A rotina de quem se dedica ao social e à cidadania é dura, mas essas entidades resistem!

Trabalho voluntário de refeições para moradores em situação de rua comemora dois anos de existência (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Nos últimos anos, com as mudanças de ideologias nos governos em todas as esferas públicas, seja ela Federal, Estadual ou Municipal, entidades que trabalham pelo social e também para o desenvolvimento da cidadania, que sempre tiveram dificuldades em seus trabalhos, viram esse quadro se agravar com a ineficiência de alguns serviços oferecidos pelo poder público, assim como o desinteresse e a escassez de voluntários para a continuidade e/ou expansão desses trabalhos. Entre essas entidades, estão três que atuam em Resende.

A mais nova delas surgiu há dois anos, quando uma iniciativa do industriário Rui Paiva tornou-se uma esperança para aqueles que reivindicam melhorias na infraestrutura das ruas de Resende, e não conseguem ter uma resposta por parte das ouvidorias dos órgãos públicos e privados. Criado em 2017 para multiplicar um trabalho realizado por uma voluntária em prol de moradores em situação de rua, o Prover Resende tem despertado não apenas a solidariedade, mas também a cidadania.

– O que eu gostaria de vender para as pessoas com esse projeto é a necessidade de ajudarmos uns aos outros. Ainda mais porque em meu dia a dia trabalho em uma fábrica e vejo um grande número de demissões de colegas. Tanto que resolvi criar o Prover Resende depois de uma experiência que tive de coordenar 100 pessoas dentro do meu ambiente de trabalho, quando tive a noção de que cada um tinha os seus problemas e sempre acabava ajudando. Aí acabei sendo demitido também e aí nasceu em mim a vontade de ajudar o próximo – justifica Rui, que herdou do pai a vocação para o voluntariado.

Prover também incentiva e ensina moradores a usar ferramentas da Ouvidoria da Prefeitura de Resende, mesmo com dificuldades (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Ele decidiu levar a experiência adquirida quando era um dos diretores do Kibeleza, um dos blocos do pré-carnaval de Resende, para um novo projeto quando ele e a mulher encontraram nas redes sociais uma pessoa que oferecia comida a moradores em situação de rua, em agosto de 2017. “Ela fazia a comida toda terça-feira, foi aí que nos oferecemos pra ajudar e assim trabalhamos até essa pessoa dizer que não tinha condições de continuar sozinha fazendo a comida. Foi então que fizemos uma campanha e chamamos mais voluntários a participar”.

Foi então que o grupo passou a ter quatro mulheres voluntárias, todas moradoras do bairro Alvorada, que ficavam encarregadas de fazer as refeições em semanas diferentes. O trabalho durou um ano, com os participantes do Prover Resende atuando ao lado de outros grupos que também serviam comida aos moradores de rua. “Hoje, esse trabalho está melhor, pois temos um grupo que prepara as refeições na primeira semana, outro grupo na segunda, e assim por diante”, cita Rui.

Paralelo ao trabalho voluntário, que Rui não tem do que reclamar em relação a ajuda, ele também entrou no campo da cidadania. O industriário tem procurado fazer um trabalho de direcionamento das denúncias de moradores, especialmente relacionadas a problemas de infraestrutura, de forma a encontrar rapidamente uma resposta sobre os casos. “Esse trabalho eu já realizava com a Ouvidoria da Prefeitura de Resende pra intermediar as reclamações do público. E então tive a ideia de criar um grupo nas redes sociais pra facilitar esse procedimento, pois muitos moradores não conseguem ter uma resposta sobre o que perguntam”.

Ele cita o exemplo da moradora de um condomínio no Cabral, que reclamava da falta de iluminação no viaduto que liga o Rodoshopping Graal à entrada da cidade. “A moradora contou que muitas vezes teve que ir ao supermercado atacadista à noite e passava por um local sem iluminação. A orientei a registrar protocolo na ouvidoria, e a Prefeitura respondeu que a iluminação era competência da concessionária que administra a Dutra. Fizemos contato com a concessionária, que afirmou ser respobsabilidade do município. Com o jogo de empurra, encaminhamos o problema ao Ministério Público. Pouco tempo depois, a prefeitura colocou os postes de iluminação no local”, relembra.

