O Brasil de hoje é melhor que o Brasil de ontem!

Quem disse que seria fácil? Quem disse que exercitar a democracia evitaria os embates e os abusos? Quem disse que democracia seria o fim da corrupção? A democracia ainda que pareça, em determinados momentos, a lei do mais forte ou dos que conhecem bem a lei para driblá-la. O regime democrático, no popular, pode ser entendido como tudo junto e misturado. Isso não é ruim, mas há de se considerar, no nosso país, a busca do poder que muitas vezes se mostra incompatível, não com o regime, mas com o sistema republicano que deveríamos nos orgulhar de ter. Haverá os que dirão, aqueles que sempre têm a opção de Miami, que o Brasil está mais para republiqueta, mas pouco percebem que os conflitos que vivemos nos últimos tempos poderão ser exatamente a consolidação desse processo e entendimento da coisa pública.

Tá difícil, é verdade, mas ainda assim considero o Brasil de hoje muito melhor que o Brasil de ontem. A polarização instalada no país ganha força quando representantes, das instituições fortalecidas neste regime democrático, perdem o controle e parecem que também a capacidade cognitiva e de dissociação entre o que desejam ao se mirarem no espelho e o que fundamenta os princípios democráticos.

O Brasil não precisa de super-heróis, aqueles de peito de aço e capas voadoras, sabe? Também não precisamos de juízes que querem prender para aparecer no Jornal Nacional ou promotores que precisam de holofotes. Precisamos de pessoas independentes que investiguem qualquer um, mas sem atropelar os ritos da presunção da inocência, ainda que o investigado seja mais sujo que pau de galinheiro e presida uma câmara federal, ainda que o investigado já tenha sido delatado cinco vezes na Lava Jato, ainda que seja um ex-presidente. Precisamos de polícia que faça mais do que supor, que investigue e prove de fato a responsabilidade seja lá de quem for. O que não podemos mais é assistir diariamente as ações pró-manchete da grande mídia.

Seria interessante que por um momento os atores políticos dessa novela que se tornou a Lava Jato se colocassem no lugar da maioria da população. Eleitores com menos acesso às diversificadas informações e opiniões e que já incorporaram as investigações e as etapas da investigação como mais um capítulo de uma novela da Globo. A ação do juiz Sergio Moro contra o ex-presidente Lula, criticada por seus pares, demonstra que o jovem juiz que talvez queira mudar o conceito de corrupção, denota em suas ações, que a corrupção tem barba ou tem uma única sigla partidária, assim como o promotor de São Paulo que numa ação de chutar o pau da barraca resolve denunciar Lula por lavagem de dinheiro na compra de um apartamento (o triplex) que não está no nome do acusado e mais, que ainda a família interessada no imóvel, desistiu e recebeu dinheiro pago de volta. Como pode? O dinheiro da lavagem voltou? Seria cômico se não estivesse estampada essa necessidade de criminalizar de qualquer jeito PT, Lula e Dilma.

Investiguem corretamente e se tiverem provas, respeitando o direito dos acusados façam o que têm que ser feito e não se pautem pela disputa apaixonada e partidária que essa investigação tem se mostrado. Investigar e punir empresários e políticos mostra que estamos melhor do que ontem, mas o exagero e a vaidade pode colocar tudo a perder. As instituições podem perder credibilidade ou simplesmente serem disputadas pelas correntes pró ou contra governo. É isso que queremos? Quando Moro, PF e cia começarem de fato, a estabelecer o combate à corrupção, não pelo individual, mas pela transparência necessária à coisa pública, aos negócios públicos inerentes à República que nos orgulha por pertencermos, penso, teremos mais do que políticos que gostamos ou não na cadeia. Teremos um avanço na democracia, e mais: poderemos realmente entender a conduta política republicana, que tem interesse no que é de todos e não do que ainda acreditam ser de ninguém.

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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One thought on “O Brasil de hoje é melhor que o Brasil de ontem!

  1. Pra não dizer que não falamos dos espinhos, ter os povos nas ruas, em massa, não é sempre sinal de mudança popular. Em 1964, os setores conservadores da sociedade tremeram com a “ameaça comunista” (ainda com Jango no poder), que representava, na verdade, uma “ameaça” à propriedade privada e foram às ruas, em meio milhão de pessoas, com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Dias depois, instaurada a Ditadura Militar, um milhão de pessoas marcaram presença na Marcha da Vitória, comemorando o início de duas das piores décadas que já vivemos. Estamos preocupados com o rumo que esse levante popular pode tomar e com a associação dele a um discurso midiático vazio. É mais do que evidente o elitismo nas ações do judiciário brasileiro em todos os níveis. É incontestável até mesmo para juristas o rigor excessivo que pune negros e pobres e, a leniência na aplicação de penalidades à classe média e aos ricos (alguns chegam até a achar isso justo). Entre os políticos a seletividade é nítida também. No andar de baixo, a solução é mais difícil e exigirá uma mudança de mentalidade que levará muitos anos para acontecer. No de cima, bastaria que atuasse com Cunha, Renan, Bolsonaro e com os tucanos graúdos com o mesmo apetite que tem demonstrado em relação aos petistas.
    Casa Grande com discurso iluminista e prática de Senhor do Engenho não convence ninguém.

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