Mulheres negras são destaques de documentário em exibição no Espaço Z

Rosenéia vem trabalhando em material didático durante mestrado há 2 anos (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Será inaugurada nesta sexta-feira, dia 12, a partir das 19h, no Shopping PatioMix a exposição “Minhas Raízes”, evento realizado em parceria com o projeto “Memórias Negras Resendenses: A invisibilidade da mulher afrodescendente na história de Resende”, da professora e mestranda em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Rosenéia Terezinha de Oliveira, em parceria com a fotógrafa Jaque Vilela. A mostra, que também estará a partir do dia 16, no Espaço Z, terá uma apesentação especial promovida pelas realizadoras do projeto.

Na próxima quarta-feira, dia 17, será exibido um documentário integrante desse projeto, também às 19 horas, no Espaço Z, para o público. E para entender um pouco mais sobre a produção desse documentário, o jornal BEIRA-RIO entrevistou Rosenéia, que ao lado de Jaque, retrataram 10 histórias envolvendo mulheres negras que vivem em Resende, mostrando as dificuldades delas em uma sociedade conservadora. A autora destaca o objetivo desse trabalho para o município.

– Quando a gente lê a história da cidade de Resende, só encontra os feitos registrados de pessoas que eram os homens brancos, os fazendeiros, comerciantes, políticos, ou então dos escravizados no período do Século XIX que fugiam ou que cometiam crime. E também das pessoas comuns, mas não escravizadas e que também não eram donos de fazenda. Bom, das mulheres brancas, algumas vereadoras nós tivemos no Século XX, mas nesse mesmo século, os feitos das mulheres negras não foram registrados na história de Resende. O objetivo é inserir a história da dessas lideranças femininas negras na historiografia da cidade. E completar a história de Resende com esses registros é muito importante porque a maioria da brasileira é afrodescendente segundo o IBGE – cita Rosenéia.

Para a mestranda, esse trabalho deveria ser apresentado aos estudantes, para que estes possam conhecer pessoas parecidas com elas. “Eles merecem conhecer a vida de pessoas parecidas com eles, que que não eram proprietárias de terra mas que lutaram muito pra propriedade da terra, pela qualidade de vida das pessoas, pela educação para todos e igualdade de oportunidade, mesmo pra todo mundo. E como a história de Resende não registra atos dessas pessoas não brancas, eu resolvi então fazer essa pesquisa no meu mestrado”, diz.

Como produto do mestrado, Rosenéia preparou um documentário no qual entrevista mulheres de Resende lideranças nas suas comunidades e suas áreas profissionais, e pretende usar esse material como um produto didático para uso geral nas salas de aula do Brasil inteiro, e em diferentes disciplinas escolares. “Nas aulas de História, Geografia, Sociologia e Filosofia, quando estiver tratando de assuntos como racismo, gênero, misoginia, machismo e igualdade social, vários assuntos podem ser tratados usando esse documentário”.

No documentário, ela aponta o principal problema entre as entrevistadas, e que motivou o título do trabalho. “De uma maneira geral (o problema comum a essas entrevistadas em relação à invisibilidade) é a desvalorização do trabalho delas. Independente da profissão que exerçam, em algum momento do seu depoimento elas linkam a falta de reconhecimento por parte da sociedade em relação ao trabalho que fazem, muito em função delas serem mulheres negras. Muitas citam outras pessoas que tinham a mesma formação e faziam o mesmo trabalho, mas que alcançaram cargos superiores ou destaque na sociedade e na mídia por serem brancas”, responde.

A mestranda ainda lembra de outras dificuldades enfrentadas no dia a dia por elas. “Outro assunto que destaca bem, principalmente quando se recorda a infância e a adolescência, é a questão da violência doméstica que levou muitas vezes as mães e as avós delas a se separarem do companheiro e terem que criar a família sozinha. Então, muitas relatam essa questão que é atemporal, e a terceira questão é com relação a convivência na escola (o bullying). Aquelas que puderam frequentar na infância e na adolescência deixaram muito claro a perseguição que elas sofriam mesmo estudando em escola pública pelo fato de serem negras”.

Ela antecipa o que o público poderá conferir na apresentação. “É claro que eu vou estar falando de forma resumida da minha pesquisa, do objetivo dela e do resultado. Eu vou ter a apresentação de um monólogo que uma amiga minha gravou que é atriz, a história de uma escravizada em Resende que aconteceu em 1807 e que foi recuperada agora há pouco tempo pela Fundação Getúlio Vargas. É uma história muito profunda e muito bonita, depois terá uma apresentação de dança africana por uma bailarina aqui de Resende, que vai fazer uma homenagem às mulheres que foram entrevistadas”.

Público poderá conferir trabalho de Rosenéia e uma exposição sobre João Cândido no Espaço Z (Foto: Arquivo)

Questionada se seguirá com algum projeto para a valorização da mulher (e também de toda a população negra) após a realização da pesquisa de mestrado, Rosenéia revela que pretende estender o trabalho para outras localidades.

– Eu estou em processo seletivo, me preparando pra continuar os estudos no doutorado. E aí meu projeto lá é fazer o mesmo tipo de trabalho, mas agora abrangendo não só Resende como toda a região Sul Fluminense, todas as cidades, os coletivos negros, o Jongo em Pinheiral e aqui no norte de São Paulo. Ou seja, toda a região do Vale do Paraíba, e aí produzir imagens registros de histórias orais e de memórias dessas pessoas afrodescendentes na história dessa região – conclui Rosenéia, que ainda não tem previsão para a apresentação de seu mestrado.

Esta não será a única atração no Espaço Z durante a data que celebra a luta de Zumbi dos Palmares. No dia 18 até o próximo dia 30, a população poderá conferir a exposição João Cândido e a Revolta da Chibata entre 9 e 17h. As obras também são abertas ao público. Já a exposição do projeto de Rosenéia estará aberta pra visitação no shopping até o dia 20, e no espaço público até o próximo dia 30.

EVENTOS NO PARQUE ZUMBI
O evento promovido por Rosenéia é o primeiro previsto para acontecer na programação especial alusiva ao Dia da Consciência Negra da Prefeitura de Resende, com apoio da Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial. Além dos eventos previstos para o Espaço Z, no dia 20 de novembro (dia em que a data é celebrada) haverá uma programação durante toda a tarde no Parque Zumbi com apresentação musical, de dança e momento inter-religioso.

O Dia da Consciência Negra é celebrado nacionalmente no dia 20 de novembro e faz referência à morte de Zumbi, que foi um líder do Quilombo dos Palmares, localizado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, no Nordeste. Zumbi dos Palmares foi morto em 1695 para preservar o modo de vida dos africanos que conseguiam fugir da escravidão. Confira a programação:

17/11 – 19h no Espaço Z
Palestra com a professora e mestra Rosenéia Terezinha de Oliveira em parceria com a fotógrafa Jaque Vilela – “Memórias Negras Resendenses: A invisibilidade da mulher afrodescendente na história de Resende”

18/11 a 30/11 – De 9h às 17h no Espaço Z
Exposição João Cândido e a Revolta da Chibata

20/11 – Parque Zumbi
14h – Abertura (Orquestra de Berimbau, Momento inter-religioso e Samba com Silvão e banda)
15h30 – Samba com Altair e banda
17h – Aulão de Zumba
17h30 – Capoeira e Danças Urbanas do Z
18h – Baile Charme
19h30 – Encerramento

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