Esse título não tem nada a ver com esse primeiro parágrafo. Há tanto tempo não escrevo para a coluna quem nem sei bem por onde começar. A princípio gostaria de dizer que no dia 29 de agosto, mês passado, eu vi, e certamente muita gente viu, o fim de tarde e início de noite mais bonito de todos os tempos. Nunca presenciara um crepúsculo tão lindo como aquele. Não tirei fotos, mas muita gente deve ter tirado. Ao ver aquela interminável sequencia de ondas cor de rosa contrastando com o fundo azul, pensei: tomara que Pedro Luz e Otacílio Rodrigues estejam com suas máquinas em punho. E toda aquela beleza ocupava um pedaço bem grande do horizonte deixando a Mantiqueira miudinha. Coisa mais linda.
Ana Lúcia e Loliza devem estar querendo me enquadrar. Estou em dívida. Devo confessar que, como colunista analógico, ainda me recinto da mudança do jornal para a moderna fase digital. Nostalgia do papel, talvez. Mas logo-logo tenho a fórmula para uma nova coluna. Mais à frente, confirmo isso. Em atenção ao título acima, devo dizer que a morte sempre me impressionou. Sempre me pareceu um grande desperdício. Antinatural. Embora saibamos que ela é tão natural quanto a vida, quando acontece obedecendo os passos regulares que a existência nos impõe.
Semana retrasada partiu o grande Elton Medeiros. Tinha já aquela idade que nos deixa menos chocados quando a dona da foice vem. Mesmo assim, foi uma passagem sentida. Lembrei que no sábado de Carnaval deste ano, foi embora Alfredo Jacinto Melo, o Alfredinho do Bip-Bip (o menor maior bar de samba do país). Ele e Elton Medeiros criaram no ano 2000 o ‘Rancho Flor do Sereno’, para levar um pouco mais de poesia ao renascido carnaval de Rua do Rio. Passaram alguns anos e como a grana ficou escassa, o ‘Rancho’ se limitou a transformar nas segundas-feiras de Carnaval, a pequena Rua Almirante Gonçalves, em Copacabana, num imenso salão de baile, à base de marchas-rancho de todos os tempos. Uma banda com cerca de quinze músicos, regida por Maurício Carrilho e mais três vocalistas de peso animavam e encantavam os foliões. Gente de todas as idades. Certa vez testemunhei uma canja do tio do regente dessa banda afiadíssima. Esse tio era nada mais, nada menos que Altamiro Carrilho, que, com sua flauta inconfundível, solou, ‘Carinhoso’, de outro flautista precioso e imortal. Me emocionei ao extremo. A multidão cantou a canção de Pixinguinha, e cantou totalmente envolvida por um momento raro, mágico no Carnaval carioca.
Mas falar no querido botafoguense Alfredinho do Bip-Bip, faz lembrar, de Beth Carvalho, de Claudionor Rosa, de Cecília Lamin. Isso só para falar de botafoguenses que foram vizinhos do meu coração e, nos deixaram há pouco. E muitos outros próximos se foram e, estão indo numa proporção que, considero exagerada. A morte me incomoda muito. E incomoda demais saber a quantidade de gente que dá cabo da própria vida. Dias desses a ponte Nilo Peçanha, a Ponte Velha, em Campos Elíseos, se transformou no salto para o nada para alguns que tentaram partir por conta própria. Aparentemente essas tentativas acabaram.
Estamos no mês amarelo. Acima de tudo, um mês de reflexão, e, que sirva também como busca de forças e justificativas para viver, viver muito, apesar, de o país passar por momentos tão desoladores e desestimulantes, como poucas vezes passou. Quando parecer ruim demais, pode ser bom observar a natureza. Os fins de tarde nesses dias ainda são belíssimos. Pedro Luz e Otacílio Rodrigues certamente vão perpetuar essas tardes.
Foto: Otacílio Rodrigues