Conselho Municipal de Saúde recomenda novas medidas após crescimento da Covid-19 em Resende

Live do Comsocial alertou sobre casos crescentes da Covid-19 na região (Fotos: Reprodução)

Nesta sexta-feira, dia 24, a reportagem publicada de um portal de notícias ouviu vários especialistas, que preveem o aumento do número de mortes por Covid-19 nas regiões do interior do estado do Rio de Janeiro, incluindo o Médio Paraíba, onde se localiza o município de Resende. A reportagem cita que as cidades no interior do estado têm registrado nos últimos dias os maiores números de mortes pela doença da média móvel verificados até agora, ao contrário do que vem acontecendo com a capital fluminense, que viveu pico de óbitos há dois meses e agora vê redução das mortes desde 20 de junho, o que indica confirmação de tendência de interiorização do coronavírus.

Essa tendência de interiorização também foi apresentada nesta quinta-feira, dia 23, durante a live “Flexbilização, Resende e Pandemia”, realizada pelo Comitê pela Transparência e Controle Social de Resende (ComSocial). O evento teve a participação da médica sanitarista e conselheira de saúde no segmento gestão do Conselho Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Mônica Almeida, que apresentou dados estatísticos que apontam a ocorrência do pico da Região do Médio Paraíba a partir do dia 6 de junho e a queda por volta do dia 23 deste mês (na capital e Região Metropolitana I, o pico se estendeu entre o final de abril e o início de maio), com transmissão por vias rodoviárias.

– A região tem municípios como Volta Redonda, que estão gritando. Tem os outros que estão com incidência baixa, mas que podem atingir esse patamar, pois tem muita lenha pra queimar. A Fiocruz fez um levantamento mostrando que todos os municípios daqui já possuem casos de covid, e se não me engano, Resende ficou na 28ª colocação em número de casos entre os 92 municípios do estado. E isso não é pouca coisa, e como ela está próxima da Região Metropolitana, os ramais rodoviários trouxeram vírus e a pandemia ainda está em vigor por aqui. Apontando um mapa de 21 de julho da Fiocruz, o número de casos se encontra na região metropolitana, mas que esse número de pintinhas que apareceram no interior mostra um tendência de interiorização da doença e que temos que trabalhar essa realidade – explica a médica.

Os dados alarmantes apresentados pela reportagem destaca na abertura dessa matéria, e também pela médica durante a live do ComSocial, preocupam o Conselho Municipal de Saúde de Resende. Em documento publicado nas redes sociais também nesta quinta-feira, dia 23, o órgão se posicionou em relação a reabertura gradual de comércio, parques, academias, templos e outros locais e atividades no município, realizada desde abril. Segundo o documento, o conselho “vem acompanhando com atenção os números de casos e óbitos por Covid-19 no município de Resende” e que “apesar de apresentar um leve platô na curva de casos e até no número de morte” percebe-se que “este platô não significa uma curva decrescente de infecções”. A recomendação se baseia nos dados do Painel Covid do Conselho Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (CES-RJ) e no painel Covid-Uerj, criado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que apontam “tendência de uma estabilização de casos e mortes, mas ainda num patamar muito elevado”.

A recomendação diz: “Sabemos que é desejo de todos que não tivéssemos nenhuma morte por esta pandemia em nossa cidade, mas não podemos fechar os olhos e muito menos ser insensíveis às dores de nossa gente. Já são 36 famílias enlutadas. Diante dos números atuais no município de Resende (até dia 21/7, 36 óbitos), assim como dos casos de Covid-19 (até dia 22/7, 845) e ainda o crescimento na ocupação de leitos dos hospitais da cidade, nós conselheiras e conselheiros de saúde de Resende não podemos deixar de nos posicionar, mais uma vez, diante do que assistimos e criar uma forma de colaborar para entender porque muitas pessoas no município não estão respeitando as medidas de prevenção e higiene, colocando não apenas a vida delas, mas também de outras pessoas em risco”.

A mesma ainda destaca que os conselheiros tentarão “dialogar nos próximos dias com a população” a partir dos resultados de uma enquete nas redes sociais, além de ouvir “possíveis colaborações e tentando entender porque está tão difícil a adesão, por exemplo, no uso de máscaras e principalmente manter o distanciamento social só saindo para atividades essenciais”.

