“Intervalo temático”

Nessa semana as redes sociais se ocuparam em desferir severas críticas à escola IENH de Novo Hamburgo, cidade de porte médio que se localiza no Estado do Rio Grande do Sul a 42km da capital Porto Alegre. O motivo foi uma atividade apresentada como “intervalo temático” e que foi promovido pelos formandos do terceiro ano do Ensino Médio. O evento que ocorreu dentro dos muros da escola e certamente contou com a conivência da direção, da coordenação e dos professores chamava-se “Se nada der certo”. Os estudantes foram fantasiados com profissões que poderiam exercer caso não conseguisse fazer uma faculdade e precisassem ganhar a vida apenas com a escolarização conseguida até ali.

Sendo assim, fantasiaram-se de garis, faxineiras, operadores de telemarketing, vendedores de cosméticos, motoboys, vendedores ambulantes de água, cerveja, pedreiros, etc. A despeito do propósito de incentivo que pudesse reverter em um esforço nos estudos, a mensagem foi ouvida pelas pessoas do outro lado do muro como um desacato, uma desvalorização direta às profissões mais humildes.

Todos ali viraram alvos e ninguém foi poupado.

Novamente fica evidente que o trabalho aqui no Brasil é um castigo e não há profissão a ser valorizada que não seja obtida com o diploma de nível superior – salvo o ofício de artista e/ou celebridade.

Imediatamente me lembrei da minha sobrinha que mora nos EUA. Em janeiro do ano passado, quando nos encontramos, a mãe, que é minha irmã, tratou de me contar a novidade dizendo que essa minha sobrinha, então com 17 anos, não pensava em outra coisa a não ser no novo emprego, na lanchonete Dunkin’ Donuts, onde exercia a função de fazer o café. De tão encantada, pois não falava em outra coisa, foi que minha irmã brincou dizendo que ela nem pensava mais em ir para o College, cujo correspondente não existe aqui no Brasil, mas é algo como a universidade. Foi, então, que minha sobrinha meigamente me ofereceu seu ponto de vista:

– Sabe, tia Angela, a minha mãe não entendeu nada. Eu estou me esforçando para que a minha supervisora sinta que pode me possibilitar outros trabalhos com mais responsabilidades. Quero ser promovida e servir café aos clientes, depois trabalhar no caixa. Quero que ela me veja como uma pessoa confiável. E eu estou me esforçando e fazendo o melhor que posso porque é a última oportunidade que eu tenho de trabalhar no subemprego antes do College. Eu preciso fazer o melhor.

Cabe pontuar que os pais, minha irmã e meu cunhado, são médicos e renomados cientistas pesquisadores na Universidade de Harvard. Eles valorizam o trabalho e ensinam isso aos filhos.

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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