Com muita dor!

Depois de algum tempo sem atualizar esse espaço resolvi retomar essa forma de expressão que me acompanhou nos últimos 30 anos. Meu instrumento de comunicação preferido: escrever o que penso, mas também o que sinto. E por isso estou eu aqui, de volta, com o peito apertado de dor pela tristeza que estamos enfrentando em Resende, no estado, no país, no mundo.

A Covid veio para nos tirar do ilusório eixo do normal, e ainda há quem acredite em “novo normal”. Nunca vivemos nada de normal, pelo menos não na acepção da palavra que se pretende compreender. E muito menos viveremos esse tal de “novo normal”. Essa dor no meu peito, não é apenas física, também é, mas acompanhada de uma dor maior. É a exposição de nossa impotência, nossa inércia diante de tantas tragédias. E a constatação de que estamos perdendo feio no quesito humanidade. 

Não é apenas o vírus. É o que fizemos com nossas vidas ao creditar, apenas a um processo eleitoral, o poder de uma suposta conscientização coletiva. Isso não bastou, isso não basta. Erramos feio. O Brasil é um exemplo que por aqui essa tal conscientização não existe. Desde 2016 quando não reagimos aos pronunciamentos fascistas, tão pouco ajudamos Jean Wyllys a cuspir – talvez uma cusparada coletiva teria salvado o Brasil desse monstro que hoje tripudia sobre nossas almas -, acabamos por permitir essa situação. 

Derrubamos as portas do inferno na tentativa de chamar o capeta para conversar. Não tem conversa com coisa ruim. No rastro desta infâmia outros monstrinhos foram se alimentando do poder e estão aí espalhados por esta terra que nos tempos da tal “normalidade” chamávamos de casa de Deus. Que ilusão!

Hoje, em meio a presidente e prefeitos insensíveis, contamos mortos dentro de uma “nova normalidade”. Não aceito e jamais aceitarei essa banalização que faz de sonhos, famílias, amores apenas números. Não aceito! Nos empurramos para um abismo, onde tentamos nos agarrar em raízes frágeis para salvar nossa pele. Escorregam por nós e soltam de nossas mãos aqueles que amamos, aqueles que convivemos e também aqueles que nunca vimos. 

É o fim? Claro que não. Creio na espiritualidade, mas não vou transferir responsabilidades para “Deus quis assim”, “seja como Deus quiser”. Nada disso. Precisamos romper com esta inércia que nos aproxima de meros espectadores do próprio fim. Podemos começar por nossa cidade e lembrar que prefeito e vereadores pagos por nós têm a obrigação de apresentar planejamento e criar mecanismos que nos protejam. Vamos começar perguntando aos prefeitos onde estão os Planos de Contingência de Vacinação Covid. Vamos chamar atenção do Ministério Público para que exija transparência das ações e medidas necessárias para evitar mais mortes. 

Chega!

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO

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