200 anos da Independência: Resende e Itatiaia também fazem história às margens do Ipiranga

Exposição do Bicentenário cita curiosidades sobre resendenses e itatiaienses que participaram do Grito do Ipiranga (Foto: Reprodução)

Nesta quarta-feira, dia 7, é celebrado os 200 anos da Independência do Brasil. A data marca a decisão tomada pelo então príncipe regente do Brasil, Pedro de Alcântara de Bragança, posteriormente chamado de Dom Pedro I, de declarar o país independente do Reino de Portugal, do qual era colônia desde o ano de 1500, com o Grito do Ipiranga, em São Paulo.

Essa data, no entanto, também contou com a participação de alguns moradores de Resende e Itatiaia, que pode ser conferida na exposição itinerante “Resende e o Grito do Ipiranga”, promovida pela Fundação Casa da Cultura Macedo Miranda (FCCMM), em parceria com a Secretaria de Educação e a Academia Resendense de História (Ardhis) desde o mês passado.

O principal nome da região a participar da comitiva de Dom Pedro I foi o do militar resendense Antônio Ramos Cordeiro, sargento-mor designado para acompanhar o emissário Paulo Emílio Bregaro, que tinha como missão entregar as cartas de José Bonifácio, de sua mulher, Leopoldina, e também das cortes portuguesas, que tinham anulado todos os atos do gabinete de Bonifácio e removido o restante de poder que o regente ainda tinha.

No entanto, Cordeiro não estava sozinho nessa viagem: outros quatro moradores da Freguesia de São José do Campo Belo (atualmente Itatiaia), e da Vila de Resende, todos ligados a economia cafeeira da região, se integraram à comitiva: o cafeicultor David Gomes Jardim; o fazendeiro João Ferreira de Souza (que hospedou o príncipe em sua propriedade); o fundador de Campo Belo, Capitão Pereira Leite, e José da Rocha Corrêa. Juntos, eles fizeram parte da chamada Guarda de Honra, que seguiu Dom Pedro I durante toda a sua viagem.

Segundo o coordenador do grupo de pesquisa da Ardhis, o ex-vice presidente da academia, Júlio Fidélis, todos os participantes dessa guarda eram proprietários de terras na Vila de Resende, considerada a meca da produção Cafeeira nos anos 20 do século XIX, ou trabalhavam como tropeiros. “Ele (Antônio Leite), segundo consta, teria iniciado seus negócios com tropeirismo, pois toda logística da época era desta forma para abastecer as regiões”, cita.

Fidélis descreve os quatro personagens locais como homens de pensamentos liberais e super empreendedores. “Muitas obras públicas eram financiadas por eles para as comunidades onde viviam. A grande maioria tinha os mesmos ideais que o Príncipe Regente, e não queriam ser parte do Reino de Portugal, já que o Brasil era parte do Reino de Portugal, na época chamado de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve”.

O pesquisador também destaca outras curiosidades a respeito da estilo de vida dos quatro integrantes resendenses e itatiaienses da comitiva de Pedro. No tempo deles, as vilas não contavam com prefeituras, sendo que no regime da época quem governava eram as Câmaras, que zelavam pelo bem público. Outro detalhe interessante é que dentro de suas propriedades, diferente do que muitos pensam, o modo de vida desses proprietários de terras era mais rústico do que na segunda metade do Século XIX.

– A vida desses fazendeiros cafeicultores era em cima do trabalho intenso na lavoura, pois não só produzia-se café mas tudo para subsistência da unidade produtora e o que sobrava era negociado. O que lhes importavam eram dinheiro no bolso, café vendido e um conforto castrense, ou seja, uma forma de vida simples, dura, disciplinada, com mínimo de coisas para viver.

Fidélis aponta que, mesmo sendo rústicas, a produção dessas fazendas era intensa, com a plantação de 60 a 100 mil pés de café mais cana de açúcar. “As pessoas têm uma visão errada ao pensar que tudo era como as fazendas remanescentes da segunda metade do século XIX, onde o cenário era totalmente diferente dos primeiros momentos, como em 1822”, acrescenta.

De fato, as fazendas de café mudaram muito no decorrer do Século XIX, já que em um primeiro momento a economia cafeeira alcançou toda a região do Vale do Paraíba, sendo o principal espaço de produção até a década de 1870, com plantações sustentadas por meio de latifúndios monocultores dominados pela mão-de-obra escrava. Já nos anos seguintes, esse quadro mudou com a proibição do tráfico de escravos, em 1850, e a introdução de novas tecnologias e formas de plantio favoráveis a uma nova expansão cafeeira, com mão-de-obra de imigrantes europeus.

O pesquisador finaliza reiterando que todo esse apoio a declaração de Independência do Brasil resultou em mais poder às famílias de cafeicultores da época. “O centro de poder passou por vários personagens do Vale do Paraíba, não só Paulista, mas também do Vale Fluminense. No futuro Segundo Império, muitos ganharam títulos de nobreza, em especial aqueles descendentes dos que estiveram com Dom Pedro I, que formaram os diversos gabinetes de Dom Pedro II”.

EXPOSIÇÃO NO PARQUE DAS ÁGUAS
Além da participação de militares e donos de terras na comitiva de Dom Pedro I, a exposição “Resende e o Grito do Ipiranga” também tem incluídas as informações contidas nos documentos da independência do Brasil, destinadas a Câmara da Vila de Resende, e também mapas, fotos e outros documentos que contam a história que envolve todo esse evento. A exposição itinerante poderá ser visitada nesta quarta-feira, de 9 às 12h, no Parque das Águas, durante o Desfile Cívico, ou clicando na página da Prefeitura de Resende.

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