Funcionário de montadora ganha “vaquinha” para conseguir nova cadeira de rodas

Cleyton e Jéssica vivem há três anos juntos e convivem com diferentes deficiências no dia a dia

O auxiliar administrativo Cleyton de Paula Nogueira, de 27 anos, tem uma rotina semelhante à maioria dos resendenses. Trabalha em uma montadora da região, vive junto com sua companheira, e nas horas vagas costuma sair de casa com ela. Mas também enfrenta as mesmas dificuldades sociais e financeiras que boa parte da população assalariada.

Uma das diferenças, no entanto, está no fato de ser cadeirante desde os 19 anos. “Comecei a perder os movimentos das pernas aos 8 anos por causa de uma polineuropatia congênita (doença que provoca disfunções no sistema neurológico), com 17 anos já dependia de muletas para caminhar. Como a minha irmã mais velha (que morreu com 45 anos) já tinha essa doença, eu percebi que a cadeira de rodas me daria maior conforto para me locomover”, revela o jovem.

As limitações, no entanto, nunca impediram Cleyton de estudar ou trabalhar. Formado em Publicidade e Propaganda pela Associação Educacional Dom Bosco (AEDB), ele entrou na empresa onde trabalha na condição de aprendiz durante dois anos, e depois foi efetivado. “Não foi pelo projeto do aprendiz que fui contratado na verdade, e sim por causa de alguns amigos que fiz na empresa. Eles foram importantes para que eu pudesse conseguir o meu emprego lá. Porém, eu acredito que teria chances também de garantir meu emprego pelo processo seletivo, mesmo sendo difícil”.

E por ter uma rotina muito ativa, tanto no trabalho quanto nas horas de lazer, Cleyton precisa do auxílio da cadeira de rodas, que herdou da irmã mais velha. “Toda vez que preciso de realizar a manutenção na cadeira, eu sou obrigado a esperar que um funcionário da tornearia que me atende finalize o conserto dela. Com isso, minha rotina fica alterada, pois preciso da cadeira consertada”, conta o auxiliar administrativo, que teve que adaptar a cadeira para as medidas de seu corpo.

Há três anos, Cleyton vive junto com a desempregada Jéssica Alves Maciel, também de 27 anos. Ela é deficiente visual desde que nasceu. “No começo, eu tinha baixa visão, mas depois de sofrer dois acidentes que comprometeram minha visão, fiquei cega aos cinco anos”, conta Jéssica, que mal conseguiu estudar em uma escola regular na infância.

Eles se conheceram no Centro de Educação de Deficiência Visual de Resende (Cedevir) na adolescência, quando Cleyton passou a ser atendido devido a problemas na visão em decorrência de sua doença. “Nos conhecemos lá e mantivemos contato por algum tempo. Como a Jéssica vivia com a família em Bocaina de Minas, eu sempre viajei muito pela região de São Lourenço e Bocaina, e um amigo me ajudou a reencontrá-la na cidade onde mora, depois que ficamos nove anos sem nos ver”, acrescenta Cleyton.

Alfabetizada dos 5 aos 13 anos em braile, Jéssica foi para o Ensino Médio, depois cursou o Ensino Superior também na AEDB, e se formou em Recursos Humanos. Desde então, nunca conseguiu arranjar emprego. “Já enviei currículos para todos os lugares, e nunca fui chamada sequer para uma entrevista. Acredito que para o cego é mais difícil arranjar emprego por aqui”, diz a jovem.

Dessa forma, tanto Cleyton quanto Jéssica trabalham com revenda de cosméticos e semijóias, já que eles recebem pouco para sobreviver e manter os recursos necessários à acessibilidade de ambos. Eles lamentam que ainda haja tantas dificuldades para encontrar nos produtos de acessibilidade disponíveis no mercado a qualidade necessária.

– Minha companheira precisa de uma máquina de escrever em braile nova, já que a dela estragou e uma outra custa mais R$ 2 mil. O mercado para os deficientes infelizmente não tem um investimento sério na qualidade. Há um tempo atrás, assistindo uma reportagem na TV, descobri que as todas as marcas de cadeira de rodas que temos no mercado foram reprovadas pelo Inmetro.

Mesmo alfabetizada no braile, Jéssica conta que depende do celular para fazer a leitura e escrita de mensagens, utilizando um aplicativo especial, disponível somente nos celulares iPhone, que são os mais caros do mercado. Ela comenta sobre o desinteresse dos deficientes em aprender e usar o braile. “No caso de quem nasceu cego ou perdeu a visão na infância, a pessoa ainda se alfabetiza, mas quem fica cego depois de anos não possui o mesmo interesse em aprender, pois acha mais fácil usar aplicativos próprios para leitura, devido às dificuldades em encontrarmos informações em braile”, justifica.

Devido à pouca renda, o casal também mora na casa da família de Cleyton, ao lado da mãe, da irmã caçula (que não tem a deficiência do irmão) e de uma sobrinha do auxiliar administrativo. “Se está difícil comprar uma cadeira com as medidas necessárias para mim, e que não seja elétrica (pois ele acredita que esse tipo de cadeira não o estimularia a se locomover sozinho), imagine comprar uma casa!”, completou Cleyton.

COLEGA FAZ “VAQUINHA” PRA AJUDAR
O auxiliar administrativo tem entre os amigos que costumam ajudá-lo na empresa onde trabalha a assistente executiva Francine Almeida. Colega de trabalho de Cleyton desde o tempo em que ele era aprendiz, sempre trocavam meia dúzia de palavras nas dependências do trabalho. “Um dia, a Fran viu que a minha cadeira está velha e quebrada. Foi então que ela me perguntou qual seria o valor médio de uma cadeira de rodas e se valia a pena comprar se conseguisse arrecadar dinheiro”, relembra.

Francine conta como teve a ideia de ajudar o colega cadeirante. “Trabalho na mesma empresa que o Cleyton e em um setor próximo. Ele ia na minha mesa no intervalo do almoço conversar um pouquinho quase todos os dias. Eu mudei de setor, mas sempre que temos oportunidades colocamos as conversas em dia. Eu o admiro pois é muito competente e esforçado. Com o passar do tempo fui observando que a cadeira dele estava precisando de manutenção ,rasgando,e os pneus muito gastos,então perguntei se ele não pensava em trocá-la”, recorda.

Foi então, que no último dia 4, ela criou uma “vaquinha” na internet, tendo a exata noção das dificuldades financeiras que o colega de trabalho passa no dia a dia para se locomover, para arrecadar recursos e ajudar Cleyton a comprar a nova cadeira de rodas. “Ele me disse que era seu sonho (ter uma nova cadeira), mas que era sob medida e que ficava cara. Então eu comecei a pesquisar uma maneira de ajudar e descobri através desse site. Fui informá-lo e pedir autorização para começar a campanha. Estamos aí em em plano vapor”,conclui.

Quem quiser contribuir, ainda dá tempo para ajudar com qualquer quantia para o site Vakinha. Segundo dados desta segunda-feira, dia 16, a página conseguiu arrecadar quase 70% dos recursos previstos para completar R$ 4,4 mil, que é a meta final.

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