Rui Paiva, criador do projeto e do grupo (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Mesmo com o crescimento no número de participações no grupo, inclusive com pessoas interessadas em aprender a utilizar a ferramenta disponível para reclamações na ouvidoria da Prefeitura, Rui lamenta que a mesma ainda deixa muito a desejar em seu funcionamento. “A gente tem uma baita ferramenta que é o e-Ouv (Sistema de Ouvidoria da Prefeitura Municipal de Resende), porém eu ainda o acho muito fraco, não resolve nada. Ele recebe a reclamação do morador, e só encaminha isso ao secretário de Obras pra responder no prazo de 20 dias. Depois disso, a ouvidoria ainda fala que o problema será encaminhado ao responsável e fica só nisso. Temos, por exemplo, uma reclamação feita em abril passado que até hoje não tivemos mais resposta. O sentimento de impotência que temos é esse. Mesmo sabendo que a culpa não é deles, queríamos que ao menos viesse uma resposta clara, nao ficasse enrolando”.

Rui também contesta a informação dada pela ouvidoria, em seu site, de que 100% das reclamaçoes são respondidas e que o órgão sempre entra em contato pra dar alguma satisfação. “Pra mim, que eu me lembre, nunca me ligaram pra responder nada, no e-Ouv estou há dois anos esperando. Outra ferramenta que eu uso, o e-Sic (Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão), pelo menos eles me ligam para dar satisfação”, completa.

Para participar do grupo, basta acessar as redes sociais e solicitar participação no grupo clicando aqui. A página do grupo pode ser acessada por este outro link.

VOLUNTÁRIOS NÃO PARTICIPAM ATIVAMENTE
Outro trabalho de exercício da cidadania, via associações, já existe desde 10 de novembro de 2012. Foi quando nasceu o Comitê pela Transparência de Resende (Comsocial), criada com o objetivo de garantir a transparência nas contas do Poder Público do município. A presidente do comitê, Ana Lúcia Corrêa de Souza, antecipou que haverá um evento no dia 8 de novembro para relembrar a data de fundação. “Vamos fazer uma grande roda de debate com os participantes, e também apresentar um vídeo sobre a Lei de Acesso à Informação (Lei Federal 12.527/2011) e os dados de transparência em Resende e no Brasil”.

Comsocial também tem se preocupado em fortalecer novas classes de trabalhadores, entre elas as doulas (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Desde que foi criado, o Comsocial teve um importante papel na construção de uma lei de transparência voltada ao município (Lei Municipal 1.303/2013). “Graças ao nosso empenho, e especialmente do Gláucio Julianelli (ex-vereador de Resende e ex-deputado estadual), que encabeçou o nosso projeto de lei junto ao Legislativo e ao Executivo, conseguimos a aprovação e colocamos Resende entre os melhores municípios no Ranking da Transparência no país. Tanto que a prefeitura aderiu à legislação na ocasião”, acrescentou Ana.

O comitê está presente na elaboração de denúncias junto ao Ministério Público, investindo na melhoria dos dados da transparência, como também oferece cursos sobre a Lei Federal e o regimento municipal. Este ano, o Comsocial vem investindo em segmentos da sociedade promovendo encontros. “Este ano, promovemos em Resende o I Encontro Regional de Doulas do Médio Paraíba (realizado em maio), pois a gente entende que é necessário fortalecer outros segmentos sociais”.

Ainda assim, o Comsocial vem passando dificuldades para ampliar o número de associados, de acordo com a presidente. “Isso acontece porque apenas a coordenação executiva atua à frente dos trabalhos, os voluntários não aparecem para fazer esse trabalho. E isso dificulta a divulgação do comitê. E isso conta porque acaba prejudicando um trabalho mais efetivo”, lamenta Ana Lúcia.

