Mudar para um lugar onde já se viveu pode ser entendido como volta. No entanto é um voltar para o futuro. Porque os lugares necessariamente andam com o tempo. Portanto, nunca são os mesmos, tampouco permaneceram no passado.
Voltar para o futuro é reencontrar os amigos e perceber que eles envelheceram, mas continuam nossos amigos. O envelhecimento é um sinal de que as pessoas nunca estão paradas no passado.
E como tínhamos a certeza de que a cada instante estávamos à beira do nosso próprio futuro, fizemos coisas do passado. Nos portamos sem medo da poeirenta estação do ontem! Bebemos cerveja e rimos alto. Formamos uma verdadeira confraria onde o pré requisito para participação era conhecermos uns os defeitos dos outros. Quando isso acontece podemos usar menos disfarces, tal como um dia quente no litoral nos força a usar menos roupas, ou pelo menos peças mais leves.
Amigos do passado nos ajudam a recordar situações distantes. E também a decretar que somente aquele eu podia tomar aquelas decisões. Aos poucos os convivas foram se despedindo. E o mais honesto foi perceber que os que sobravam entre as mesas cheias de copos e pratos vazios, não viam ali situação mais cômoda para segredar juízos.
Nós não voltamos, nós fomos. E mesmo que os amigos sejam do passado, agora eles estão conosco, à frente, num novo tempo de sempre.
Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br