E encerra fazendo várias recomendações ao prefeito Diogo Balieiro para a adoção de novas determinações municipais, ainda que com prazo determinado, entre elas a ampliação da restrição do horário do comércio durante a semana e aos sábados, estabelecer que o delivery ainda seja a maneira prioritária de atendimento aos consumidores e rever o percentual de ocupação nos hotéis e pousadas da cidade, além de não permitir torneios de futebol nos bairros e manter restrições de eventos e aglomerações.

Em entrevista ao jornal BEIRA-RIO, a presidente do conselho, Zenilda Ferreira Estima Sellan, diz que esta é a terceira vez que o órgão se manifesta em relação a Covid-19: a primeira, quando o prefeito fez o primeiro decreto, e o Conselho fez uma carta aberta apoiando o prefeito e a secretaria de saúde nas duas decisões. A segunda foi se fazendo entender da preocupação dos Conselheiros com a flexibilização do comércio. “E agora fizemos uma recomendação de algumas medidas mais rígidas para diminuir o aumento de casos que vem assustando a população. O aumento de casos foi muito grande e pensamos que essa é a hora de agir, antes que essa pandemia fique incontrolável”, justifica.

Zenilda ainda fala que a população tem procurado os representantes do conselho, quase sempre com as mesmas reclamações: que feche o comércio parcialmente, pessoas sem máscaras nas ruas, aglomerações nos bares, festas familiares, jogos de futebol em locais públicos, feiras livres. “E também sobre a falta de fiscalização, que apesar dos esforços do poder público de editar 16 decretos, parece que as pessoas não estão obedecendo as regras”.

Ela elogia a ação dos participantes da live realizada na última quinta-feira. “Quanto a live do ComSocial, foi muito pertinente nesse momento em que estamos vivendo de medo, ansiedade, e porque não dizer paura. É tudo novo para o povo, e a live teve a participação de pessoas que entende de gente, das necessidades das pessoas mais carentes e pessoas responsáveis. Parabenizo à todos os participantes!”, finaliza a presidente.

“MEIA DÚZIA DE BUZINAS FALARAM MAIS ALTO”
Durante o encontro, que teve também a participação da criadora e diretora do Centro Cultural Visconde de Mauá, Márcia Patrocinio e do ex-secretário de Cidadania e Relações Comunitárias, Paulo César Silva, o Cesinha; além dos dados que apontam a interiorização do contágio do coronavírus, os convidados debateram sobre a principal causa do aumento dos casos na região: as falhas do governo municipal nas medidas de reabertura adotadas pelo poder público, com ênfase na falta de uma testagem em massa, especialmente nos profissionais que precisam trabalhar na linha de frente do combate ao coronavírus, e também na educação e orientação da população para uma adoção mais eficaz das medidas de prevenção e contenção, entre elas o uso correto de máscaras.

Cesinha questionou a falta de diálogo e informação por parte do poder público para orientar a população em relação às medidas preventivas com a flexibilização.

– Quem tem informação é o gestor. À medida que ele transfere essa informação e faz a população decidir como se comportar nessa situação, isso não houve. O que aconteceu foi que meia dúzia de buzinas apareceram pedindo para as pessoas que precisam do transporte público voltassem a trabalhar, sem sequer criar um diálogo com os motoristas de ônibus. Já vi vários deles usarem a máscara como se colocasse um pano no rosto pra amenizar caxumba (máscara embaixo do queixo). A forma adotada de flexibilização provocou confusão nas pessoas, que acharam que já estava tudo normalizado e liberado. Os diversos atores da cidade envolvidos na prevenção da pandemia, os empresários e os políticos, poderiam ter combinado como seria essa reabertura com base em dados (sobre os casos e o número de leitos nos hospitais), e nada disso foi feito. O resultado são esses números alarmantes que estamos vendo agora – disse.

Ele também lembrou que Resende sequer testou a população, ao contrário de outras cidades como Niterói, na Região Metropolitana Fluminense, e São Caetano, no ABC Paulista. A presidente do ComSocial relembrou que os conselhos de saúde ficaram de fora de negociações entre poder público e representantes dos setores da economia. “Os conselhos de Saúde, não apenas em Resende, mas também em outros municípios, em nosso estado e também em outros lugares do Brasil ficaram de lado nesses negociações com as autoridades. As decisões (tomadas para a flexibilização) não estão se pautando pela questão sanitária e sim pelas questões políticas”, completou.

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