QUEM PENSA: Empurrando com a barriga!

Sabemos que dificilmente um governo consegue dar conta de todas as áreas durante seu mandato, nem em dois ou se tivesse três também não conseguiria. Sem dúvida, deve ser um grande desafio tentar manter o equilíbrio dos diversos setores públicos e principalmente não deixar que o cidadão se sinta desamparado ou com seus direitos violados. Mas também penso, que boa parte, da ausência de ação de um governo se dá por dois motivos: primeiro porque todo governante depois de algum tempo tem certeza que não tem mais nada a aprender na política e na vida e se acha um semideus, coisas do poder. E depois, por um erro crasso, comum dos governantes que dispensam planejamento e partem assim, tipo, rapidinho, sabe? Para fazer as coisas, ou dizer que está fazendo. Isso acaba por pular uma etapa fundamental para conhecer os problemas de uma cidade: é o diagnóstico do município e nele, as indicações das vocações e potenciais.

No caso de Resende, gostaria aqui de compartilhar minhas observações, que têm pelo menos muito boa vontade, no que diz respeito ao crescimento sustentável desta cidade que escolhi para morar e criar minha filha. Queria abordar um ponto que considero, infelizmente, completamente, distante das prioridades do governo municipal: o turismo. A falta do diagnóstico e de uma identidade municipal cria expectativas de obtenção de recursos a qualquer preço ou pelo menos, com reduzido esforço político. Muito bom quando as grandes indústrias procuram o município (e junto, isenções de impostos) para se instalar e prometem mundo e fundos para este progresso inevitável. Mas sinceramente, penso que isso demonstra uma incompetência monstruosa, quando um governo fica a mercê das ofertas do grande capital e ainda sob o risco de se tornar refém de um modelo que pode destruir o que a natureza deu assim, de mão beijada pra gente.

Resende tem características favoráveis ao desenvolvimento turístico ecológico e não tem absolutamente nada neste setor. Nem mesmo um guia ou catálogo oficial o município tem. Os apoios são isolados: vão para aqueles que se mobilizam mais e criam canais de acesso, como se o assunto fosse para ser tratado com comedimento e privilégio.

Turismo doméstico? Nunca nem se ouvir falar disso por aqui. Tem gente que nasceu em Resende e mora no centro urbano e não conhece o distrito da Fumaça, e lá, uma das mais belas e ameaçadas cachoeiras da região. Balneários foram abandonados e hoje, seus esqueletos de concreto e aço servem para abrigo de usuários de drogas e assustam quem por perto se aventura a passar. Resente tem uma área rural que teve fazendas lindíssimas e a vantagem de serem muito próximas do centro urbano. As fazendas foram quase todas destruídas, áreas vendidas ou ociosas, as sedes destruídas. Fantasmas de uma história não lembrada pelo poder público e aos poucos, cada vez, mais longe da população.

O Brasil sediará dois grandes eventos mundiais nos próximos anos e não só Resende, mas a região parece completamente alheia ao que está acontecendo. Não vemos qualquer planejamento ou investimentos nesta área para que a região seja atraente aos turistas e ainda, que os diversos segmentos precisem se mexer, é sim, o poder público, o mediador para que essas ações aconteçam e de forma integrada, ou melhor, deveria ser.

Temos visto alguns eventos, como de dança, há poucos dias em Porto Real que trouxe bailarinos do mundo todo. Pergunta se Resende teve esta informação de via poder público? Claro que não. Se bobear nem ficaram sabendo. Ainda que a promoção seja de academias ou do setor privado, os governos precisam apoiar, divulgar e incentivar a população a participar.

Infelizmente, este ano, vemos por exemplo, uma atividade cultural, como o “Observatório da Interrogação” acontecer por esforço e responsabilidade apenas dos artistas da cidade. Um evento que se associado aos outros setores poderiam se tornar mais um canal de turismo doméstico e claro, de atração de turistas para o município. Não temos um calendário turístico, apesar do potencial, de Visconde de Mauá, da Serrinha, da Fumaça, da Vargem Grande e de tantos outros lugares. Até mesmo dentro da cidade, alguns lugares excepcionais, como foi o alto da torre do Surubi foram transformados em nada. Infelizmente. Até que alguém percebe o que está sendo desperdiçado, vai empurrando com a barriga.

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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