Por isso, ela faz um convite aos interessados em participar do Comsocial. “Para ser um voluntário, o interessado tem que morar em Resende e não ocupar nenhum cargo comissionado no Poder Público. Nosso endereço fica na Praça Oliveira Botelho, 24, no Centro, e as reuniões são sempre no terceiro sábado do mês, às 16 horas”, completa.

Para conhecer melhor o trabalho do grupo, basta acessar a fanpage do Comsocial nas redes sociais.

“DIFICULDADES E ESCASSEZ DE VOLUNTÁRIOS”
Em meio a todas essas dificuldades impostas para o exercício da cidadania e da solidariedade no município, uma ONG comemorou 40 anos no dia 5 de julho deste ano. Criada por Ângela Campos, a Associação Voluntária Amigos da Solidariedade (Avas), que tem sede no bairro Paraíso, sofre com as mesmas dificuldades típicas de uma entidade com objetivos filantrópicos. “As maiores dificuldades são as financeiras porque entre outras despesas, temos gastos com nossa sede, que é alugada. O nosso aluguel é pago por pessoas que nos ajudam, em especial um grande amigo que ajuda com a maior parte desses gastos. Temos o sonho de ter a nossa sede própria, pois isso nos ajudaria a atender melhor as pessoas. A ONG também tem outras despesas internas, como pagamento de luz e água da sede, além da restauração dos aparelhos doados.

Avas foi homenageada em evento voltado a Pessoa com Deficiência (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Segundo ela, o trabalho nem sempre é valorizado como deveria pelos beneficiados. “Com o desemprego que vem aumentando, triplicou nos últimos anos a procura para ajuda, já que recebemos doações de roupas, calçados, fraldas, alimentos e especialmente aparelhos para doação (cadeiras de rodas e outros equipamentos médicos). Estes últimos nós emprestamos, mas quando a pessoa se recupera ou por outro motivo não precisa dos aparelhos, eles são devolvidos. Porém, nem todos conservam esse material. Gostariamos que as pessoas reconhecessem e tivessem o maior cuidado com os aparelhos que emprestamos de graça”, pede a fundadora da ONG.

Além dos recursos financeiros, que costumam chegar apenas em épocas de campanhas, a Avas também sofre com escassez de voluntários. “Para ser voluntário quase ninguém nos procura. A minha equipe, que é formada, trabalha muito pra atender aqueles que precisam. Sei que precisamos de mais gente trabalhando, mas nós não temos essa facilidade de encontrar essas pessoas”.

No último dia 21, a Avas foi novamente homenageada durante a Semana da Pessoa com Deficiência em Resende, que conta com uma série de eventos promovidos por uma das secretarias do município em prol das pessoas com algum tipo de deficiência. Mesmo com a dificuldade de acesso para conseguir falar com o líder do Executivo.

– Eles (governo) já conhecem o nosso trabalho há muitos anos. Porém, já tentei algumas vezes sem sucesso falar com o prefeito (Diogo Balieiro). Ainda assim, fiquei muito feliz com a homenagem, pois nós da ONG fazemos isso com muito amor ao próximo e apenas com a ajuda de amigos. Já é a sétima vez que a ONG é homenageada, recebemos também homenagens da Câmara de Resende, da Alerj e até do Rotary – conclui Ângela, destacando o trabalho feito pela Avas em prol das crianças com deficiência, que são beneficiadas com a doação de cadeiras de rodas.

Os interessados em ajudar a Avas podem ajudar financeiramente com qualquer quantia. O número da conta é 23475-4, agência 0710 (Sicredi). A sede fica na Rua São Sebastião, 33, no bairro Paraíso. Outras informações pelos telefones (24) 3354-4567 ou 99841-1885.

Fotos da página principal: Arquivo

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