Barra Mansa realiza audiência pública sobre Centro de Memória

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Audiência esclareceu trabalhos da Comissão da Verdade e de grupo que trabalha na criação de centro

Foi realizada no final da manhã desta terça-feira, dia 29, no Teatro Tulhas do Café, no Parque da Cidade de Barra Mansa, a primeira das audiências públicas sobre a criação de um Centro de Memória dos presos, torturados e mortos no antigo Batalhão de Infantaria Blindada de Barra Mansa (BIB), que funcionava no parque. O evento contou com a presença dos membros do Grupo de Trabalho criado pelo Ministério Público Federal (MPF) e empossado pela Prefeitura de Barra Mansa; dos membros e participantes da Comissão Municipal da Verdade Dom Waldyr Calheiros, de Volta Redonda; professores e alunos da rede municipal de ensino, além de personagens que vivenciaram esse regime de prisões e torturas no Sul Fluminense.

O evento serviu para que fossem apresentados o trabalho conjunto entre entre prefeitura e MPF, que assinaram em novembro de 2016 um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para a instalação de um Centro de Memória, além dos trabalhos que geraram o relatório final da Comissão Municipal da Verdade de Volta Redonda, com abertura para perguntas do público presente.

– Nossos trabalhos começaram em janeiro deste ano, após a posse dos membros, em dezembro do ano passado. Desde então, foram cinco reuniões para começarmos a pensar como será a construção desse centro de memória, conversamos com as vítimas do regime aqui na região, negociar esse projeto com a prefeitura local e também consultar especialistas em arquitetura e exemplos de outros centros de memória às vítimas das ditaduras no Brasil e exterior pra nos espelharmos, além dos relatórios – cita o coordenador do Grupo de Trabalho, Raphael Lima.

Para o coordenador da Comissão Municipal de Verdade de Volta Redonda, Edgard Bedê, a ideia da construção do Centro de Memória no Parque da Cidade acontece em decorrência das 21 recomendações do relatório final da Comissão. “Esperamos que isso seja transformado em um Centro de Memória para que a sociedade brasileira não esqueça das atrocidades que foram cometidas contra os Direitos Humanos para que isso nunca mais se repita”, acrescenta.

A comissão criada em Volta Redonda investigou entre os anos de 2013 e 2015 os casos de violações dos Direitos Humanos durante a Ditadura Militar no Brasil, entre os anos de 1964 e 1989, no município. Os presos da época – em sua maioria sindicalistas, religiosos militantes e comunistas – costumavam ser levados para o antigo BIB, o que motivou a construção do centro. “Foram 14 casos investigados pela comissão, sendo 11 ainda no período da ditadura, e os três últimos no que podemos chamar de Ditadura Tardia, no ano de 1988”, explica Bedê.

Vicente Melo, um dos ex-presos da ditadura em Volta Redonda, esteve no evento
Vicente Melo, um dos ex-presos da ditadura em Volta Redonda, esteve no evento

Os três últimos casos são os das mortes de três operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN, que era estatal na época), durante uma greve; o do assassinato do sindicalista Juarez Antunes e a explosão do monumento em homenagem aos operários mortos. Um dos personagens desse período negro da História do país, o jornalista Vicente Melo – que foi preso pelo regime duas vezes, uma em 1969 e outra em 1970 – opina sobre e oportunidade de falar sobre essa fase.

– A criação dessas comissões para mim foi uma espécie de terapia, de uma recuperação emocional, pois tivemos a oportuniade de contar o que sabíamos, o que nos afligia e não podíamos fazer antes. A ditadura militar foi uma mácula de obediência em nossa sociedade, pois as pessoas não podiam discordar da opinião de quem mandava e isso tirou a autonomia do povo. E a criação desse centro é uma forma de evitar que esse passado caia no esquecimento e se repita novamente – conclui Melo.

Até o final de maio (ou início de junho) está prevista a última audiência, quando também se encerram os trabalhos do grupo coordenado por Raphael Lima.

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