QUEM PENSA?

Entre nossos desafios pessoais e os desafios que precisamos enfrentar coletivamente tem no meio do caminho a pergunta que nunca cala e que serve como um autocontrole: vale a pena? Autocontrole porque estamos sempre nos limitando em nome da boa convivência, mas com o passar dos anos, vamos ficando talvez, menos cortês e mais sinceros. Dizem que dificilmente a sinceridade combina com delicadeza. Por um lado isso é muito positivo, por outro, sabemos que há quem prefira não ouvir o que os outros pensam. Talvez no discurso, mas não na prática, pois vivemos uma sociedade hipócrita e egoísta. Dependendo da profissão que exercemos, isso parece ser mais difícil. No Jornalismo está muito difícil, confesso. Atuo na área há mais de 20 anos e a cada dia encontramos mais dificuldades para fazer jornalismo.

Aumentou o número de pessoas que se consideram jornalistas, sem nunca terem pisado numa redação, trabalhado como repórter ou sentado num banco acadêmico que lhe desse noção da relação entre a teoria e a prática profissional, mas ser arvoram a falar de ética jornalística e acreditam conhecer as técnicas de apuração e reportagem. Gente insuportável, provavelmente gente sem profissão ou incompetente mesmo no que fazem, porque o verdadeiro profissional sabe que o aprendizado é diário, não se esgota, imagina querer ditar regras de outra profissão, mas o jornalismo tem dessas coisas. Viva a Internet, mas abaixo quem recorre a ela para listar conceitos equivocados ou fracionados sobre o jornalismo. É bem verdade, que temos visto, a grande mídia fazendo questão de descaracterizar a essência do trabalho da imprensa e tem conseguido.

Uma pesquisa de 2011 mostrou que caiu a confiabilidade na imprensa, mas de longe, ganha dos governos e das instituições políticas. Não considero essa percepção tão ruim assim. Pelo contrário. Repetir o que se ouve na mídia sem qualquer avaliação, comparação e contextualização me parece assinar um cheque em branco. Por que tem que confiar cegamente no que o “repórter” fala. Não. Ouça, assista, leia, mas sempre tire suas próprias conclusões. Essa é a máxima. É preciso perceber o quanto se dá espaço ao contraditório.

O jornalismo está desaparecendo, o sonho acabou. Aquele sonho do jornalismo investigativo, hoje em dia até mudou de nome isso: é jornalismo de precisão. Ninguém quer saber de investigar nada. Apurar os dados que alguém apresenta e ser fiel a eles parece ser suficiente para alguns órgãos de imprensa vender suas informações.

Sim. O jornalismo ao ser comprado, porque ele é, deve responder ao “consumidor” e conferir o cumprimento do seu papel. Mais eis a questão, qual o papel do jornalismo hoje em dia?

Poxa, que bom poder falar sobre isso. O jornalismo se caracteriza pela denúncia, por descortinar aquilo que tem gente querendo manter escondido. Jornalismo não traz boa notícia. Isso é com a propaganda. Jornalismo surge na Roma antiga para trazer os fatos políticos. Isso mesmo. Jornalismo que não trata de questões políticas não é jornalismo. Mas tratar é muito diferente de se deixar cooptar ou comungar com os poderes instituídos. Existem alinhamentos, é verdade, mas a independência é necessária. Independência por favor e não imparcialidade. Porque isso não existe. Aliás, é a coisa mais equivocada dita por quem pensa que entende de jornalismo: “jornalismo tem que ser imparcial”. É a maior falácia difundida para enganar as pessoas. Jornalismo é feito por pessoas. É um produto de uma empresa, logo tem uma posição, mas pode ser independente.

A profissão está em extinção, pelo menos em seu modelo tradicional. E falo isso não apenas pelo ponto de vista da formação profissional questionada pelo STF que mantém a decisão de que para atuar como jornalista não é preciso cursar uma faculdade, não precisa de diploma. Percebo que os profissionais desistiram ou optaram por caminhos melhores remunerados e menos cansativos. Não se incomodam mais com as razões que impulsinavam a escolha profissional, conformaram-se com a nova proposta que exige tanto em termos técnicos, mas negligencia a formação intelectual.

Apesar do quadro, tô na área. E continuo sonhando. No JBR o jornalismo está presente. É a sua marca há 16 anos.

Feliz Natal e Feliz 2013. Temos novidades no próximo ano. Fique ligado no nosso site: www.jornalbeirario.com.br

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

Você pode gostar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O limite de tempo está esgotado. Recarregue CAPTCHA.