Coletivos denunciam abuso em ação da GM contra moradores de rua em Resende

Quatro coletivos que atuam na atenção a moradores em situação de rua em Resende divulgaram uma nota de repúdio denunciando a ação de agentes da Guarda Municipal contra moradores que vivem na Rampa do China (na foto, localizada às margens do rio Sesmaria, na rua de uma loja de motos, próxima a um shopping no Centro). Segundo a nota divulgada em grupos nas redes sociais, entre eles o Bom dia Resende e o Transparência Resende, além do Prover Resende e Mulheres em Foco, as 12 pessoas assistidas pelos coletivos reclamaram da atitude de integrantes da corporação na última sexta-feira, dia 31 de julho.

“Fazemos campanhas entre nossos amigos para doação de alimentos, roupas e produtos de higiene para doar a esses cidadãos, e os distribuímos à noite. Na semana passada recebemos de alguns desses vulneráveis, queixas sobre a atuação da Guarda Municipal, no local conhecido como Rampa do China, que teria, segundo eles, retirado seus pertences e jogado no lixo, dentre esses pertences cobertores, roupas e material de higiene que receberam como doação nossa”, diz o documento.

Na nota, os grupos ainda solicita ao poder público “que aja em prol da segurança dessas pessoas, garantindo-lhes além da segurança, o direito a uma melhor qualidade de vida, que implica em ter mais abrigos seguros, onde possam pernoitar com segurança, tomar banho, alimentar-se com qualidade e recebam qualificação profissional, para que possam reintegrar-se ao mundo do trabalho”.

E finaliza informando que os grupos continuarão com as ações e as observações até que não se encontre mais nenhum cidadão morando nas ruas. “Continuaremos denunciando nas mídias sociais e, se necessário também ao Ministério Público, atos de desrespeito e violência para com essas pessoas”, completa.

A reportagem do jornal BEIRA-RIO entrou em contato com a voluntária do coletivo Força Tarefa do Bem, a empresária Cássia Cardoso, entrevistada no começo deste ano na matéria sobre os voluntários de Resende que vêm ajudando famílias necessitadas nesse período de pandemia. Ela conta como tudo aconteceu.

– Depois daquela entrevista que realizamos (em abril deste ano), o grupo aumentou de tamanho, e portanto o Força Tarefa passou a distribuir alimentos e outros materiais de necessidade básica também às sextas-feiras. O nosso grupo que atua às quartas-feiras passou a se chamar Quartas do Bem. E foi depois disso, em uma sexta-feira (dia 24) que fomos para a rua e distribuimos todo esse material para os moradores da Rampa do China. Na semana seguinte fomos ao mesmo local e eles estavam sem nada do que entregamos a eles. Na ocasião houve uma ação da Guarda Municipal nos locais de concentração de moradores de rua, sendo que no coreto havia denúncias de que nem todos ali eram moradores de rua e o local estava virando ponto de tráfico de drogas e prostituição.

Cássia relata que os agentes retiraram tudo dos moradores da Rampa, inclusive outros objetos como um fogareiro utilizado para fazer a comida do almoço. “Esse pessoal da Rampa nada tem a ver com aqueles que moravam no coreto, eles são mesmo moradores de rua, eles não têm casa nem família. E o pessoal da Guarda jogou fora tudo que eles tinham recebido de doações nossas e até mesmo um fogareiro. Tivemos que voltar neste domingo (dia 2) e levar novos cobertores para eles. Isso a gente divulgou na nota de repúdio com todos os grupos que participam desse trabalho voluntário”, acrescenta.

Outra voluntária do mesmo grupo onde Cássia atua fez contato com o comandante da Guarda Municipal, César Ricardo Aureliano Laurindo, para que ele explicasse o que aconteceu aos moradores de rua da Rampa. A equipe de reportagem do jornal teve acesso a um áudio no qual o comandante apenas cita a ação de retirada dos moradores de rua realizada no coreto da Praça da Matriz, que segundo ele, estava virando local de abrigo não apenas a moradores em situação de rua, como também para o uso e o tráfico de drogas. Porém, ele não citou a ação denunciada na Rampa.

O grupo da voluntária realiza esse trabalho de assistência aos moradores em situação de rua há quase três anos, sendo que este ano foi criado o segundo grupo de voluntários que realiza a entrega de marmitas às quartas-feiras. Além desses dois grupos, ainda atuam junto a essa população o Prover Resende e o Marmitas do Bem. Já os moraradores da Rampa do China costumam sair de dia para garantir a sobrevivência pelas ruas do Centro de Resende e a noite, voltam para dormir no local, depois que a loja nas proximidades fecha sua portas.

O jornal entrou em contato com a Prefeitura de Resende e a Guarda Municipal, que até o momento não se pronunciaram sobre o assunto.

Confira a nota de repúdio na íntegra abaixo:

NOTA DE REPÚDIO.

A Força Tarefa do Bem, PROVER RESENDE, Marmitas do Bem e Quartas do Bem, coletivos formados por cidadãos da cidade de Resende que atuam na atenção a moradores de rua, todos os doadores, aqui representados por Márcia Caden Arrabal e Amanda Velasco e com apoio da UBM – União Brasileira de Mulheres, associação feminista que luta nas causas e enfrentamento à violência contra mulheres e que não admite nas suas fileiras nenhum tipo de discriminação, seja social, racial e étnica, por orientação sexual, vimos por meio deste texto manifestar nossa preocupação em relação à forma como nosso trabalho tem sido prejudicado com a ação de alguns indivíduos que não comungam de nossos pensamentos de generosidade e empatia em relação ao sofrimento do próximo.

Pessoas que se dizem “cidadãos de bem”, mas se sentem “incomodados” com a presença dessas pessoas em situação de vulnerabilidade e que, por não terem onde se abrigarem moram sob as marquises, calçadas e rampas da cidade, sujeitos a todo tipo de intempéries, sofrimentos, violências, por total falta de condições e opções.

Fazemos campanhas entre nossos amigos para doação de alimentos, roupas e produtos de higiene para doar a esses cidadãos, e os distribuímos à noite. Na semana passada recebemos de alguns desses vulneráveis, queixas sobre a atuação da Guarda Municipal, no local conhecido como Rampa do China, que teria, segundo eles, retirado seus pertences e jogado no lixo, dentre esses pertences cobertores, roupas e material de higiene que receberam como doação nossa.

Por meio deste manifesto, nós solicitamos ao poder público municipal que aja em prol da segurança dessas pessoas, garantindo-lhes além da segurança, o direito a uma melhor qualidade de vida, que implica em ter mais abrigos seguros, onde possam pernoitar com segurança, tomar banho, alimentar-se com qualidade e recebam qualificação profissional, para que possam reintegrar-se ao mundo do trabalho.

O nosso movimento social têm esse objetivo, levar alimento e acolhimento a essas pessoas invisíveis, perante o poder público e boa parte da sociedade, garantindo-lhes o direito à vida, já tão ameaçada por pessoas e grupos retrógrados em termos de empatia.

Para nós, a sociedade ideal, empática e democrática é aquela onde todas as pessoas tenham vida em abundância, sem excluídos e marginalizados e principalmente onde as políticas públicas existam e atinjam a todos que delas necessitam.

Continuaremos com nossas ações e também com nossas observações até que não encontremos mais nenhum cidadão morando nas ruas dessa cidade, porque essa é a nossa missão, como também, continuaremos denunciando nas mídias sociais e, se necessário também ao Ministério Público, atos de desrespeito e violência para com essas pessoas.

Foto: Reprodução/Google Maps

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