Resendense avalia Jogos Olímpicos da Rio-2016

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Marcelo (à esquerda) vibrando com colega de locução durante provas do Tiro Esportivo

Depois de anunciar a primeira medalha do Brasil na última edição dos Jogos Olímpicos, o jornalista e professor resendense Marcelo Almeida também opina sobre a organização da Rio-2016, a falta de visibilidade da maioria esportes, o investimento militar nos atletas e o desempenho do Time Brasil.

– O brasileiro tem em seu DNA uma capacidade de criar extraordinária; o que ficou evidenciado no magistral 14-bis com Santos Dumont a bordo, na Cerimônia de Abertura, a qual tive o privilégio de assistir. Mas parece que desta vez, até a disciplina e o planejamento – duas das maiores fragilidades nossas – resolveram dar as caras. E o resultado foi de calar a boca dos cientistas e de setores da mídia global que torceram até o fim para que o Zika vírus e a violência reinassem, cita o resendense, em relação à organização dos Jogos.

Ele ainda criticou a opinião pública internacional. “Aplaudir um sul-americano incomoda muitos mundo afora. Tiveram que nos engolir no melhor estilo Zagallo. Cadê eles agora para se desculparem em público? A grande verdade é que fomos marginalizados perante a opinião pública mundial. E em matéria de evento esportivo de magnitude internacional – depois de um Pan, Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas – definitivamente mais nada temos a provar ao mundo”, acrescenta.

FALTA DE VISIBILIDADE DOS ESPORTES
Marcelo vem acompanhando as críticas feitas por Felipe Wu ao investimento feito no Tiro Esportivo, e também engrossa o coro de críticas ao lado do atleta. “No lugar dele como atleta profissional de uma modalidade, que por total ignorância ainda é associada à violência e que ainda possui uma altíssima tributação para importar armas, munição e acessórios, qualquer redução de investimento tem de ser vista como desastrosa”.

E também não poupa críticas à falta de visibilidade da maioria dos esportes olímpicos. “Sempre fui favorável a uma mais ampla exposição na mídia – sobretudo na TV – de modalidades de baixo interesse por parte do público, no Brasil. É óbvio que a ideia jamais é tornar o tiro esportivo um esporte de massa – ainda que na China um atleta de tiro seja abordado nas ruas para fotos e autógrafos. No entanto, se o sujeito que pratica, por exemplo, badminton ou canoagem, e tais esportes são ignorados em detrimento do futebol, o que vai atrair potenciais patrocinadores em busca de uma maior visibilidade de suas marcas?”, acrescenta.

Nem as transmissões do futebol no Brasil e o destaque ao maior craque da atualidade da Seleção escapam às críticas. “Sou contra essa monocultura obsessiva e a espetacularização do futebol, um esporte decadente em nível técnico e deteriorado pelos recentes escândalos de corrupção na alta cúpula da Fifa. Neymar usa a sua bandana ostentando Jesus, mas ofende torcedores no fim da partida. Tétrico exemplo”.

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR
O resendense também destaca a importância das Forças Armadas no esporte nacional. “Costumo dizer que se o Brasil ainda funciona deve muito ao planejamento estratégico que o militarismo adota”, frisa.

Ele diz não ver problema na continência prestada pelos atletas que sobem ao pódio. “Não sei qual é o problema de um atleta subir ao pódio e prestar continência como alguns tentaram polemizar. Sinto que ao envergar uma farda militar em algumas competições, e a representar as Forças Armadas, o atleta passa a incorporar não apenas o desejo de representar o país, mas também a Pátria amada, algo tão facilmente descartável e comercializado infelizmente na atualidade”.

Ele reconhece a importância do programa de incentivo militar nos atletas. “Se as políticas do desporto nesse país ainda se limitam aos discursos, interesses e desvios de verba revoltantes, algo premente e drástico tinha que ser feito. E o programa de incentivo ao atleta das Forças Armadas está assumindo um papel que fez uma imensa diferença nesses Jogos. Basta dizer que das nossas 19 medalhas, 13 foram conquistadas por atletas das Forças Armadas.

TIME BRASIL
Ainda assim, Marcelo diz que essas Olimpíadas tiveram um caráter de socialização para o país que jamais havia presenciado em outras edições dos Jogos. “Heróis tupiniquins, que personificam com maestria o que temos de mais genuíno: a capacidade de driblar as adversidades. Aí você vê um Isaquias (Queiróz, da canoagem de velocidade), único brasileiro com 3 medalhas em uma só edição dos Jogos; Rafaela Silva (judô), Robson Conceição (boxe) e Thiago Braz (salto com vara), um trio que encarna essa garra brasileira de jamais capitular, percebe-se nitidamente que o esporte olímpico brasileiro ganharam nome e sobrenome típicos de estratos mais populares da nossa sociedade”.

Por outro lado, ele acredita que o desempenho poderia ser melhor. “Retrato de avanços, sim, porém soa muito acanhado para 200 milhões de habitantes. Tudo muito desproporcional ainda comparado a outros países que ficaram à nossa frente no quadro de medalhas”, conclui.

Leia também: Privilégio de anunciar o primeiro medalhista brasileiro no Rio

Fotos: Divulgação

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