QUEM PENSA? Por que o governo Rechuan quer culpar moradores pela Dengue? Não cola!

Penso que a matéria das páginas 11 e 12 sobre esse surto da dengue na cidade de Resende está bem esclarecedora, com a colaboração de um especialista na área de saúde pública. E chama atenção para a responsabilidade do poder público que, até o momento, vemos apenas apontar o dedo para moradores que supostamente deixam seus quintais acumularem água para a proliferação do mosquito que, infelizmente, fez uma vítima fatal este ano no município. Além de repetitivo, o discurso governamental é só para tentar desviar a falta de políticas públicas preventivas, ou seja, serviço público mal feito.

A culpa é da população, insistem as autoridades de Resende. Até vereador sem noção anda falando essa besteira por aí. Quem administra essa bodega? Quem tem plano de contingência? Quem tem metas a serem cumpridas? Há pouco tempo em reunião no Conselho Municipal de Saúde, mais precisamente em setembro foi analisado o Plano de Contingência da Dengue 2014/2015, um documento com 60 páginas e tudo muito bonito. No papel.

Só o Plano de Ação contém 20 páginas e é sobre ele, penso, o Conselho Municipal de Saúde, que atualmente estou como presidente, tem a obrigação de se debruçar durante todo esse ano para ver cumpridas suas metas. Os conselheiros aprovaram o Plano sem muitos questionamentos porque como disse no papel tudo parece que teremos mesmo um futuro brilhante, igual aquele cantado na campanha de reeleição do prefeito, agora cassado, José Rechuan.

No Plano, sobre “Combate ao vetor” tem lá escrito: Adequar os recursos materiais (equipamentos, materiais e insumos), onde a Saúde teria que “manter os equipamentos de aspersão de inseticidas, EPIs disponibilizados; e, adquirir, se necessário, veículos suficientes para o desenvolvimento das ações”. Estas ações deveriam ter sido realizadas em novembro e dezembro de 2014, de acordo com o cronograma do plano de ação. Sabemos que uma forte chuva no final do ano passado destruiu parte, inclusive telhado do Centro de Controle de Zoonoses do município (CCZ) e até hoje a situação é de completo descaso do poder público que endividou o município e jogou os servidores para o Parque de Exposições e du-vi-de-o-dó que tenha priorizado as metas estabelecidas no Plano de Contingência.

Não à toa, o secretário de Saúde, Daniel Brito vive se indispondo com o prefeito solicitando mais recursos para várias áreas. Sem sucesso, ameaça deixar a Secretaria criando um desgaste para o próprio gestor da pasta e, claro, cria uma insegurança para este setor fundamental para a população. Rechuan continua se pautando pelo interesses eleitorais e agora, com a cidade dominada por Dengue, tendo que recorrer à Secretaria Estadual de Saúde e à Aman para ações que deveriam ter sido feitas durante todo o ano passado, coloca o município, além de endividado, na lista das cidades doentes. Belo futuro esse que nos arrumou o médico Rechuan.

Outra: em agosto do ano passado, a Superintendência de Atenção Básica tinha como meta “Estabelecer a cobertura populacional” com ações que incluíam “Cobertura de 50% de Estratégia de Saúde da Família; e Cobertura de 74% de Atenção Básica”. Pois bem, até o momento isto não foi apresentado ao Conselho Municipal de Saúde, mas espero sinceramente que o trabalho tenha sido realizado e a justificativa para este surto seja logo encontrada, porque falar que a culpa é da população, não cola. Exatamente porque o poder público tinha essa meta a ser cumprida e se não cumpriu está muito clara a responsabilidade pelo caos que está dominando o município. Percebemos, que na maioria das vezes, os planos de trabalho são feitos a lá CTRL C + CTRL V. Não raras vezes encontramos datas erradas nesses documentos, porque a revisão é negligenciada e pelo jeito, as ações também. Nos resta, esclarecer quais as razões que estão levando a essa situação.

E mais outra: o governo municipal não atualizou os salários dos agentes comunitários, assim como está segurando as gratificações por qualidade do serviço prestado pelos profissionais de Saúde. Essa desvalorização do profissional mostra bem as prioridades de um governo que gasta R$ 4 milhões para fazer um calçadão no bairro que agora está infestado por dengue, até porque lá, a prioridade deveria ser o monitoramento e limpeza constante do canal que corta o bairro e quem mora lá sabe bem que isso não acontece. O governo desapropria áreas e abandona no tempo, faz uma licitação de asfalto de algumas ruas por R$ 9 milhões e tem vítima fatal por conta de um mosquito.

O Conselho Municipal de Saúde tem colaborado na apreciação, discussão e aprovação dos documentos que chegam como políticas públicas importante, mas isso é pouco. Temos que acompanhar mais passo a passo cada meta, ação e delegação de responsabilidades que estes documentos exibem. Mas para isso, precisamos da colaboração da população. Venha ser um colaborador do Conselho Municipal de Saúde. Podemos começar convidando amigos e vizinhos para participar das reuniões do Conselho. A próxima será dia 24 de fevereiro. E até lá, tire os 10 minutos para olhar sua casa e mantê-la longe do mosquito da Dengue e continuemos a brigar por políticas públicas transparentes e mais investimentos na Saúde.

Ana Lúcia
Editora do jornal BEIRA-RIO e presidente do Conselho Municipal de Saúde de Resende
analucia@jornalbeirario.com.br

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