QUEM PENSA? Uma boa resposta

Essa semana, não posso deixar de tecer algumas linhas sobre a audiência pública da Lagoa da Turfeira que aconteceu no Espaço Z, em Resende, dia 14, afinal, é quase a coroação de um esforço político que vem tentando, a despeito de uma força governamental, chamar a atenção da sociedade não apenas para o “banhado da Kodak”, mas para a forma gananciosa que os governos (nesse caso, municipal e estadual) tratam o tão cantado “desenvolvimento sustentável”. Tudo lero-lero, conversa mole de político que quer é deixar sua marca registrada em cima da vinda de uma grande fábrica e suposta geração de empregos. Suposta porque não há garantias, ao contrário das isenções de impostos às empresas, celebrados em leis e contratos, de que os empregos façam parte desses acordos de instalação e desenvolvimento a curto, médio e/ou longo prazos. É desproporcional e covarde o número e qualidade de empregos gerados se comparados ao uso (e resultado) no discurso eleitoreiro que esses políticos fazem.

Pois bem, quando há um ano, o movimento popular de Resende, SOS Lagoa da Turfeira, foi para as ruas, fez buzinaço na cidade, protestou com vista à lagoa, denunciou ao Ministério Público, chamou a atenção da mídia nacional e de entidades internacionais, por outro lado, as autoridades municipais, na sua grande maioria, defenderam a ideia de que o movimento era apenas um tititi eleitoral. Fizeram pior: debocharam apostando que o assunto morreria no meio do caminho. Não morreu e a lagoa, ainda agoniza, é verdade, mas com chances de recuperação. Na audiência, disse o biólogo Luciano Lima, pode ser recriada. E eu acredito no Luciano. Foi ele que denunciou a degradação do local, gritou para o extermínio de uma das últimas áreas úmidas do país e a ameaça a biodiversidade local.

Biodiversidade que, ouvi de vereadores e integrantes do governo Rechuan, ser “apenas alguns passarinhos” e que o local nunca teve essa importância, um “poço de esgoto” alguns fizeram questão de afirmar. Ainda bem que a vistoria técnica do Ministério Público Federal e a sensibilidade da procuradora da República, Izabella Brant deram um novo rumo a história que espero tenha um final feliz. A Nissan demonstrou que não vai se colocar contrária aos acordos, cedeu parte de sua área e vai transformar o lugar numa Unidade de Conservação de Uso Sustentável. Que bom! Há esperança!

A fala tímida, já no final da audiência, do presidente da Agência de Meio Ambiente de Resende, Wilson Moura, me pareceu num primeiro momento corajosa e como não podia deixar de ser, envergonhada, pois o município que até o momento não é signatário do Termo de Ajustamento de Conduta que será assinado para recuperar a Turfeira, é na minha opinião, o principal protagonista desta lambança ambiental que se promoveu na cidade de Resende. Moura falou o que devia e podia: “estamos á disposição”. É bom lembrar, que não era ele o gestor da Amar na época da lambança, mas sim Paulo José Fontanezzi, que ainda perambula pelos corredores da prefeitura, participa da reunião de secretários e o governo se nega a informar que função ele ocupa atualmente na Administração, ou seja, mais um abuso escancarado.

O Comitê pela Transparência e Controle Social de Resende disse a que veio na audiência. Boa parte de seus integrantes (que são, na maioria, os mesmos do movimento SOS Lagoa da Turfeira) estavam presentes e a fala do presidente Eliel de Assis Queiroz demonstrou que o grupo não se intimidou e nem se intimidará na luta do que considerar importante para a moralização da coisa pública. A fala do ex-vereador e médico Gláucio Julianelli também serviu para mostrar que não são as dificuldades e o poder político ou econômico que impedirão de surgir pessoas que fazem a diferença para o bem público. O promotor Fabiano Oliveira em suas poucas palavras mostrou que o Ministério Público está atento e à disposição do cidadão. E por fim, a procuradora definiu o objetivo maior da audiência, entre as explicações técnicas e procedimentos ela disse: “o que queremos é salvar a lagoa”. É isso!

Ana Lúcia
Editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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