
No dia 26 de outubro de 2021, morria no Rio de Janeiro o autor de novelas e minisséries Gilberto Braga. Formado na faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), foi professor de francês na Aliança Francesa e em seguida ingressou no jornal O Globo como crítico de teatro e cinema. Estreou como autor televisivo em 1972, quando assinou um episódio de Caso Especial: Dama das Camélias 72 (versão atualizada de A Dama das Camélias, protagonizada por Glória Menezes e Cláudio Cavalcanti).
Durante o ano de 1973, produziu mais especiais, como As Praias Desertas e Feliz na Ilusão. Sua desenvoltura e rapidez na escrita dos episódios chamaram a atenção do diretor Daniel Filho, então chefe das novelas na emissora, que o convidou para assinar, junto com Lauro César Muniz, a autoria da novela das sete Corrida do Ouro (1974), trabalho do qual Muniz se afastaria para estrear na faixa das oito. Por ainda não estar habituado ao ritmo de escrita para a televisão, Gilberto chegou a desistir de escrever a trama, sendo impedido por Daniel Filho, que comentou a situação com Janete Clair. A veterana – admiradora dos diálogos de Braga –, então, se ofereceu para supervisioná-lo.
Gilberto Braga foi o primeiro autor brasileiro formado exclusivamente para a televisão – jamais escreveu para teatro. Ele foi responsável por outras adaptações: O Preço de Cada Um (modernização de Misantropo) e Mulher (versão moderna de Casa das Mulheres).
Ele também se notabilizou pelas adaptações de clássicas obras literárias para a televisão. Em 1975, foi responsável pelas adaptações dos romances Helena, de Machado de Assis – responsável por reinagurar a faixa das seis – e Senhora de José de Alencar. Mas o primeiro grande sucesso da carreira de Gilberto foi Escrava Isaura (1976), baseada no romance homônimo de Bernardo Guimarães, cujo êxito foi enorme – durante muito tempo, foi a novela mais vendida de todos os tempos e consagrou mundialmente a atriz Lucélia Santos, que iniciava a carreira. Com a novela, foi considerado o responsável por levar a teledramaturgia brasileira para o mundo, sendo vendida para países como Cuba, China, Alemanha, Rússia e outros.
Em 1977, esgotado das tramas de época, Gilberto Braga escreveu o primeiro folhetim contemporâneo do horário das seis: uma adaptação da peça teatral Dona Xepa, original de Pedro Bloch. O sucesso desta novela motivou a promoção de Braga para a faixa das oito, na qual ele estreou com Dancin’ Days (1978), escrita a partir do argumento inicial A Prisioneira, de sua mestra Janete Clair, primeira trama sua sem ser uma adaptação de romance consagrado.
Seguiram-se outras novelas de sucesso no horário nobre: Água Viva (1980) abordou o cotidiano da classe média alta no litoral e o windsurfe, causou polêmica por conta do topless e mostrou, pela primeira vez, o uso de maconha na televisão brasileira. Prosseguiu com a novela Brilhante (1981), que discutiu a homossexualidade masculina e romance entre pessoas de diferentes idades. Brilhante foi acusada de plágio de livros e filmes norte-americanos e enfrentou problemas com a audiência e a Censura Federal, que o obrigaram a promover muitas alterações ao longo da história.
O maior sucesso foi quando ele parou o Brasil com o mistério em torno de quem matou Odete Roitman? (Beatriz Segall), personagem da novela Vale Tudo (1988). O último capítulo da referida telenovela obteve a maior audiência já conquistada, com 86% dos televisores ligados. O final da trama revelou Leila (Cássia Kiss) como a assassina. Vale Tudo também ganhou um remake em espanhol: Vale Todo (2002), com o elenco formado de atores de língua hispânica e foi exibida em parceria com a rede Telemundo, cadeia de emissoras abertas mais voltada para o público latino.
A primeira minissérie escrita foi um dos trabalhos mais elogiados e bem-sucedidos: Anos Dourados (1986), dirigida por Roberto Talma. A trama, que foi posta no ar às pressas visando concorrer com o estrondoso sucesso Dona Beija da extinta Rede Manchete, também marcou o retorno às produções ambientadas nos anos 1950, realçado principalmente pela trilha sonora que trouxe diversas canções consagradas da época (escolhidos pessoalmente pelo autor, que pela primeira vez atuou também como produtor musical).
Outra produção do autor, Paraíso Tropical, levada ao ar de 5 de março a 28 de setembro de 2007, em 179 capítulos, foi indicada ao Emmy 2008 na categoria de melhor novela. O International Emmy Awards, ou simplesmente Emmy, é equivalente ao Oscar da televisão internacional.
Foi escrita em parceria com o fiel colaborador Ricardo Linhares, mostrando ao público temas importantes e polêmicos, como homossexualidade sem nenhum preconceito, turismo sexual, prostituição e alcoolismo. A trama foi protagonizada por Fábio Assunção e Alessandra Negrini, que estava afastada das novelas havia cinco anos.
Em 2015, foi ao ar o último trabalho de Braga, “Babilônia”, também na faixa das 21h, e que inicialmente teve o título de Três Mulheres. Com 143 capítulos, a trama terminou em 29 de agosto, sendo considerada “forte” pela crítica, pois abordava temas pouco tradicionais ao gênero, como homossexualidade e racismo, e foi rejeitada pela parcela mais conservadora do público, especialmente entre os seguidores do evangelicalismo; alguns deputados da bancada evangélica chegaram a promover boicotes à produção.
Babilônia teve a menor média do horário das 21 horas na Grande São Paulo: 25 pontos, tomando o posto de Em Família, que obteve 30, e trazendo problemas de audiência para a sua sucessora, A Regra do Jogo. Seus maus resultados, no entanto, não foram atribuídos somente aos polêmicos temas abordados, mas também ao roteiro considerado inconsistente pela imprensa.
Depois de Babilônia, não conseguiu emplacar outras tramas na TV mas ao morrer deixou obras inacabadas, como Feira das Vaidades, prevista para a faixa das 18h, inspirada na obra literária homônima Vanity Fair, escrita por William Makepeace Thackeray. Aproximadamente oitenta capítulos já estavam prontos. Um remake de outra novela também estava sendo planejado, com parceria de João Ximenes Braga, que havia recebido o nome de Intolerância. A trama, que estava prevista para ir ao ar na faixa das 23h, nunca foi aprovada pela Globo.
Gilberto Braga morreu em 26 de outubro de 2021, aos 75 anos, no Hospital Copa Star, na cidade do Rio de Janeiro. Foi vitimado por complicações decorrentes do Mal de Alzheimer e uma infecção sistêmica decorrente de uma perfuração no esôfago.
Fonte: Wikipédia