O Sol de inverno

São três horas da tarde e as pessoas querem saber por que eu não saí de casa. Eu me movimento, preparo um café, mas retorno. São três horas da tarde e as lagartas ainda comem as folhas do maracujazeiro. Eu sei. Já vou resolver esse problema também. Contudo as pessoas estão focadas apenas em saber por que eu ainda não saí de casa. Eu me levanto e bebo devagar um copo de suco de manga. São três horas da tarde e as mudas de roseiras vermelhas esperam ansiosas para serem transplantadas para o grande chão do mundo. Eu sei disso. Todavia as pessoas não querem saber de outra coisa que não seja o motivo que me leva a não ter saído de casa, ainda. Eu me levanto e bebo um copo d’água. Dizem que são necessários dois litros por dia. São três horas da tarde e o sol já emagreceu. Só agora eu entendo porque as árvores perdem as folhas no inverno é para que o mundo aproveite melhor a luz tão rareada. Agora eu sei. Mas esse problema eu não poderei resolver. Por isso, agora sim, saio de casa. Afinal, preciso livrar as folhas do maracujazeiro das lagartas famintas; preciso cavar os buracos para plantar as roseiras e deixar que floresçam.

São três horas da tarde e as pessoas querem saber por que eu ainda não saí de casa. Garanto que isso nada tem a ver com a crônica. Foi esse sol de inverno quem me ludibriou. Por pouco não passo o dia todo em casa, bebendo café, suco de manga e água.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

Você pode gostar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O limite de tempo está esgotado. Recarregue CAPTCHA.