Zoocrônica da vez: parte IV

Tudo aconteceu porque o Papagaio dormiu empoleirado em um alto galho do Buriti. E foi exatamente naquela noite quando o Morcego conversava com o Gavião devorador e negociante de carnes. Veio a manhã e o Papagaio repetia, repetia. Porque Papagaio só repete. Logo a bicharada toda entendeu que aquilo era pilantragem do Morcego que iria a julgamento sob a juba do Leão. E aí foi um tal de aparecer de tudo naquele pedaço de floresta. Banana ouro para os Macacos, frutas frescas para os Tucanos, ração importada para os Peixes, picanha maturada para as onças, farelo de aveia úmido para os Porcos, queijo rockford para os Ratos, cachaça mineira para os Gambás, camundongos branquinhos para as Cobras, braquiária verdinha para os bois.

Os bichos sabiam dos trambiques do Morcego. Até a Gazeta das Maritacas passou a noticiar as sujeiras que caiam dos altos galhos do Buriti. Mas foi tanto agrado que ninguém temeu ou discordou de nada. A turma que não ganhou presente queria que o Leão mostrasse as garras. Entretanto o bicho é daqueles que tem salário protéico e dorme 20 das 24 horas possíveis em um dia. Portanto, queria mais era não ser incomodado.

Parece que o Morcego sequer desceu dos altos galhos do Buriti. Confiante na vitória apenas esperou que depenassem o Papagaio que nem mesmo conseguiu se defender, pois apenas repetia a conversa do Morcego com o Gavião.

Sei que quem viu a votação se sentia com uma pulga atrás da orelha. Ora, pois se Papagaio só repete, então dizia a verdade. Morcego larápio! Bicharada salafrária! A floresta sangrava e secava!

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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