, questiona.

Van Deursen começou a realizar a pesquisa em 2013, mas o livro só foi publicado em 2017, pela editora onde o jornalista trabalha. “A Super (Superinteressante) tem uma produção constante de livros. Eu tinha acordo com outra editora, mas isso não foi para frente. Então ofereci o projeto aqui dentro da Abril. Gostaram e publicaram. Realmente, estar na editora facilitou, é claro. Mas a exigência com a checagem de informações e com a qualidade do texto foi certamente maior”. Ele confessou que ainda não tem informações sobre o retorno de vendas.

– Mas acredito que esteja indo bem. Já me disseram que em algumas lojas em Resende esgotou (risos) – disse.

Van Deursen escolheu a carreira de jornalista quanto ainda estudava no Colégio Dom Bosco, em Resende. Apesar de ser paulistano de nascimento, ele veio com toda a família para o Sul Fluminense e retornou à terra natal para se formar na profissão, na Faculdade Cásper Líbero. “Decidi ser jornalista quando fazia um jornal de escola com os amigos, chamado “A Gazeta”, que começou distribuído em nossa sala de aula e terminou distribuído em mais de cinco colégios diferentes, em cursos de línguas, academias. No fim, tinha cotas de patrocínio, ações de marketing, matérias que fizeram barulho na cidade”, relembra.

A experiência com o pequeno “jornal de escola” teve muita repercussão para o jovem e seus colegas, chegaram a ser destaques em reportagem de uma emissora de TV regional e posteriormente em um canal de TV por assinatura e na revista mais importante da editora que o empregaria anos mais tarde. “Foi uma aula de jornalismo na prática, para moleques de 16 e 17 anos, antes mesmo da faculdade. Além de mim, outros integrantes estudaram jornalismo e todos levaram aquele aprendizado para suas respectivas carreiras. Naquela época estava muito claro para mim que eu gostava disso, era o que queria fazer”.

Após concluir o curso de jornalismo, Van Deursen foi empregado pela Abril e já passou por várias redações, incluindo a Super e a VIP. Há três anos, ele trabalha para a Mundo Estranho. E ele pretende publicar uma nova obra em breve. “Posso adiantar que é de história e que é um assunto mais pacífico e divertido. Envolve álcool!”, conclui.

LIVRO CITA LÊNIN, GÊNGIS KHAN E MAO TSÉ-TUNG
O livro “3 Mil Anos de Guerra – Como 30 séculos de sangue, suor e bala criaram o mundo em que você vive”, uma parceria entre a revista Superinteressante e o jornalista, cita as guerras mais marcantes da história da humanidade através de 24 grandes conflitos, que contemplam desde as primeiras batalhas bíblicas até a atual Guerra Civil da Síria.

Além do panorama das guerras, o livro também destrincha a história de 32 personagens responsáveis por esses acontecimentos. Entre eles estão Gêngis Khan, criador do Império Mongol; o líder da extinta União Soviética, Stalin; o fundador da República Popular da China, Mao Tsé-Tung; e grandes conquistadores da Antiguidade, como Átila, o Huno, Julio César e Alexandre, o Grande, além de ditadores sul-americanos e africanos.

O livro tem 328 páginas, e também cita histórias que refletem o tratamento dado às minorias, a falta de empatia e respeito com as culturas não europeias e as disputas movidas por interesses políticos, econômicos e religiosos.

Para quem tem a curiosidade de conhecer o trabalho de Felipe van Deursen, ele conta com um blog onde fala de alguns assuntos. Um deles destacado no livro, e pode ser acessado aqui.

Fotos: Divulgação

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