Profissionais da Educação criticam formato de retorno às aulas em Resende

A Secretaria de Educação de Resende definiu neste mês que o início das aulas será no próximo dia 8 de fevereiro. Em reunião feita com a comissão multidisciplinar composta pela Secretaria de Estado de Saúde, pelas Secretarias Municipais de Educação, Saúde e Assistência Social e Direitos Humanos, pelo Educar e pelo Conselho Municipal de Educação, a prefeitura definiu o formato adotado para o retorno. Com isso, a Rede Municipal de Educação terá o retorno das aulas presencias com 30% do efetivo, adotando um sistema híbrido, que mistura as aulas presenciais com o complemento de atividades online.

A notícia, no entanto, não tem acordo com os professores da rede municipal e outros profissionais da Educação. Em entrevista ao jornal BEIRA-RIO, a presidente da Associação dos Professores Municipais de Resende (APMR), Cláudia Luísa de Oliveira, explica que a associação recebeu a informação com perplexidade, surpresa e indignação, devido ao período crítico com o aumento de contaminados e aumento das mortes pela covid-19.

— Não tivemos conhecimento de informações sobre o retorno no site da prefeitura. O momento de reabertura das escolas deve ser orientado por análises epidemiológicas, que indiquem redução contínua de nos casos de Covid-19. Em nenhum órgão da prefeitura ou canal de comunicação foi divulgada essa análise epidemiológica e os boletins oficiais cada vez mais relatando o aumento de contaminados e aumento de mortes, portanto, conforme orientação do protocolo, não deveria retornar as atividades presenciais.

A presidente aponta falhas na criação do protocolo preparado para as aulas no sistema híbrido. “O primeiro ponto que observamos é que esse protocolo não foi elaborado com o Conselho de Saúde que representa o controle social. Destacamos que não temos conhecimento das orientações com análise epidemiológica que indiquem a redução contínua de novos casos de Covid-19. O documento não prevê fiscalização para que todo esse protocolo seja cumprido. Como e quem vai realizar a fiscalização?” – questiona.

Cláudia critica a questão do transporte escolar, que costuma causar muitas aglomerações. “Orientação é superficial, considerando que está previsto o retorno de até 100% dos alunos em 60 dias. A maioria dos alunos faz uso de transporte público e é de conhecimento de todos que em horários de pico causam muita aglomeração e os ônibus ficam super lotados. O motorista não tem condição de fiscalizar se alunos usam ou não as máscaras”.

Cláudia relembra que não houve participação dos professores no processo de elaboração do protocolo, e que ainda faltam equipamentos para realizar as aulas em ensino remoto, como parte do sistema de ensino híbrido.

— Em relação ao ensino híbrido, não foi disponibilizado para os professores equipamento necessário para a realização das aulas em ensino remoto. Os professores investiram em equipamentos e serviços para realizar as atividades pedagógicas. Considerando que a quarentena começou no mês de março de 2020, a prefeitura teve tempo hábil para pesquisar e providenciar equipamentos para os professores e para os alunos. Tempo para dar retorno à comunidade escolar sobre a continuidade das aulas. Além disso, os professores não participaram do processo de elaboração. O documento foi elaborado com base em experiências de outros países, mas não são citados os países nem as condições de cada país, nem o total de infectados e mortos.

O assunto seguirá sendo discutido pelos associados nos próximos dias, conforme adiantou a presidente. “Foi feita uma assembleia virtual no dia 26 de janeiro com a presença de 100 associados, onde foi deliberada uma reunião com a Secretária de Educação e com uma comissão de professores junto com a diretoria da APMR, para encaminhar a solicitação de não retornar as aulas presenciais”, citou Cláudia, destacando que a decisão do não retorno foi unânime entre a classe dos profissionais da Educação.

— Os professores trabalharam durante o ano de 2020 em home office através do ensino remoto, e portanto foi feito o encaminhamento que as aulas presenciais só comecem após a vacina para este profissionais, completa.

PRIORIDADE É PARA OS ÚLTIMOS ANOS
De acordo com a secretária de Educação, Rosa Frech, a prioridade para as aulas presenciais será dada aos alunos que estão nos últimos anos escolares oferecidos por cada unidade. “Estes alunos cumprirão uma carga horária presencial de duas horas e 40 minutos e terão um complemento de forma online com uma carga horária estabelecida pelo Ministério da Educação. Neste processo, algumas unidades escolares adotarão um sistema de rodízio, visando atender com as devidas medidas sanitárias as turmas com aulas presenciais. Vale lembrar que os responsáveis terão que assinar uma autorização para que o aluno tenha aulas presenciais”.

Além disso, foram preparadas duas alternativas para os alunos que não possuem internet em casa: na primeira, os alunos sem internet terão um horário alternativo para usufruir da internet e computador da escola mediante agendamento. A outra possibilidade é que a escola entregue o material impresso ao aluno.

Antes de definir o modelo de ensino, a Prefeitura começou a colocar em funcionamento de uma série de medidas sanitárias para promover um ambiente o mais seguro possível para os alunos. Entre as medidas previstas, estão o uso de máscara e todos os demais itens de higiene para todos os alunos; estabelecer horários de entrada e saída dos alunos considerando a higienização adequada dos ambientes no intervalo entre os turnos; aferir a temperatura dos alunos e profissionais de Educação na entrada da escola; e obedecer aos critérios de distanciamento entre os alunos, com, no mínimo, 1,5 metro. Na organização espacial da escola, as unidades farão uma marcação de lugares nos refeitórios com horários adequados para evitar a formação de aglomerações. Durante os dias 3 a 5 de fevereiro, haverá reuniões junto aos professores da Rede Municipal de Educação e os responsáveis pelos alunos, que serão avisados pela escola.

Dia 1º de fevereiro os profissionais de Educação de Resende realizarão uma assembleia virtual e não descartam uma deliberação de estado de greve até que sejam ouvidos sobre o retorno presencial das aulas.

Foto: Carina Rocha/Divulgação PMR

Você pode gostar

One thought on “Profissionais da Educação criticam formato de retorno às aulas em Resende

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O limite de tempo está esgotado. Recarregue CAPTCHA.