Orgãos de saúde alertam: Baixa vacinação traz ameaça de retorno da pólio ao Brasil

Baixa cobertura vacinal aumenta risco de retorno da pólio, que traz graves sequelas motoras a infectados (Foto: Danny Nee/Unsplash/Canaltech)

O Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS), órgão da Secretaria de Vigilância em Saúde, do  Ministério da Saúde, emitiu no último sábado, dia 10, um boletim de Comunicação de Risco, alertando sobre a possibilidade de retorno dos casos de poliomielite no Brasil, especialmente com o baixo índice de cobertura vacinal registrado nos últimos anos no país.

Erradicada do Brasil desde 1989, a doença, também conhecida como paralisia infantil, não teve mais nenhum caso registrado desde então. No entanto, a queda na cobertura das vacinas registradas após o ano de 2015, especialmente em crianças, acende um sinal vermelho para médicos e cientistas.

Segundo pesquisadores da Fiocruz, a cobertura vacinal do país, que era em 2011 de 85,31%, considerando as vacinas disponibilizados dentro do Calendário Nacional de Imunização do sistema Único de Saúde (SUS), segundo Datasus — um sistema do Ministério da Saúde, caiu para 73% em 2019, para 67% em 2020 e para 59,50% em 2021. E este número segue ainda mais baixo em 2022, com apenas 35% da população entre 1 e 5 anos vacinada, segundo o Ministério da Saúde, o que fiz o órgão prorrogar a campanha até o dia 30 deste mês.

O boletim do CIEVS destaca que esse perigo foi potencializado com o registro de um caso de poliomielite no Estados Unidos, o que fez o estado de Nova Iorque declarar desastre por emergência por pólio entre o dia 9 de setembro e o dias 9 de outubro. No dia 21 de julho deste ano, foi detectado um caso de vírus da poliomielite tipo 2 nos Estados Unidos derivado de vacina em indivíduo não vacinado do condado de Rockland e que não fez viagens internacionais durante o período de incubação da doença.

Além disso, também houve detecção de poliovírus geneticamente relacionados em amostras de águas residuais coletadas nos condados de Orange, Rockland e Sullivan entre os meses de abril e agosto deste ano. O mesmo documento aponta que, curiosamente, a exemplo do Brasil, os Estados Unidos também foi declarado livre de poliomielite (em 1979), principalmente devido às altas taxas de vacinação contra o vírus causador da doença, mas que essas taxas de vacinação de rotina em todas as idades diminuíram durante a pandemia de Covid-19 e a hesitação em vacinar aumentou.

Ainda de acordo com o boletim, a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) alertaram em 10 de junho de 2022 sobre o risco de emergência de um poliovírus derivado de vacina e instruíram os estados membros “a implementar medidas eficazes para reduzir o risco de surtos, mantendo altas coberturas e normas de vacinação e vigilância epidemiológica sensível que permitesse a detecção e investigação oportunas de casos de paralisia flácida aguda”.

A preocupação dos dois órgãos é que nos últimos anos, após se tornar no ano de 1994 a primeira região do planeta a se tornar certificada como livre da pólio pela Organização Mundial da Saúde (OMS), as taxas de vacinação nas Américas contra a poliomielite caíram consideravelmente e estavam abaixo da meta de cobertura recomendada de 95% ou mais, índice considerado o ideal para evitar a reintrodução do vírus.

Esses números já apresentavam queda antes da pandemia de Covid-19, mas durante a pandemia – que afetou os serviços de saúde em toda a região, incluindo a vacinação de rotina – a cobertura da vacinação contra a poliomielite continuou a diminuir. Em 2020, apenas 80% das crianças da região dos Estados Unidos receberam a terceira dose da vacina contra a poliomielite necessária para a imunização completa, em comparação com 87% em 2019.

A poliomielite, comumente denominada de pólio, é uma doença altamente contagiosa causada pelo poliovírus selvagem, sendo uma doença em processo de erradicação. Há também a poliomelite associada ao vírus vacinal (vaccine-associated paralytic polio-myelitis, VAPP), ou poliomielite pós-vacinal, que se caracteriza pelo desenvolvimento da doença, pós-exposição de vacina. Ocorre de forma idêntica a que ocorre com o vírus selvagem, com a possibilidade de gerar sequelas motoras definitivas.

O modo de transmissão ocorre por contato direto pessoa a pessoa, por meio de gotículas de secreções (ao falar, tossir ou espirrar), pela via fecal-oral (mais frequente), por alimentos, objetos e água contaminados com fezes de doentes ou portadores. Possuir uma condição de habitação precária e sem saneamento básico pode favorecer a transmissão do poliovírus.

O vírus se desenvolve na garganta ou no intestino e é disseminado pela corrente sanguínea. Ao chegar ao sistema nervoso central, o vírus ataca neurônios e provoca a paralisia dos membros inferiores e superiores. Nos casos mais raros, a doença pode levar à morte. Não há tratamento específico e todos os casos devem ser hospitalizados e monitorados, com o tratamento de suporte, de acordo com o quadro clínico do paciente.

As ações para conter a disseminação do vírus iniciaram na década de 60 com o advento de duas vacinas (oral e inativada). Após 1985 iniciou-se o processo para atingir a meta de erradicação da pólio mundialmente.

Atualmente, apenas alguns países como Nigéria, Afeganistão e Paquistão ainda registram casos endêmicos da doença. Mesmo assim, os órgãos de saúde alertam que “a falta de sucesso em interromper a pólio nessas áreas remanescentes pode resultar em até 200 mil novos casos a cada ano, dentro de 10 anos, no mundo”.

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