Onde está nosso material humano quando olhamos para as pessoas em nossa volta e não enxergamos o outro que precisa ser cuidado?

Onde está nosso material humano quando olhamos para as pessoas em nossa volta e não enxergamos o outro que precisa ser cuidado? Onde fica guardado o bom senso? Onde se esconde a nossa percepção das necessidades alheias?

Coisa que me deixa triste é entrar em um transporte coletivo e me deparar com o aviso de que alguns lugares são destinados para pessoas idosas, gestantes, pessoas com crianças no colo ou portadores de necessidades especiais. Ao meu ver, qualquer lugar deveria ser para essas pessoas prioritariamente. Se sobrasse, aí sim, poderia ser utilizado por aqueles que não possuem nenhuma dificuldade, por aqueles que não fazem qualquer sacrifício ficando algum tempo em pé. Mas pior me sinto ao ver quem tem direito sendo ignorado por um mal-educado que ocupa o lugar e finge não perceber o erro grotesco que comete.

Não sei ao certo, vai ver que é só uma falsa impressão, um romantismo ingênuo e nostálgico que insiste em me dizer que antigamente as pessoas eram mais solidárias, mais educadas e mais sensível à dor do outro. Confesso que me surpreendo pensando dessa forma, mas prefiro me reconhecer pertencente a um outro tempo, onde moravam outros valores e outros modos de relacionamento. Observo que as relações humanas estão perdendo o valor, o sentido, as pessoas estão cada vez mais individualistas e mais voltadas para os seus problemas, as suas questões, suas dores e desejos, sem se importar com mais ninguém, como se o outro não fosse importante, ou pior: fosse invisível.

Ontem pela manhã sai para comprar pão, bem cedinho, e vi uma menina ainda pequena acompanhada pela babá, aproveitando a fresca da manhã que ainda não tinha acordado a cidade. Ela ia caminhando na minha frente e explicava para sua cuidadora a forma correta de lidar com os outros: “…quando você me vê chorando, você me abraça, né? Então, você tem que abraçar todo mundo que está chorando. Quando as pessoas choram, elas ficam medo de que o coração fure a barriga de tanto que ele cresce e quando você encosta sua barriga na barriga de quem está chorando não dá tanto medo porque a sua barriga não vai deixar nenhum coração fugir. Não precisa ficar abraçando toda hora, mas você tem que abraçar sempre quem está chorando. Entendeu? “

Por vezes, fico muito desanimada e acho que nada mais tem jeito, que tudo só tente a piorar. Entretanto, pequenos milagres se mostram para mim como um recado, advertindo que não é hora de desistir, de insistir, um bálsamo que me reanima e me torna outra vez confiante de que ainda vai dar pé, tudo, tudo vai dar pé!

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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One thought on “Onde está nosso material humano quando olhamos para as pessoas em nossa volta e não enxergamos o outro que precisa ser cuidado?

  1. Bela reflexão, Ângela, seria tão mais simples se tratássemos ou outros como gostaríamos de sermos tratados.
    Pequenos gestos geram resultados grandiosos.
    beijos!!
    Sou fã!!!

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