Família de bebê morto, em creche, continua sem respostas!

Seis meses e nenhuma resposta. Seis meses passados e até hoje a família do pequeno Eliseu não sabe o motivo da morte do bebê de oito meses, na manhã do dia 10 de maio, na creche municipal do bairro Fazenda da Barra II, em Resende. Na ocasião, a direção da creche municipal e a assessoria de imprensa da Prefeitura de Resende mantiveram a mesma versão de que o menino dormiu e não acordou mais. “Eles dizem que foi “mal súbito”, como assim? A médica (legista) falou pra mim que a causa não foi determinada e que não tinha como saber se foi mal súbito. Por que falam isso o tempo todo? E por que os exames ainda não chegaram? – pergunta a mãe de Eliseu, a dona de casa, Gracielle Sampaio da Silva, em entrevista concedida ao jornal BEIRA-RIO.

A falta de respostas e a falta de apoio profissional como psicólogos, assistentes sociais para a família aumenta a dor do que consideram um descaso. “Uma única vez a psicóloga conversou comigo. Minha filha, meu marido, minha mãe, todos sofrendo até hoje sem qualquer consideração. O prefeito falou por aí que estava dando todo o apoio. Nada disso. Mandou um caixão que estava quase desmontando e mais nada. Na casa da minha mãe, onde o corpo foi velado, o caixão chegou e não tinha nem lugar para colocar. Veio sem um suporte. Minha mãe que pegou uma mesa e depois providenciamos umas flores”, conta magoada Gracielle.

Relembrar o dia da morte do filho, às vésperas do dia das mães, aumenta ainda mais a dor da família que não se conforma em ter deixado o filho saudável pela manhã e algumas horas depois encontrar o filho morto. Gracielle conta que várias pessoas afirmaram que o bebê morreu na creche, mas que mesmo assim o removeram para o posto de saúde e depois para o Hospital de Emergência, a princípio em carro particular que estava com a diretora da escola. “No caminho encontramos a ambulância, eu abri a porta do carro, andando ainda, para levar meu filho acreditando que ele ainda tivesse como ser salvo. Naquele momento eu só orava”, conta a mãe. Já a avó tinha recebido a informação que o bebê tinha morrido na creche: “Me falaram. Eu sei que ele morreu lá. Tinham que ter chamado o socorro na creche e não tirado ele de lá”, acredita Márcia Sampaio da Silva.

No óbito, o local da morte está Hospital de Emergência, mas várias pessoas confirmaram a morte na creche, inclusive a Polícia e a imprensa. No mesmo dia, no G1 dizia: “Um bebê de oito meses morreu em uma creche na manhã desta sexta-feira (10), em Resende, no Sul do Rio de Janeiro. A criança estava dormindo quando a monitora foi acordá-la para almoçar e percebeu que ela não reagia. O bebê foi levado imediatamente para um posto de saúde que fica em frente à creche, no bairro Fazenda da Barra II. Depois, foi encaminhado para o Hospital de Emergência, onde o óbito foi constatado. As informações foram confirmadas pela assessoria de comunicação da prefeitura. Segundo a médica que a atendeu, aparentemente houve um mal súbito, afastando a suspeita inicial de que a criança teria engasgado. O corpo será levado para o Instituto Médico Legal, onde a causa da morte será confirmada. Em nota, a prefeitura, responsável pela administração da creche, informou que está prestando toda assistência à família”.

O BEIRA-RIO, na ocasião, publicou nota informando que a Polícia tentava apurar a causa da morte, até hoje desconhecida.

— Eu só quero justiça e respostas. Tem muita coisa que não bate. Uma sobrinha do meu marido que trabalha lá com o prefeito tomou a frente de tudo e começou a tomar decisões sem a gente saber. Tudo correndo, como se fosse pra gente não ter tempo de pensar, sabe? – essa e outras dúvidas fazem a mãe do bebê Eliseu pensar numa exumação do corpo do pequeno Eliseu para novos exames e saber o que realmente aconteceu.

Eliseu à esquerda e deitado o irmão Isaac

A família de Eliseu ficou traumatizada e resolveu realizar, na rede particular, diversos exames no irmão gêmeo Isaac, atualmente com um ano e dois meses. “Uma das provas que não tivemos qualquer assistência ou apoio do prefeito, que saiu por aí dizendo que estava dando todo apoio, é que tivemos que fazer os exames tudo particular porque ficamos com medo sem saber se o que aconteceu com um poderia acontecer com outro. Mas meu filho era saudável e Isaac também é”, conta a mãe.

Gracielle, o marido Jaílson dos Santos Corrêa, a filha de sete anos, Graciane e Isaac têm vivido dias difíceis. Ela tomando remédios para dormir, ele, caminhoneiro, tem trabalhado sem sossego, o tempo todo pensando no filho que morreu e no bem-estar da mulher e dos filhos em casa. “Meu filho era muito grudado nele (marido) só olhar como ele fica agora com o Isaac”, apontou a mãe para pai com o filho no colo. A filha de sete anos também não teve qualquer ajuda profissional para ajudar a superar a dor que tem se prolongado sem respostas. Na varanda da casa humilde da família de Gracielle, a avó de Eliseu, que foi a primeira a ver o bebê morto no posto de saúde, chora e se revolta: “Quero saber o que aconteceu com meu neto, porque os funcionários da creche queimaram o travesseiro que estava sujo de sangue? Por que lavaram a creche correndo? Não podiam fazer isso não. Um menino que tinha saúde, brincava o tempo todo”, questiona Márcia que contou que na semana seguinte ela e a filha voltaram à creche para saber mais informações e até policial foi chamado para ficar do lado da diretora. “Tinha lá um policial e várias outras pessoas do lado dela e quem perdeu o filho? Quem estava do meu lado? Ninguém. Ninguém me falou o que realmente aconteceu”, desabafa Gracielle que também não sabia que na creche tinha educação física para bebês. “Não entendi isso até agora e ninguém me explicou e tudo aconteceu depois dessa aula de educação física”.

Para a família do bebê a creche deixou de explicar muita coisa, entre elas, porque uma das monitoras em depoimento na polícia falou de doenças que Eliseu não tinha. Uma das monitoras disse que a mãe teria dito no início do ano que o menino tinha bronquiolite e que eram alérgicos e que não podiam usar pomadas com cheiro. “Isso é uma mentira. Ele não tinha nada. Não era alérgico. Nunca falei isso”, diz a mãe que lembra do corpo do filho, já sem vida, com “espuma e sangue” saindo do nariz. No enterro, a família disse notar uma pequena marca na testa do bebê.

O auto de exame cadavérico emitido pela 89ª DP, informa que não foi feito Raio X no corpo porque a instituição não possui o aparelho. E das cinco perguntas deste laudo, quatro ficaram na dependência de exames laboratoriais (foto) que foram enviados para o Instituo Médico Legal no Rio de Janeiro e até hoje sem resultados.

O BEIRA-RIO entrou em contato com a Assessoria de Imprensa do Governo do Estado solicitando informações sobre a demora do laudo, mas até o fechamento desta matéria não havia recebido retorno. O BEIRA-RIO também tentou contato com a Prefeitura de Resende, mas em virtude de decreto adiantando o feriado do dia 20 para dia 18 e falta de equipe de plantão na Assessoria, não conseguiu qualquer resposta.

 

 

 

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