Caixa d’água é instalada em Mauá, mas não está disponível para abastecer população

Como se não bastassem a ameaça ao patrimônio tombado, a falta de infraestrutura adequada às estradas vicinais na zona rural, e por fim, a falta de atendimento à saúde dos moradores, a vila de Visconde de Mauá sofre com mais um problema: a falta d’água. Ou melhor, a não instalação da caixa d’água atrás da praça historicamente tombada que fica logo na entrada da vila.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, o professor de Educação Física e personal trainer William Sampaio (foto), morador da localidade, convoca a população local a fazer nesta terça-feira, dia 5, uma pintura no vestiário, além de citar que há meses a estrutura de uma caixa d’água foi colocada próximo à praça, mas que ainda não começou a abastecer a vila.

A caixa d’água é a mesma que aparece em outro vídeo de Sampaio, publicado no mês de julho deste ano, citando que “Visconde de Mauá agora tem uma caixa d’água de 20 mil litros”, e que “a caixa anterior já não conseguia atender sozinha a população do local, a qual cresce a cada dia”.

– Um excelente ganho para a comunidade! Mas fica meu pedido para que haja preocupação também em aumentar o número de colaboradores que atuam na conservação do local e que tem como missão garantir que haja água para encher as duas caixas d’água.

No entanto, a esperança do morador foi dando lugar à decepção. No vídeo postado na segunda-feira, ele aponta para a caixa d’água ainda não totalmente instalada e abastecida, enquanto chama a comunidade pra ajuda a pintar o vestiário.

– Tudo bem pessoal? Mais uma vez aqui em Visconde de Mauá, vou mostrar pra vocês exatamente os pontos que eu quero levantar com cada um de vocês. Está vendo o vestiário lá na ponta? Amanhã, terça-feira, uma galera vai se reunir aqui pra pintar esse vestiário. Então quem puder está convidado a auxiliar, ali a gente pode ver algumas casas do século passado, a nossa igreja centenária. E aqui está a nossa caixa dágua no local, mas não instalada. Então, a questão é até quando vai ficar mais um elefante, que dessa vez não é branco, é azul, já que a caixa é azul. Até quando vai ficar lá sem a instalação (completa)? Já se passaram meses e a instalação não aconteceu.

Perguntado pelo jornal BEIRA-RIO se havia algum prazo para o começo do funcionamento da caixa d’água, o personal trainer revela que, mesmo havendo a instalação da caixa d’água em um local de mata fechada, a mesma foi colocada há quase três meses e não foi colocado um prazo para completar a instalação. “A região sofre com a falta d’água. Visconde de Mauá cresceu muito e questões como a captação e armazenamento d’água continuam com a mesma estrutura do século passado, não acompanha o crescimento”.

Segundo ele, no início de julho uma esperança foi lançada aos moradores das vilas de Mauá e do Lote 10 com a chegada de uma caixa d’água, que visa suprir a demanda de abastecimento de água nas vilas. Entretanto, até o exato momento a instalação e o abastecimento não foram concluídos, estando a tampa da caixa jogada ao lado em meio a mata.

Moradores ainda aguardam o retorno da obra de instalação da nova caixa d’água 

– Nossa região cresceu muito nas últimas décadas e essa atenção ao abastecimento d’água é de suma importância para a qualidade de vida de seus moradores. Este é mais um alerta para que seja resolvida logo tal questão e que possamos passar a focar em outras necessidades do local (despoluição do Rio Preto, construção de áreas de lazer para os moradores, etc.) – completa.

Nos últimos dias, o morador entrou em contato com um dos integrantes da Câmara Temática de Recursos Hídricos do Parque Estadual da Pedra Selada (PEPS), localizado na região de Visconde de Mauá. Segundo esse integrante, para que a caixa possa abastecer a localidade, haveria a necessidade de água suficiente, o que não tem sido possível devido à gravidade da crise hídrica enfrentada no país, inclusive na região. E que a Câmara tem realizado ações para amenizar o problema, já que a região, para ele, “cresceu de uma maneira assustadora e nada conseguiu acompanhar esse avanço, em especial a captação d’água”.

A equipe do jornal entrevistou o coordenador da Câmara Temática de Recursos Hídricos (CTRH) do PEPS, Marcelo Brito. Ele confirmou que a CTRH tomou conhecimento desse caso através de acompanhamento realizado basicamente através do depoimento de moradores da vila de Mauá.

