Caro prefeito José Rechuan, se for possível alguns minutos da sua atenção, peço que leia este editorial, mas longe das possíveis influências e desarma-se, porque o que vou escrever nas próximas linhas, talvez, eu disse talvez, lhe interesse. Na verdade, é uma sugestão de pé de ouvido ou se preferir, elucubrações de uma pessoa que vê a cidade de Resende mergulhando num caos que pode mexer com a governabilidade e isso significa mexer com as expectativas da população. E com certeza, prefeito, nem o senhor, nem eu e penso que ninguém quer isso. Não é mesmo?
As denúncias da última semana que pesam sobre o seu governo e o seu silêncio a respeito me parecem sinalizar as primeiras faíscas da implosão já anunciada. A pressão que o seu governo vem recebendo para que a Administração esteja familiarizada com a transparência, o que nós sabemos, estar muito distante do mínimo, o basta que muitos servidores e até mesmo cargos de confiança começaram a anunciar, o peso dos processos, alguns que o senhor está perdendo prazo de contestação, nem defesa tem apresentado (o que significa isso?), os bloqueios de seus bens (apesar de pouco parecem fazer diferença) em outros dois processos, o governo elitista que o senhor não conseguiu nesses últimos anos sensibilizar, talvez porque o senhor mesmo não quisesse olhar o social, o câncer das “más companhias”- só aqui entre nós, seu governo está cheio daqueles meninos que mamãe recomendaria só cumprimentar – mas o senhor deixou que eles abrissem a geladeira da casa e agora corre risco de beber água batizada, entendeu?
Mas nós dois sabemos, né prefeito, que o senhor não é ingênuo a ponto de afirmar que foi usado e ninguém acreditaria nisso mesmo, mas uma outra coisa também sabemos: sua reeleição ainda, eu disse ainda, lhe dá um estoque de boa vontade, vamos chamar assim, para que suas ações sejam realmente voltadas para o povo dessa cidade. Então, prefeito, a pergunta é: o senhor tem coragem de romper com os compromissos que são flagrantes do seu governo com empresários e grupos políticos que já demonstraram que não merecem confiança?
Sabe prefeito Rechuan, quando em 2009, acreditei que o senhor pudesse ser mesmo uma nova liderança política, uma alternativa às formas de poder que o município assistia há dezenas de anos, nem de longe imaginaria que seu governo daria às costas ao povo que agora. Isso mais do que decepciona; isso demonstra que, talvez, sua habilidade de iludir tenha até sido mais eficiente do que dos experientes políticos. Será? Do contrário, vejamos prefeito: uma denúncia de corrupção como seu governo é apontado nesse momento não foi o suficiente para o senhor abrir os olhos que os desmandos têm limite? O senhor perdeu o controle prefeito. Bate na mesa, esbraveja em seu gabinete, mas continua surdo às vozes das ruas. E nem falo das manifestações dos últimos dias, até porque, estas são passageiras e delimitadas, mas permitiram uma catarse que eclodiu e claro, vai por muito tempo ainda, apresentar reações como às denúncias de corrupção que rondam sua cabeça.
Prefeito, qualquer pessoa comprometida com o bem público, com respeito aos cidadãos e aos seus próprios colaboradores afastaria os citados na denúncia para averiguação. Veja prefeito, a chance que o senhor perdeu ou está perdendo de demonstrar respeito aos cidadãos desta cidade que um dia foi “princesinha” e hoje tá igual aquelas meninas dançando quadrado de oito. Afastar para averiguação é procedimento protocolar, não se admite culpa ou envolvimento, mas lisura na apuração de informações, principalmente quando essas denúncias partem de alguém que colaborou para suas campanhas eleitorais. O senhor sabe que a denunciante é uma pessoa séria e não se exporia se não tivesse realmente como alertar a cidade sobre os possíveis desvios e desmandos que acontecem no seu governo, e se acontecem prefeito, é porque o senhor permite. Afinal, quem é o chefe desse Executivo? Permite, quando se nega a dar uma declaração sobre o assunto, justificando que não recebeu oficialmente interpelação judicial. Permite, quando não viabiliza a transparência das informações e dados públicos cumprindo o que diz a lei, que contratos, convênios, folha de pagamento e todo e qualquer material produzido no poder público, todo e qualquer outro, devem estar disponibilizados no Portal da Transparência (meios digitais) para que o cidadão possam acompanhar onde e como o dinheiro está sendo aplicado.
Prefeito, espero não escrever o artigo “a casa caiu”, mas não é preciso ser engenheiro para saber que as fissuras já estão flagrantes. Prefeito, como ex-eleitora que lhe confiou um voto. Lá em 2008, lembra? Como cidadã que escolheu essa cidade há mais de 25 anos para morar e contribuir; como uma do povo que torce para que os governos se sensibilizem pelas causas sociais e não pelas demandas dos amigos; como profissional ligada à Comunicação; e como apreciadora das questões científico-acadêmicas venho prefeito, usando estas linhas afirmar, ainda é possível olhar a cidade, além de seus interesses de ascensão política. Ainda que sua formação seja pragmática, insisto que por alguns momentos seus olhos se voltem ao idealismo. Não o idealismo romântico, mas aquele que moveu, não a totalidade, é verdade, mas boa parte dos seus eleitores. Coragem Rechuan! Coragem!
Ana Lúcia
Editora do jornal BEIRA-RIO
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