Diretora de escola municipal é exonerada por questões políticas em Resende

A postura questionadora contra o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), durante a aplicação da primeira dose da vacina contra a Covid-19 em professores e outros profissionais da educação, realizada no dia 28 de abril, em Resende, levou a Secretaria de Educação a exonerar a então diretora da Escola Municipal Noel de Carvalho, Rossilene Albuquerque, na última terça-feira, dia 25. A exoneração pegou os funcionários de surpresa e vem gerando alvoroço nos profissionais da escola.

O jornal BEIRA-RIO entrevistou a ex-diretora nesta sexta-feira, dia 28, e ela confirmou a exoneração. “Eu fui chamada na última terça-feira para ir sozinha ao gabinete da secretária de Educação, sem os diretores adjuntos, para me comunicarem sobre a exoneração. No dia, não me foi dada nenhuma explicação técnica ou administrativa, que simplesmente me exoneraram. Questionei se não seria por questões politicas e a secretária não me respondeu, mas também não me desmentiu”, disse.

O anúncio da exoneração foi feito pela Secretaria de Educação, por solicitação da própria ex-diretora, aos profissionais da escola, no mesmo dia. Rossilene diz que a dispensa não aconteceu por questões administrativas pelo fato da escola ter se destacado com uma nota alta no Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (IDEB) no município no ano de 2019. “Mais tarde, naquele mesmo dia, ela (a secretária Rosa Frech) acabou admitindo que minha exoneração realmente se tratava de questões políticas”.

Rossilene aponta o fato de ter se manifestado no dia em que os profissionais da educação receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19, no final do mês de abril, como principal motivo. Ela aproveitou para realizar uma manifestação política contra o presidente Bolsonaro. “Eu protestei levando no dia da vacinação um cartaz escrito com a hashtag Fora Bolsonaro (#ForaBolsonaro), e também gritei ‘Fora Bolsonaro’. Isso acabou sendo uma justificativa para a minha exoneração, pois meu pronunciamento público, na condição de gestora de escola, diante do prefeito (Diogo Balieiro) e da secretária, eles consideraram que isso não foi um gesto coerente com o meu cargo”, citou.

A ex-diretora relata que sua luta no combate ao vírus não se resumiu apenas ao protesto, mas também no apoio ao ato dos funcionários da escola no mês passado contra o retorno das aulas presenciais em Resende, da qual os mesmos publicaram uma carta nas redes sociais. “Eu me pronunciei publicamente no mês passado, quando Resende apontou um aumento no número de casos de mortes por Covid-19 e o município foi classificado na bandeira roxa do Mapa de Risco, contra a retomada das aulas. Eu achei que não era o momento para esse retorno, e que a gente poderia continuar seguindo em modo de ensino remoto, como vinha acontecendo no ano passado”.

A exoneração foi considerada injusta pela presidente da Associação dos Profissionais de Educação de Resende (APMR), Cláudia Luisa Oliveira, uma vez que Rossilene era uma figura importante na defesa dos funcionários do Noel de Carvalho.

– A exoneração da Rossilene em plena pandemia após ter apoiado a comunidade escolar em favor do ensino remoto até que todos fossem vacinados, devido ao risco de contaminação, demonstra ter grandes indícios de tratar-se de perseguição política. Consideramos que foi uma exoneração injusta e antidemocrática, sem sequer passar pelo conselho da Escola, nem pela comunidade Escolar. A escola foi comunicada sobre sua exoneração e não consultada. (…) A exoneração de uma diretora sendo por questões políticas, é uma forma de passar um recado aos demais diretores, uma forma de “calar a boca” e faz parte de um projeto de modelo de política que está em curso não só em Resende, mas no Brasil – criticou a presidente.

A presidente da APMR foi informada pela ex-diretora, assim como esta relatou para o jornal que após o retorno das aulas presenciais com 60% do total de alunos da unidade escolar em toda a Resende, a instituição teve o registro de três casos positivos de funcionários com a Covid-19 duas semanas antes da exoneração de Rossilene, e mais um no início desta semana, obrigando a escola a fechar as portas aos estudantes por uma semana na parte da manhã. Até o momento dois deles seguem hospitalizados, um deles por causa das complicações provocadas pelo vírus.

– A APMR foi informada pela ex-diretora que tem uma orientadora internada há quase um mês com Covid, outro funcionário foi internado esta semana em Volta Redonda, e outra funcionária estava com o vírus, e perdeu a mãe devido ao contágio. Ou seja, é um quadro agravante nesta pandemia. Exonerar uma diretora que está defendendo sua comunidade escolar é um retrocesso nesse processo democrático – conclui Cláudia Luisa.

ESCOLA ALERTOU SOBRE RISCO DE CONTÁGIO
Em abril deste ano, todo o corpo docente e outros funcionários do Noel de Carvalho publicaram uma carta endereçada a secretária de Educação, Rosa Frech, após a realização de assembleias nos dias 8 e 9 daquele mês por esses profissionais sobre assuntos pertinentes ao risco epidemiológico na escola. Na carta, é destacada a situação crítica pela qual passavam na ocasião as unidades de saúde de Resende e do estado, que segundo os dados da Mapa de Risco da Covid do Rio de Janeiro, registravam os piores índices de contágio, internações e mortes desde o início da pandemia, nos meses de março e abril.

Os educadores também criaram uma página no site Charge.org, onde há um abaixo-assinado digital pedindo a volta de Rossilene a direção do Noel de Carvalho, e até às 17h desta sexta-feira, dia 28, já conta com 510 assinaturas. Para participar e assinar, é só clicar aqui.

O jornal BEIRA-RIO entrou em contato com a Secretaria de Educação de Resende para que a mesma se pronuncie a respeito do motivo da exoneração de Rossilene, mas até o momento não obteve resposta.

Fotos: Reprodução/Redes Sociais e Arquivo

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