– Durante um bom tempo, depois de toda a divulgação feita nas redes sociais da prefeitura, nós ficamos com a mesma impressão dos demais moradores, de que a caixa d’água já havia sido instalada e ativada. Quando começamos a receber informes de que ainda estaria ocorrendo ocasiões de falta de abastecimento, é que fomos verificar e embora nós ainda não tenhamos ido a campo registrar e confirmar o que está ocorrendo, temos a informação de que a caixa d’água não estaria ativada. Que ela só foi instalada sobre uma base de concreto e que depois disso ninguém sabe quando que, o seu uso ocorrerá de fato – citou Marcelo.

DESVIOS DE ÁGUA NA REGIÃO DE MAUÁ
O problema da não instalação da nova caixa d’água na vila de Visconde de Mauá é apenas mais uma das demandas da CTRH, que é carente de recursos humanos e por ser subordinada ao Conselho do PEPS, tem sua área de atuação limitada, mas que ainda assim constatou problemas ainda mais graves.

– Por regimento, nós devemos atuar somente nos limites do Parque e sua Zona de Amortecimento. Como a sede do Parque é situada na vila de Mauá e a área (território) de reposição de água para a microbacia que abastece a vila, está praticamente toda inserida nos limites citados, nós começamos a atuar no sentido de acumular informações que nos possibilitem atuar. Então, constatamos que toda a área de reabastecimento encontra-se completamente desprotegida, servindo de pasto para criação de gado e sem a proteção de mata ciliar – destaca o coordenador.

Ele ainda acrescenta que o proprietário da terra estava solicitando licença ao município de Resende para a construção de condomínio com 41 casas justamente sobre essa localidade. “A licença foi negada pela APA da Serra da Mantiqueira/ICMBio, mas para surpresa de nós todos, o Inea concedeu uma outorga para uso de água desse empreendimento, e o empresário começou a percorrer os órgãos licenciadores estaduais e municipais argumentanto que se o Inea havia concedido a outorga, ele poderia receber o licenciamento para instalação”.

Ainda de acordo com Marcelo, a CTRH entrou com processo junto ao Inea questionando os critérios e pedindo acesso aos estudos que resultaram na emissão desta outroga. Já se passaram seis meses, e o Inea não responde. “A Câmara encaminhou a questão para o Ministério Público solicitando seu auxílio e estamos no aguardo de resposta”.

Além do empreendimento, o coordenador diz que existem uma fabrica de cerveja e uma pousada “puxando” água da mesma microbacia.

– A fabrica possui uma outorga e existe um hidrômetro que controla o consumo deles. Mas a pousada, desvia um volume excessivo de água e o Inea, em uma decisão que está sendo questionada por nós no Ministério Público, afirma que eles não precisam de outorga pois seu uso seria “insignificante”. A dita pousada possuia um chafariz ornamental em funcionamento 24 horas por dia, que foi desativado depois de nossos questionamentos, mas que pode ser reativado a qualquer momento, porque a instalação física ainda está lá.

Todo esse trabalho de fiscalização é realizado através de relatórios de reuniões que esclarecem melhor a situação, além de relatórios de vistoria realizada pelos gurarda-parques do PEPS com a constatação dos problemas na área de reposição da microbacia. “Temos cópias dos pedidos de licenciamento do condomínio. Cópia do documento de outorga. Cópia dos ofícios enviados ao Inea, Amar, Ministério Público e PEPS. Cópia do documento recebido da Superintendencia do Médio Paraíba e contestado por nós com relação a outorga de uso de água para a pousada. Nós só não dispomos de imagens comprovando as ocorrências de falta de água na vila (por falta de recursos humanos).

Além disso, Marcelo completa que com relação ao Ministério Público “foi aberto um Inquérito Cívil, para confirmar nosso relato e fazer apurações junto ao Inea e Amar”.

Marcelo também confirmou que deverá estar nos próximos dias no local onde se encontra a caixa d’água para verificar as condições na qual ela se encontra atualmente, assim que o tempo melhorar na região.

A equipe do jornal BEIRA-RIO entrou em contato com os responsáveis pela obra da caixa d’água. Segundo um dos encarregados da Secretaria de Obras e Serviços Públicos designado para o trabalho através da Sanear, a obra de instalação foi interrompida devido a falta de materiais, que seriam os tubos e registros, não tendo a ver essa interrupção devido a falta d’água. Ainda assim, a estimativa é de que até o final do mês a obra de instalação seja retomada e concluída.

Fotos: Reprodução/Redes Sociais

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