Crônica de última hora

O cronista demora a enviar o texto. Sabe da hora e da data, entretanto, ainda assim não se abate. Talvez seja soberbo – pensa um amigo. Todavia seu cachorro de estimação sabe que, na verdade, ele passa o dia, a semana, o mês investindo contra sua presa. E que, tal como qualquer predador, faz várias investidas para obter um único sucesso que lhe garanta a sobrevivência, neste caso, literária.

Passa bem o leitor que de nada sabe. Tem sempre o texto na edição que o jornal lhe oferece. Degusta o sabor da mensagem, talvez sorria, talvez resmungue. Em todo caso, não se preocupa de véspera. Isso sim, ocorre a editora. Essa deve olhar o relógio e pensar no está se passando com a crônica que ainda não chegou. Falta pouco para a próxima edição!

Volto ao cronista – não é que ele tenha um coração de pedra. No entanto não vagueia pela preocupação alheia senão para fazer valer a crônica. Para ele não há lugar, escreve onde for e como for. Seu problema não é com o espaço e sim com o tempo.

E quantas vezes tem o texto pronto a entregar, mas algo lhe acontece com uma força tamanha que não pode deixar de ser crônica. Eis que as palavras aparecem, são confusas e entorpecidas. Contudo cabem em um pedaço de papel.

Já ouvi cronistas dizerem que os textos que eles mais gostaram, depois de prontos, parece que sequer foram lidos de tão despercebidos que passaram.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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