Resende completa 222 anos! Vamos comemorar?

O BEIRA-RIO homenageia Resende em seus 222 anos com a imagem da capa, onde os livros escritos por resendenses ou pessoas que escolheram a cidade mostram um lado muito esquecido pelo poder público que é a cultura. Não a cultura de eventos com shows pops e barulhentos que pouco deixam as pessoas refletirem sobre o que estão vendo ou assistindo. Infelizmente a política cultural no município, com raras exceções se tornou um grande “rodeio” do que a moda e os desejos mercantilistas imediatos impõem.

Mas para muitos que não conhecem a realidade de Resende, a cultura parece dentro dos padrões, mas na verdade, vemos destruição e o aculturamento da história, do patrimônio e dos valores artísticos. Para exemplificar é só ler a análise socioeconômica 2021 do município de Resende elaborada pelo Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ) que, em diversos aspectos, está desatualizada. Em especial, na parte cultural onde certo trecho da página 25, diz: “Espaços culturais – Cine Vitória – Cinema de rua construído na década de 1940, o Vitória já recebeu muitos abraços. Os moradores já se uniram em torno dele para impedir a demolição do prédio, assim como para pedir sua restauração. Além do cinema, o endereço também funciona como teatro, o mais antigo da cidade. O espaço tem capacidade para 1.500 cadeiras. Rua Luiz da Rocha Miranda, Campos Elisios (sic)”.

Como se vê nas afirmações do TCE a verdade ali é parcial, inclusive sobre o bairro onde está localizado o prédio histórico que é Centro e não Campos Elíseos. O Cine Vitória está abandonado há mais dez anos, sendo destruído pelo tempo sem qualquer atividade cultural. Igualmente a praça Oliveira Botelho onde ele está instalado; o local atualmente com uma obra morosa, de responsabilidade do estado, de R$ 3 milhões, tem aparência de um campo de guerra, tudo esburaco, onde quatro operários trabalham uma semana sim uma semana não e cujo projeto os moradores do local e população de um modo geral desconhecem. Não se sabe se a praça manterá linhas que lembrem o “centro histórico” ou tal, como o prédio da Câmara Municipal, violentará a arquitetura local sepultando esse traço da história de Resende. Faltam respeito e transparência.

Por isso, a homenagem aos escritores e escritoras que sempre cantaram esse município a partir da literatura pretende, assim como as histórias contadas, plantar a esperança, só que de anos mais prósperos, éticos e de amorosidade. Obviamente, o poder público anuncia os shows, as inaugurações de obras como parte da comemoração do aniversário de Resende neste 29 de setembro, mas daqui de nossa pequena participação e desejo por uma cidade feliz não podemos nos furtar e indignar com as estatísticas que matam os mais jovens e mais pobres deste município, assim como não podemos deixar de alertar para a não-comunicação da prefeitura de mais cuidados em locais com muitas pessoas, uma vez que a Covid-19 ainda está presente.

Só para se ter ideia, nos primeiros 23 dias de setembro, os registros epidemiológicos em Resende mostram um crescimento de casos de Covid que, neste ano, não se via desde abril quando aconteceu o primeiro óbito do ano; a segunda morte, infelizmente, foi em junho. Em setembro, até agora, são 41 casos confirmados. Desde o início do ano são quase casos 1.400 confirmados conforme registro no Painel de Monitoramento do estado do Rio de Janeiro. O governo municipal deixou de informar os números Covid-19, em agosto do ano passado, mais uma vez falta transparência ativa do município.

Resende tem um IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano de municípios) considerado satisfatório, ou seja, saúde, educação e longevidade mantêm o município entre os primeiros do estado do Rio de Janeiro, mas os dados que alimentam as fórmulas nem sempre levam em consideração a qualidade de vida de quem espera meses por um tratamento adequado nas filas do sistema do SUS, sem qualquer informação, apesar das notícias de propaganda positiva do poder público municipal. A saúde mental no setor público é outra área completamente desestruturada. Os profissionais de consultórios particulares que o digam. Aliás, como cresceu nos últimos quatro anos o número de estabelecimentos de saúde na cidade: são quase 600 exclusivamente privados, ou seja, muitos consultórios e clínicas que as pessoas buscam por terem planos de saúde privados ou porque, como vemos constantemente nas redes sociais, pessoas que estão na fila do SUS resolvem pagar particular, fazendo vaquinhas, pedindo ajuda dos familiares, para tentar sobreviver com um mínimo de qualidade de vida e tratar seus problemas de saúde.

222 anos! Já tivemos momentos piores é verdade, mas também já tivemos excelentes momentos de desenvolvimento com mais humanismo do que percebemos hoje. O que nos move é saber, que esperançosos como somos, devemos continuar seguindo o caminho do meio com ética, com respeito ao próximo sem perder a indignação pelas injustiças que se apresentam, sem deixar de se posicionar quando o descaso pelos mais pobres e vulneráveis é flagrante e quando percebemos que os laços de fraternidade deixam de nos atravessar porque o poder e o dinheiro corrompem e dominam.

Resendenses hoje, dia 29 de setembro de 2023, respirem um pouco mais fundo com gratidão pela terra que nos abriga e aproveitando o dia com amor e muito respeito. Parabéns! E respondendo a pergunta do título deste artigo: Sim, vamos comemorar! A comemoração deve ser união, sempre!

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO

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