QUEM PENSA?

“Levantemos a voz por aqueles que não podem fazê-lo”
“Agora tenho que entrar nessa política e virar militante. Que jeito? A procura do meu filho, e depois dos filhos das outras, me envolveu completamente. Quando a minha moda já estava fazendo sucesso e parecia, finalmente, que ia dar certo financeiramente depois que inaugurei a loja na rua Almirante Pereira Guimarães, 79ª, no Leblon. Como não viver o drama das outras mães que não tinham coragem ou, às vezes, nem tinham dinheiro para sair pelo mundo gritando, como eu fazia para procurar meu filho desaparecido, isto é, assassinado na tortura? Que todo mundo sabia e fingia que não sabia: torturado e assassinado nos porões da PE na rua Barão de Mesquita, no Cisa ou no Cenimar, nessas milhares de masmorras que a ditadura criou pelo Brasil afora”.
Essas palavras estão nos primeiros capítulos do livro “Eu Zuzu Angel, procuro meu filho”. Uma história triste da realidade de um período que muitos brasileiros gostariam de esquecer, mas outros fazem questão de lembrar, até para que a história não se repita. Como Zuzu Angel, várias mães, pais, filhos, maridos e esposas procuraram por seus entes sem o direito de pelo menos sepultarem os corpos que jogados em valas, pelo sistema, tornaram-se apenas números.
O artigo dessa semana é uma homenagem a todos os desaparecidos e a Stuart Angel, o filho de Zuzu Angel, que foi lembrado essa semana, pois seu nome agora está estampado numa escola estadual de Senador Camará, no Rio de Janeiro e também para marcar – essa memória, apesar de dolorida, precisa sempre estar presente – o mês de março, pois dia 31 completam 49 anos do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart.  Até hoje, tem gente que ainda conta a história como se a tortura, as mortes e os desaparecimentos fossem ficção e outros ainda confessam que sentem saudade daquela época. Credo! Saudade de um tempo em que nossos irmãos eram obrigados a se anular, do contrário era considerados inimigos do Brasil. Como sentir saudades desse tempo? Não consigo compreender, que ainda nos dias de hoje, com tanto acesso às informações e aos documentos as pessoas ainda se rendem às ideias de um Brasil mais justo nas mãos dos militares como vivei por quase 30 anos.
Escrevo também sobre esse tema, porque dia desses conversando com um militar da reserva do Exército, morador aqui de Resende, ele dizia que a cidade ainda carrega muito o ranço do que foram esses tempos. Referia-se às pessoas que ainda “temem” a opinião dos militares. Eu discordei, é claro. Porque nem os militares são tão obtusos como eram antes, como também a população agora, com mais acesso, não referencia cegamente a farda.
As Forças Armadas integram uma importante força do Estado, mas com definições claras sobre sua vocação e atuação. Acredito sim que existam pessoas ainda desinformadas que consideram aquele tempo (a ditadura) muito bom, mas não acredito que Resende seja subjugada ao ranço militar, pelo contrário, a cidade cresce numa perspectiva diferenciada, ainda com muito problemas, é verdade, em busca de sua identidade, também é verdade, mas se mostra autônoma em suas decisões. E penso que a integração da Academia Militar das Agulhas Negras, por exemplo, com a comunidade resendense ainda é tímida, muito tímida. Talvez por isso, alguns acreditem que existem influência sobre decisões políticas por exemplo no município. Não penso assim. Existem empresas que também estão na cidade e que pouco se integram com a comunidade. Mas este é um outro assunto e nada tem a ver com influência ou poder. É apenas uma forma de condução ainda pouco integradora ou limitadora das instituições ou empresas que não exergam na comunidade potencial de parceria e construção. Coisas a superar.
Se alguém tiver interesse na história do Stuart Angel posso emprestar o livro no sistema VVV, ok?

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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