Uma mulher de paladar autêntico

— E como foi que vocês se conheceram? Perguntou Isabel ao casal de amigos.

— Em uma padaria em Jundiaí. – Carla disse olhando para o marido.

— Mas como foi isso? – Insistiu Isabel que emendou com risos: O pedido de casamento também foi feito na padaria em Jundiaí?

— Não, foi o que ela me disse. – Respondeu Jean e correu a se explicar perante a careta de desentendimento de Isabel: Já nós conhecíamos de vista. Mas ela sempre séria e sozinha. Até que em uma tarde de junho lhe ofereci um chocolate quente e ela me disse não. E permaneceu sentada onde estava com sua revista e um silêncio tão infinito quanto um ponto final em um livro desinteressante. – Carla riu e ele continuou o relato para a amiga: Eu não queria que ninguém tivesse ouvido aquela negação. Mas todos que tinham olhos haviam visto. Afinal de contas um não daqueles tem cheiro, textura, cor, peso, profundidade…

— Tentei me confortar pensando que ela dissera não pro chocolate quente, não pra mim. Pois se havia neste mundo quem gostasse de sorvete de pistache haveria também quem dissesse não para um chocolate quente. Era uma questão de paladar. Então cheguei a conclusão de que essa era a mulher da minha vida. Uma mulher de paladar autêntico.

— E depois desse não o que você fez? – Perguntou Isabel mais uma vez.

— A espera dela passei a frequentar a padaria todas as tardes. Fiz uma lista de todas as bebidas quentes possíveis, inclusive conhaque e fogo paulista. Alguma coisa ela aceitaria.

Os três riram e ele finalizou a história: Graças a Deus não fomos tão longe. Um café bastou.

Rafael Alvarenga
escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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